Turismo começa a ver luz ao fundo do túnel

Ainda sem números oficiais, Algarve, Alentejo, Centro e Porto e Norte estimam que este verão tenha sido bem melhor do que o de 2020. As expectativas foram excedidas. Agora, é esperar que assim continue.

Os passos de recuperação no setor do turismo vão sendo dados de forma segura e os mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos ao mês de julho não deixam margem para dúvidas: o setor do alojamento turístico registou 1,6 milhões de hóspedes e 2,6 milhões de dormidas. Os valores não estão aos níveis de 2019 mas mostram uma clara recuperação em relação ao ano 2020. O destaque vai claramente para o mercado interno cujas dormidas registaram um crescimento de 6,4% face a 2019, antes da pandemia.

Como correu este verão que está prestes a terminar? O Nascer do SOL falou com vários responsáveis do setor e a opinião é praticamente unânime: apesar de ainda não existirem dados oficiais, o verão correu melhor e, apesar da procura externa ter registado uma tímida subida, o principal agradecimento vai para os portugueses que fizeram o verão valer a pena.

‘Este verão foi melhor que o do ano passado’

João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve, defende que os dados do INE e o feedback dos operadores turísticos apontam nesse sentido. A título de exemplo, «Julho teve um acréscimo de mais de 50% de dormidas em hotel na região», diz ao Nascer do SOL, apesar de estes valores ainda serem «muito abaixo de 2019». E deixa a ressalva: «Temos que nos lembrar que só em julho, com o acumulado de janeiro a julho, é que este verão suplantou o ano anterior que foi um ano muito mau».

Mas, de forma geral, não há dúvidas que «correu muito melhor que o esperado», claro está, «muito por causa da forte afluência portuguesa à região».

« O mercado nacional – à semelhança do que já tinha acontecido no primeiro semestre e também em julho – foi claramente o mercado que mais contribuiu com presença no Algarve», diz João Fernandes. Já a procura externa continua «naturalmente, face àquilo que é um ano normal ou face a um ano recorde como 2019 ainda a consolidar uma retoma».

Ainda assim, diz, agosto já registou alguma procura externa, com destaque para os espanhóis e alguns países francófonos como é o caso de França, Bélgica, Suíça e também Luxemburgo. E até a Holanda demonstra «sinais francamente bons de recuperação». Do lado contrário, o Reino Unido, a Alemanha e a Irlanda ainda tiveram «uma fraca procura» no mês passado. «Apesar de tudo, o Reino Unido e a Irlanda vieram a aumentar, ao longo de agosto, o número de passageiros desembarcados», acrescenta o responsável.

Sempre de mãos dadas com o turismo, também a restauração teve, em agosto, um mês «especialmente bom» com a ajuda dos mercados espanhol e francês que valorizam o almoço e o jantar. «Deram origem a uma forte procura de restauração que teve em agosto, claramente, um excelente mês», garante João Fernandes.

Por zonas e tipologias, a procura é «assimétrica». «Temos boas indicações do alojamento de 4 e 5 estrelas, com menos bom desempenho abaixo dessa classificação», começa por explicar João Fernandes, acrescentando que as áreas geográficas que se focaram mais e tradicionalmente têm mais procura nacional como Tavira ou Lagos, entre outros, tiveram «melhor desempenho» que, por exemplo, Albufeira «que se ressente ser um concelho que direciona a sua oferta muito para o Reino Unido que ainda não demonstrou chegar a níveis anteriores à pandemia». 

E há ainda um outro fenómeno que o presidente do Turismo do Algarve destaca: os cancelamentos de reservas. «Até julho assistíamos a um crescimento dos cancelamentos. Em agosto, esse fenómeno estancou. Houve uma redução clara de cancelamentos e começou a haver progressivamente algumas reservas», explica, referindo-se aos mercados externos.

Alentejo com zonas a 100%

Quem também teve motivos para sorrir este verão foi a região alentejana onde o turismo também mostrou um crescimento. «O mês de agosto correu muito bem», começa por dizer ao Nascer do SOL, Vítor Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo. E acrescenta: «À semelhança do ano passado, não homogeneamente, mas tivemos em algumas zonas a ocupação a 100% e com preços muito bons» até porque, lembra, os preços são comandados pelo preço da lei da oferta e da procura. 

«Tivemos um verão bom – ainda não acabou, falta este mês – mas temos tido um bom verão». Disso não tem dúvidas e defende que o maior crescimento foi «à custa do turismo nacional», como acontece um pouco por todo o país. Mas já se nota uma recuperação relativamente ao mercado externo.

Números certos ainda não há mas as expectativas são boas: «Ainda não há números de julho e de agosto mas relativamente ao ano passado ainda perdemos alguma coisa em relação ao turismo externo mas agora no verão a recuperação do turismo externo é evidente na nossa região e nas outras». De qualquer maneira, no Alentejo, houve «um acréscimo significativo». E a garantia fica dada: «Recuperámos bastante. Penso que – isto é um palpite – em julho e agosto devemos ter uma recuperação em relação ao ano anterior de pelo menos 20%», numa região que, sendo das menos afetadas do país, ainda perdeu 60% em 2020.

Agosto excedeu expectativas no Centro

Tal como nas outras regiões do país, também o centro não tem ainda números oficiais. Ainda assim, não há dúvidas: «Temos a perceção de que foi um mês muito positivo e que excedeu as expectativas», diz o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado, ao Nascer do SOL. 

Não se sabe ainda se os números serão muito diferentes dos do ano passado mas o responsável diz que «não ficaria surpreendido se os números revelassem resultados superiores a agosto de 2020 e até, em alguns territórios da região, superiores a agosto de 2019, último ano antes da pandemia e o melhor ano de sempre para a atividade turística no Centro de Portugal». Suposição que surge do próximo contacto com empresários da área que garantem ter tido «a capacidade completamente esgotada em agosto, o que por vezes nem nos melhores anos acontecia». Há, aliás, garante Pedro Machado, empreendimentos turísticos que nunca registaram tantas dormidas em agosto como neste ano.

E, apesar de ainda ser «prematuro» o responsável defende que tudo indica que «vai ser um ótimo verão para o Centro de Portugal», até tendo em conta os dados do INE que mostram uma subida de 36% em relação a julho de 2020.

E acrescenta: «Foi o melhor mês de julho de sempre para a região no que diz respeito a dormidas de cidadão nacionais». Já no que diz respeito ao mercado externo, julho mostra uma recuperação (mas ainda longe de 2019) e agosto e setembro poderão ser bem melhores. «Já é percetível no território a presença de visitantes do mercado espanhol, brasileiro e francês. E foi também notória a presença massiva dos nossos emigrantes em agosto. Logo, o balanço irá ser claramente positivo», diz ainda Pedro Machado.

Para já, a recuperação «é evidente». «Há um claro clima de retoma, até psicológico. As pessoas estão nas ruas e escolheram o Centro de Portugal como destino para as suas férias», acrescenta o responsável.

Porto e Norte com números ‘bastante positivos’

Também ainda sem números oficiais, o Turismo do Porto e Norte diz que «dada a conjuntura em que vivemos e do feedback das unidades de alojamento da região, podemos considerar que o mês de agosto irá apresentar números bastante razoáveis», principalmente nos territórios de baixa densidade.

Ao Nascer do SOL, Luís Pedro Martins, presidente da Turismo Porto e Norte, diz não ter dúvidas que os números deste ano serão «seguramente melhores que em 2020, quer ao nível das dormidas, quer ao nível dos proveitos, mas ainda longe dos registados em 2019».

Por isso, o balanço do verão é «positivo», tendo em conta o cenário. «Temos números bastante positivos relativos aos turistas nacionais e nos territórios do interior do Porto e Norte, mas apesar de alguma retoma já sentida nas grandes cidades, devido à falta de turistas do Norte Europa, Brasil e Estados Unidos, os números ainda refletem algumas dificuldades». 

No entanto, a recuperação começa a notar-se principalmente em relação ao mercado interno uma vez que foram muitos os portugueses que este ano escolheram a região para férias, mas também em relação aos turistas oriundos de Espanha e França. «Com a abertura e a eliminação das restrições dos mercados brasileiro e americano, não temos dúvidas que a tendência será para uma clara retoma e recuperação das dormidas no alojamento da região», finaliza Luís Pedro Martins.