Idosos com “diminuição abrupta” de anticorpos quatro meses após a vacina

Estudo conduzido pelo Algarve Biomedical Center e pela Fundação Champalimaud, com uma amostra de 5 mil funcionários e utentes de lares com a vacina da covid-19 completa, conclui que a partir dos 70 anos há uma diminuição acentuada de presença de anticorpos específicos para o SARS-CoV-2. Quem teve covid-19 e depois foi vacinado está mais…

O primeiro estudo conduzido em Portugal sobre a imunidade conferida pela vacina da covid-19 no universo dos lares conclui que há uma diferença significativa na presença de anticorpos entre funcionários e utentes ao longo do tempo, com uma diminuição acentuada a partir dos 70 anos de idade quatro meses após a vacinação. Revela ainda que pessoas que tiveram covid-19, mesmo tendo feito apenas uma dose da vacina, têm a esta altura mais probabilidade de ter anticorpos do que quem nunca foi infetado. 

Os resultados, a que o i teve acesso, vão ao encontro de outros estudos que têm sido publicados nas últimas semanas e do que tem sido a posição de farmacêuticas como a Pfizer para propor uma terceira dose da vacina, dossiê que está a ser analisado pela Agência Europeia do Medicamento e pela comissão técnica de vacinação. O epidemiologista Manuel Carmo Gomes adiantou esta semana ao i que se aguarda evidência sobre os grupos mais vulneráveis para tomar uma decisão sobre a terceira dose, nomeadamente se o risco dos utentes em lares é superior ao dos idosos na comunidade.

O estudo conduzido pelo Algarve Biomedical Center e pela Fundação Champalimaud, que incidiu apenas em lares, é agora o primeiro a obter dados para Portugal. Foi analisada a presença de anticorpos em 5714 indivíduos vacinados em lares, 2303 funcionários de Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) e 2871 residentes, mais de metade com a vacina da covid-19 completa há mais de seis meses.

A análise revela que, neste universo, tinham sido diagnosticados até à data das análises 143 casos de covid-19, tendo ocorrido a maioria no primeiro mês de vacinação (22,8%) e após seis meses (50%).

A equipa liderada por Nuno Marques e por Catarina Certal conclui que, na segunda quinzena de agosto, quando foi feito o estudo, existia uma diferença significativa entre a presença de anticorpos em funcionários (78,6%) e utentes (46,2%) na amostra estudada, tendo por base um resultado positivo para anticorpos. O ponto de viragem na presença de anticorpos em utentes dá-se quatro meses após a vacinação, quando a percentagem de idosos com resultados positivos para anticporpos cai de 89% para 48%. No universo de idosos com a vacina há mais de oito meses, apenas 30% teve um teste serológico positivo. Já entre os funcionários, a presença de anticorpos manteve-se estável. Os investigadores concluem ainda que a diminuição é mais notória a partir dos 70 anos de idade.

Vacina após infeção com efeito mais duradouro na imunidade

Outra conclusão da equipa é que as pessoas que tiveram covid-19 e receberam uma dose da vacina mantêm níveis mais elevados de anticorpos ao longo do tempo do que quem fez apenas a vacina, em todas as faixas etárias, não havendo um decréscimo significativo na presença de anticorpos nestes casos. Os dados parecem assim apontar para um perfil em maior risco, em que os investigadores concluem que há uma "diminuição abrupta" de anticorpos ao longo do tempo: maiores de 70 anos que não tenham tido covid-19 e quatro meses após a vacinação completa.

O estudo foi anunciado pelo Governo em agosto, tendo incidido nas regiões do Algarve e Alentejo.