Costa – entre o Congresso e o futuro

Enfim, um Congresso que pode ter corrido bem a Costa, mas correu muito mal para Portugal, dada a inexistência de propostas que mobilizem um país adormecido, pela falta de oposição e de perspetivas.

1.O Congresso de António Costa ficou dominado pelo silêncio de Pedro Nuno Santos (PNS). Se um ‘falou pelos cotovelos’, o outro respondeu com um silêncio ensurdecedor. Quanto mais Costa se divertia a alvitrar nomes como putativos sucessores, entre eles Marta Temido, mais PNS sorria interiormente, a agradecer o enorme favor de Costa lhe estar a estender o tapete para a sua eleição.

Primeiro, foi o folhetim sobre a possibilidade de ser nomeada uma Mulher como secretária-geral e quer Mariana Vieira da Silva quer Ana Catarina Mendes sorriram orgulhosas. Depois, o entregar do cartão de militante a Marta Temido com a promessa simultânea dos Estatutos serem revistos, veio sobressaltar as anteriores candidatas, sobretudo porque das 3 (três), a que tem carisma até é a novata no PS que está há muito a beneficiar do palco de ministra da Saúde. 

Medina ainda julga ser candidato, até porque tem como certo conquistar Lisboa. Erro! Com este PS tão dominador a nível nacional, contra um Moedas que se apagou numa campanha morna, a sua obrigação era ter a maioria absoluta. Mas se não a conseguiu contra Cristas/T. Leal Coelho irá agora conseguir? Sinceramente não acredito, mas se por absurdo o conseguir, mesmo assim nunca conseguirá derrotar PNS. Finalmente, Assis, há muito ‘arrumadinho’ no Conselho Económico e Social, nem se atreve a gritar ‘então e eu?’. Quem sobra? Sempre PNS!

Costa teve um passeio triunfal ao ser eleito com 94%. Ouvimos promessas sociais tanto do agrado dos partidos de quem o PS depende para continuar no poder (PCP e PEV + Bloco). Contudo, não ouvimos quaisquer propostas concretas que garantam o crescimento da economia para acomodar o acréscimo da despesa estrutural do Estado, como tão bem os socialistas sabem fazer, sempre generosos com as massas eleitoras que privilegiam (funcionários públicos, reformados, trabalhadores das empresas públicas). 

O PRR será, segundo Costa, a solução de todos os milagres, mas infelizmente não acredito. O figurino atual de desenvolvimento da Economia assente em iniciativas do Estado, salvaguardando o caso do hidrogénio ‘verde’ que ainda se está para ver como irá avançar e se será rentável, é normalmente contraditório com a criação de investimento estrutural. Por norma e como vimos nestes últimos seis anos do Governo de Costa, são os privados o real motor do crescimento económico.

Sejamos claros: este Governo de esquerda que está para ficar por muito tempo, afugenta o investimento estrangeiro e dificilmente sairemos da ‘cepa torta’. Costa, ao optar por reforçar no Congresso uma ideia estatizante para Portugal, deixa preocupados todos os que com justificado receio temem, a prazo, por outra intervenção da troika. Distribuir sem criar riqueza só conduz a uma certeza: os impostos nunca chegarão para suportar as despesas que o PS irá deixar para as gerações vindouras.

Enfim, um Congresso que pode ter corrido bem a Costa, mas correu muito mal para Portugal, dada a inexistência de propostas que mobilizem um país adormecido, pela falta de oposição e de perspetivas.

2. Muito se tem falado do futuro do PS (pós-Costa), do próprio Costa e do PSD (pós-Rio). Sobre o PS, parece-me claro que será PNS a assumir as rédeas do partido, por muito que custe a Costa e a toda uma linha moderada que continua maioritária nas bases. Sobre Costa, muitos ‘experts’ da política são taxativos – Costa quer um lugar na Europa, quiçá a Presidência do Conselho Europeu. Sobre Rio, existe a certeza de que as autárquicas serão o seu ‘canto do cisne’. 

Não tenho assim tantas certezas, nem sobre Costa nem sobre o PSD. Sobre Costa, acho bem mais crível que se posicione para a Presidência da República, sucedendo em 2026 a Marcelo e passando a suplantar Cavaco nos anos de Governo e Presidência, com a vantagem de adiar a sucessão no PS, dificultando a vida a PNS. Se verdadeiramente desejasse um qualquer lugar na Europa, teria sido bem mais interventivo na recente Presidência de Portugal na UE e, neste caso bem atual do Afeganistão, teria tido muito maior exposição pública, secundando posições europeias.

Sobre o PSD, não duvido que as noites a seguir às autárquicas serão de ‘facas longas’. Tantos candidatos à espera de ajustar contas com Rio, mas se calhar nenhum será capaz de ser real alternativa, com peso e estatuto mobilizador.

O PSD está carente de quem mobilize as bases e o país – mas acham mesmo que Rangel, Pinto Luz ou Montenegro podem ser a solução quando Passos Coelho está ‘livre’? Este já demonstrou que é o único que verdadeiramente faz ‘tremer’ Costa e a esquerda. Os outros, serão mais do mesmo, porventura mais combativos e incisivos, mas incapazes de mobilizar sequer as bases, quanto mais Portugal.

P.S. – Sobre o acidente do ministro Cabrita, fiquei chocado ao ouvir Costa referir que «ministro não ia a conduzir, era passageiro». Será que alguém informou mal o Sr. primeiro-ministro e lhe disse que a viatura arrestada era um TVDE ou um táxi?