O diabo anda à solta!

Esta versatilidade que os homens adquirem ao comerem do fruto do conhecimento do bem e do mal é nada mais, nada menos, do que o desejo que a serpente meteu dentro do coração do casal primordial de decidir o que é bem e o que é mal. 

Imagine-se que ficou tudo de boca aberta quando o Papa, numa entrevista, na semana passada, disse que o diabo anda à solta e também anda pelo Vaticano.

Esta não é, propriamente, uma novidade para ninguém! Aliás, pelo que nos dizem as escrituras, o diabo anda à solta desde sempre. Foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo, diz São Paulo.

Foi a serpente enganadora, figura do diabo, ou do demónio, se quisermos, que veio tentar o casal primordial, que é uma imagem de cada um de nós, isto é, Adão e Eva são, na realidade, a imagem do que é cada um de nós. Por isso, a Escritura ao dizer que a serpente, que era o mais astuto de todos os animais, veio ter com a Eva para a fazer desobedecer a Deus, está a dizer que é isto mesmo que o diabo faz com cada um de nós.

É evidente que esta é uma leitura simplista. Quem estiver a ler esta crónica e tiver alguma formação em demonologia (a ciência que estuda o demónio) vai logo dizer que serpente, diabo, demónio, Belzebú, Satã, Lucifer, Satanás, Legião, são figuras diferentes. E são-no, de facto! E há muitos outros nomes na Escritura e na tradição judaica e cristã.

É preciso ter em conta que todas estas figuras, mesmo que diferentes, têm todas a mesma missão: atormentar os homens e tirar-lhes a paz e levar os homens à desobediência para com Deus. De facto, a primeira tentação está descrita no capítulo segundo do livro do Génesis: «Ser versátil no bem e no mal».

Esta versatilidade que os homens adquirem ao comerem do fruto do conhecimento do bem e do mal é nada mais, nada menos, do que o desejo que a serpente meteu dentro do coração do casal primordial de decidir o que é bem e o que é mal. A partir do momento em que Adão e Eva comem o fruto do conhecimento do bem e do mal, passam a ser eles, e não Deus, a decidir o que é bem e o que é mal.

Isto é muito importante de se perceber, porque a Deus importa dar a paz ao homem, mas ao diabo importa atormentá-lo. Se verificarmos as Escrituras, principalmente os Evangelhos, mas também as cartas de Paulo, vemos que a ação de Jesus Cristo, o messias, e, também, a ação da Igreja, é libertar o homem do poder das trevas, do poder de Satanás, o demónio.

Jesus Cristo, na sua ação messiânica, passa pela vida dos homens e liberta-os das escravidões de que padecem. Ele passa e liberta!

O Papa Francisco dizia que tinha medo dos demónios bem-educados. Pois bem! Os demónios são sempre bem-educados, porque se fossem mal-educados nós afastar-nos-íamos agora mesmo deles. Há, porventura, algum mal-educado que tenha amigos? Alguém se chega ao pé de uma pessoa que seja asquerosa? Pois bem, essa é a técnica do demónio: persuadir-nos pela sedução e, depois, morder-nos e tirar-nos a paz.

O diabo bem e pergunta: E porque não? E porque tem Deus de mandar na tua vida? E porque tens de lhe obedecer? Que tens tu a ver com Ele? Porque não és tu a decidir a tua vida? A ser dono de ti?

Esta é, na realidade, a luta que todos travamos, quer nas nossas casas, quer no Vaticano. Por isso, dizer que o diabo anda à solta no Vaticano não é nada de novo. Ele anda por onde pode atormentar os homens e, naturalmente, atacando o Vaticano, decepa a cabeça.

Estou seguro que muitos de nós padecemos de muitas doenças espirituais, mas não o sabemos. Somos atormentados pelos demónios, mas não reconhecemos. E isso tem de ser visto! Não há escapatória: há problemas psicológicos que se resolvem nas terapias desenvolvidas pela ciência moderna, mas há problemas espirituais que só com a força e o poder das terapias espirituais se podem libertar – os sacramentos.