Autárquicas Tourém. “População manifesta-se pouco para não arranjar confusões com os vizinhos”

A freguesia de Tourém é um bastião socialista há 30 anos. Em 2017 a Direita praticamente desistiu de tentar mudar isso.

112. Podia ser o número de socorro, mas não é. É, sim, o número de habitantes da terceira freguesia mais pequena de Portugal. Dividida entre 57 homens e 55 mulheres, a freguesia de Tourém, localizada no município de Montalegre, distrito de Vila Real, é a única povoação portuguesa a norte da serra do Gerês.

Politicamente, o PS domina com distinção. Se em 2013, com 85 votos, teve 65,3% dos votos – um número considerável –, em 2017, com menos dois votos, aumentou a sua percentagem para uns fabulosos 75,4%. A matemática parece errada, mas não está. A razão é a simples: mais abstenção à direita.

A direita de Tourém, unida numa coligação PSD/CDS, em 2013, garantiu 31,5% com apenas 41 votos. Todavia, chegados a 2017, os seus 18 votos deram-lhe apenas 16,3%. Considerando que o número de inscritos em 2013 é o mesmo do de 2017 (186) e que tanto o PS como PCP perderam votos da primeira eleição para a segunda, conclui-se que, de 2013 para 2017, a direita cansou-se e, ou deixou de ir votar, ou votou em branco (cujos votos aumentaram de 1 para 7). Quanto à abstenção da freguesia em 2017, não é particularmente significativa: 40,9%, inferior em 4,1% à nacional, que foi de 45%.

População não quer conflitos com os vizinhos Desde o início dos anos 90 que Tourém anda, politicamente, de mão dada com o Município de Montalegre. Em ambos os lugares – freguesia e concelho – o Partido Socialista governa há 30 anos ininterruptamente.

O atual presidente da junta, Jaime Afonso Barroso, não se recandidatará. Não obstante o seu afastamento, parece ter sucessora: Leonor Vila, enfermeira, será candidata à freguesia de Tourém pelo PS. Enfrentando-a estará outra mulher, candidata pelo PSD: Maria de Fátima Fernandes.

As eleições para a Junta de Freguesia de Tourém são ‘chapa um’: os dois maiores partidos do país, um à esquerda, outro (mais) à direita, tentam conquistar a única povoação portuguesa a norte de Gerês – e ai de quem se meta pelo meio! Apesar do cenário digno de Game of Thrones, uma popular de Tourém relata ao i que anda “tudo calmo e sereno”, explicando que a “população de Tourém se manifesta pouco para não arranjar conflitos com os vizinhos”.

Não obstante a aproximação das autárquicas, “não se fala” e “não há cartazes”, descreve. Apesar dos “senhores do PSD de Montalegre andarem pelas portas de Tourém” – algo que os do PS não fizeram –, confessa ainda não ter ouvido quaisquer propostas, de um lado ou de outro. 

No seu entender, os votos de Tourém “não fazem grande diferença” para as contas em Montalegre. Isto, claro, porque a população de Tourém decresce de ano para ano: “Tem saído muita gente. Aqui há à volta de 105, 107 permanentes. E se calhar mais de 40 têm todos acima de 70 anos. Não há praticamente miúdos. Bebés não há. O mais novo tem 5 anos. Na escola – da pré-primária ate ao 12º ano – só há três miúdos. Não se renovam gerações”, lamentou a residente.