Afeganistão. O tempo está parado

Em 1948, o povo uniu-se alegremente para acompanhar a aventura da sua seleção nos Jogos Olímpicos de Londres. Foi um desastre!

Percebemos a fortíssima influência britânica no Afeganistão, esse país que está na moda pelas mais tristes razões, quando vemos que os dois desportos mais populares desta nação antiquíssima são o futebol e o críquete. Em 1924, a Federação Afegã, fundada somente dois anos antes, decidiu avançar com a realização de um campeonato nacional. Infelizmente, não havia instituições verdadeiramente organizadas para que a prova pudesse ser levada a sério. E, assim sendo, apenas quatro clubes participaram na edição inaugural: Maktab Habibiyeh, Maktab Esteghlal, Tafrih Team e Mohajer Team. Curiosa mas não surpreendentemente, todos eles estavam ligados a universidades.

Por isso, foi preciso esperar. E muito. O clube profissional mais antigo do Afeganistão é o Mahmoudiyeh F.C., fundado em 1934, e que rapidamente ganhou fama por ter partido numa longa digressão pela então Índia britânica. Seguiu-se-lhe o Aryana Kabul F.C. que, durante vários anos, dominou o futebol no país. Nasceu em 1941, precisamente no mesmo ano em que surgiu a primeira seleção nacional afegã, estreando-se com um empate frente ao Irão (0-0). Apesar de tudo, só em 1948 foi aceite no seio da FIFA e passou a participar, muito irregularmente, nos torneios internacionais, exatamente porque a situação política e militar na região nunca foi de fiar.

Dias de festa
A seleção afegã não podia ter surgido em melhor altura. Nesse ano de 1948, um entusiasmo popular extraordinário sublinhou a presença nos Jogos Olímpicos de 1948, em Londres. Ainda por cima a primeira competição futebolística a merecer transmissão televisiva através da BBC. 

Os afegãos preparavam-se para seguir a passo e passo o comportamento da sua equipa nacional nas Olimpíadas, mas sofreram o choque de a verem duramente eliminada logo na pré-eliminatória pelo Luxemburgo, soçobrando a uma derrota pesada por 0-6. A guerra contra a URSS, a guerra civil e a tomada de poder pelo regime talibã (que baniu todas as atividades de entretenimento), mataram o futebol no país durante décadas, reduzindo a sua expressão a quase nada.

Em 2007, no entanto, foi criada a revolucionária seleção feminina do Afeganistão, apoiada pelo Comité Olímpico. Nunca os afegãos esperaram ver-se a apoiar as suas parceiras num campo de futebol. Em 2011 participara no Campeonato Asiático, obtendo uma vitória frente ao Nepal. Curta alegria. Num jogo amigável disputado em Kandahar, pouco depois, o Afghan Club Chaman foi recebido de forma brutal: 12 das jogadoras do clube foram presas, e a polícia rapou-lhes o cabelo por terem tido o atrevimento de entrar em campo de calções. O que não impediu que a Women Kabul League – que corresponde ao campeonato nacional – continue a lutar pela sua sobrevivência. 

Quanto à seleção masculina, teve o seu momento de glória no Campeonato das Federações da Ásia do Sul em 2013. Batendo o Butão por 3-0, o Sri Lanka por 3-1, e empatando com as Maldivas, 0-0, atingiu as meias-finais nas quais arrancou uma vitória difícil face ao Nepal (1-0). Na final do Dasarath Rangasala Stadium, em Kathmandu, bateu por 2-0 a favorita Índia, com golos dos heróis Adzadzoy e Ahmadi, conquistando o único grande troféu da sua existência. Veremos quanto anos se passarão até que a história possa repetir-se…