Nova Iorque. Centenas de resgatados da fúria das águas

Pelo menos 14 pessoas morreram, algumas encurraladas em caves inundadas. Mais uma vez, aponta-se o dedo às alterações climáticas. 

Nova Iorque está pela primeira vez sob alerta de enxurrada, com as ruas alagadas e pelo menos 14 pessoas mortas neste estado, em Nova Jersey e na Pensilvânia, enquanto apartamentos em caves eram inundados de um momento para o outro, deixando os moradores encurralados.

As chuvas fortes causadas pelo furacão Ida – que até perdera força antes de atingir estes estados, após devastar o sul do país, em particular o Luisiana e o Mississípi – tornaram-se um pesadelo, que mais uma vez nos recorda que o futuro, sob ameaça das alterações climáticas, pode ser de sucessivos desastres deste género.

As histórias que vão chegando são terríveis, como a de uma das vítimas mortais em Nova Jersey, um idoso de 70 anos varrido pela força das cheias. “A família dele foi salva, estavam todos dentro do mesmo carro”, relatou o presidente da Câmara de Nova Jersey, Hector Lora, ao canal local WCBS-TV. “Infelizmente, o carro foi submerso e os bombeiros, que estavam a ser arrastados para debaixo do veículo não conseguiram tirá-lo para fora”.

Milhares de nova-iorquinos ficaram sem eletricidade e as imagens de estações de metro submersas, divulgadas nas redes sociais, contribuíram para a sensação de choque. Linhas de metro viraram algo semelhante a um rio e transeuntes foram filmados de pé, em cima de assentos, tentando sair de carruagens cheias de água, tendo as autoridades suspenso o serviço de metro em toda a cidade.  

“Estamos a enfrentar condições meteorológicas históricas, com chuva recorde por toda a cidade, cheias brutais e condições perigosas nas nossas estradas”, alertou o presidente da Câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, perto da meia-noite de quarta-feira.

Não espanta que Nova Iorque inteira tenha ficado sujeita a uma proibição de circulação, em vigor até às 17h de quinta-feira (22h em Portugal continental), com exceção de veículos de emergência. Mesmo assim, centenas de nova-iorquinos foram surpreendidos pelo mau tempo, tendo de ser resgatados de carros em estradas e estações de metros alagadas, por vezes com recurso a barcos de borracha.  

Já na Pensilvânia, o número de resgates chegou aos milhares, estimam as autoridades. “Algumas casas estão três quartos, senão mais, debaixo de água. Nunca vi nada do género”, disse em conferência de imprensa Mark Barbee, presidente da Câmara de Bridgeport. 

Entretanto, no aeroporto internacional Newark Liberty, um dos principais da área metropolitana de Nova Iorque, todos os voos tiveram de ser cancelados devido a cheias graves. “O aeroporto virou piscina”, escreveu um utilizador do Twitter, como descrição de um vídeo que mostrava isso mesmo. 

Tragédia global A situação nos EUA tornou-se tão grave que o Presidente Joe Biden teve de anunciar medidas para evitar o risco de escassez de combustível e aumentos dos preços de bens essenciais face ao furacão Ida, devido aos estragos que causou no sul do país. 

“É importante perceber que a região atingida pelo Ida é o centro chave da produção de petróleo da nossa nação e da infraestrutura de refinação”, salientou o Presidente americano, prometendo utilizar as reservas estratégicas de gás para manter o combustível a fluir nas bombas.

Entretanto, outros notam que, a longo prazo, a preocupação terá mesmo de ser diminuir a dependência deste género de combustíveis fósseis, para evitar o aumento da frequência de catástrofes.