O que não é e o que é o liberalismo (I)

Não é pelo facto de não considerar o Estado como um Deus na origem da verdade e do bem, que tudo passa a ser relativo.

O liberalismo não é o monstro egoísta, sem fé nem lei, descrito pelos adversários e sugerido pelos ignorantes. Pelo contrário, é uma doutrina política baseada na justiça, no direito, na liberdade, que também estabelece os princípios de uma economia de mercado regulado, condição da riqueza e da autonomia dos cidadãos (o ‘doce mercado’, de Condorcet e Voltaire).

A expressão ‘social-liberal’ é uma redundância: ser-se liberal é ser-se social. Mas a hipertrofia do social, estatizante, gera pobreza e dependência. A ameaça ao equilíbrio vem dos dois extremos, à esquerda e à direita. A crise atual, o atraso e dependência endémicos de Portugal não resultam de uma crise do capitalismo liberal (que nunca tivemos), mas, pelo contrário, do intervencionismo político da hipertrofia do Estado.

Não é possível conhecer o verdadeiro liberalismo com o ensurdecedor discurso político dominante e o coro de uma comunicação social dominada pelos seus adversários.

O liberalismo é uma filosofia do Direito, isto é, uma doutrina que permite aos homens a vida harmoniosa, criativa e empreendedora em sociedade. Como os homens vivem de trocas, o liberalismo trata também da economia, mas não se reduz a esta.

O liberalismo não é nem socialista nem conservador.

O liberalismo considera que uma sociedade assente numa ordem e organização resultantes da interação de indivíduos livres e responsáveis é mais estável, harmoniosa e próspera do que uma sociedade dirigida por um comando centralizado.

O liberalismo não é o caos nem a lei da selva. O que ele provou é que a Justiça e o Direito não dependem das intenções e promessas de ‘príncipes’ e políticos arrivistas, mas da reflexão realizada durante s séculos por grandes pensadores.

O liberalismo não é a ausência relativista de valores morais. Não é pelo facto de não considerar o Estado como um Deus na origem da verdade e do bem, que tudo passa a ser relativo.

O liberalismo não é um fruto da pós-modernidade, mas, pelo contrário, uma criação da modernidade, do humanismo e da universalidade dos valores. O liberalismo não é pós-moderno – é moderno. Opõe-se ao paroxismo da regressão tribalista e civilizacional em curso.

É falso dizer que o liberalismo se opõe aos direitos do homem. Pelo contrário, o melhor da Revolução Francesa de 1789 resultou largamente dos princípios liberais desenvolvidos nas décadas precedentes. A declaração liberal dos direitos do homem de 1789 é a carta daquele movimento.

O liberalismo é condição necessária do florescimento da ciência. «Promovam a ciência e estarão a promover a liberdade», afirmou iluminadamente uma grande figura da Revolução Francesa, o Abbé Pierre, que morreria na guilhotina…

Não foi para os ricos que o liberalismo concebeu o direito à propriedade privada. Concebeu-o e defende-o para os pobres.

O liberalismo quer a liberdade real, informada, responsável; a liberdade inculta não é liberdade

Por isso, o liberalismo propôs e institui a escola para todos (não foi o comunismo). Uma escola exigente, ascensor social que realize a igualdade de oportunidades, uma divisa do liberalismo.

A escola igualitária gerou sempre maiores desigualdades sociais. Exemplo: Portugal hoje.