O onze na cultura ocidental

Uma força social tão importante como é a religião está completamente colocada de parte no momento das decisões políticas. 

O número onze é o número que, na cultura ocidental, será associado com os ataques às Torres Gémeas, em Nova Iorque. Aquele dia será sempre associado a um dos dias mais negros de todos os conflitos ocidentais. Talvez não seja comparável à bomba de Hiroxima, mas este acontecimento dividiu, simbolicamente, o fim do século XX, o fim da modernidade. 

Estamos, ainda, a tentar fugir de incluir na Organização das Nações Unidas um organismo mais amplo que inclua não apenas os Estados e algumas associações da sociedade civil, mas também as organizações religiosas. Isto é, talvez, a coisa mais importante que deverá mudar na cultura e na política ocidental da próxima década: não poderá haver um governo mundialmente integrado que desintegre da sua política o fenómeno religioso.

Desde o início do cisma do ocidente que dividiu a Europa em dois – católicos e protestantes – que se foi procurando uma ética independente da religião. É incrível esta procura de uma ética independente, porque muitas vezes ela surgiu sem independência de outras forças filosóficas e contrárias à própria religião. 

A Europa tomou um caminho de divórcio em relação à religião e não apenas de separação. Não houve apenas uma separação entre a Igreja ou a Religião e o Estado, mas um divórcio. Religião e Estado seguiram caminhos distintos e, muitas vezes contrários, formando um poder secular autossuficiente que não escuta nada nem ninguém. 

Uma força social tão importante como é a religião está completamente colocada de parte no momento das decisões políticas. As religiões são muitas vezes ostracizadas pelos poderes públicos e nunca levadas em consideração e, por isso, se tem acentuado um movimento crescente de resistência às filosofias seculares.

A construção europeia, sem Deus, nem religiões, é um dos exemplos mais gritantes do referido divórcio entre as instituições públicas e privadas. Não há, hoje, um gabinete de diálogo permanente entre as instituições europeias e as instituições religiosas. Há alguns observadores nomeados, há uma espécie de encontros esporádicos, mas não existe um diálogo profundo e sucessivo com a diversidade religiosa.

Ao nível mundial, estão-se a criar políticas comuns se nunca se ouvirem as diferentes sensibilidades religiosas e as diferentes posições religiosas. Há uma espécie de deus secular que é o garante da elaboração das leis e da convivência entre os homens que excluir os deuses religiosos e, portanto, exclui todo o discurso religioso. 

Isto para mim é o maior erro cometido pela política pública nos últimos dois séculos e que teve o seu expoente máximo nos ataques às Torres Gémeas. O que ali aconteceu não é apenas fruto de grupos extremistas, mas de uma afirmação religiosa que pretende expulsar e excluir toda a cultura ocidental que, de facto, não tem em conta a religião.

Não tenho a menor dúvida que, se não for este ano ou no próximo, será na próxima década, a criação de um diálogo permanente entre a Organização das Nações Unidas e as Instituições Religiosas. Acredito, profundamente, que ao lado de cada um dos países, se deverão no futuro sentar também muitos dos representantes religiosos que ajudem a tomar medidas políticas inclusivas da vida religiosa dos povos. 

Estou não apenas convencido, nem é propriamente um desejo meu, mas digo que tenho a certeza que não se poderá criar uma Nova Ordem Mundial que exclua o fenómeno religioso e o discurso religioso. 

A resistência que existe hoje ao secularismo ocidental crescente tem, na minha opinião, provocado o aparecimento de movimentos que excluem toda e qualquer política ocidental que está incapaz de dialogar com os cidadãos do mundo contemporâneo. 

Vão lutar para excluir das Instituições Públicas as Instituições Religiosas? Sim! Vão lutar! Mas estou absolutamente convencido que para que haja paz no futuro, teremos de incluir no diálogo aberto e profundo o discurso religioso.