Autárquicas. Os herdeiros do “Gondomar, Gondomar!”

A dinastia de Loureiro chegou ao fim. Após a derrota de 2017, o Major não se voltou a ‘levantar’. No trono está Marco Martins, um bombeiro socialista que procura agora o seu terceiro mandato, com “oposição de peso”.

Gondomar é um município localizado no distrito do Porto. Tal como outros concelhos, é vista como cidade “dormitório” do Porto. Politicamente, é muito associada ao Major Valentim Loureiro. Culturalmente, à ourivesaria. É o número de vereadores do municípioÉ o número de anos seguidos que o Major Valentim Loureiro governou o concelho de Gondomar. É o número de habitantes em Gondomar – perdeu cerca de 3772 desde 2011. Há mais mulheres que homens. É o número de freguesias de Gondomar após a reorganização de 2013Foi o número de candidaturas aceites no programa Eixo +Habitação, uma medida de apoio que visa comparticipar renda ou crédito à habitação.É inevitável: ouvir a palavra “Gondomar” faz-nos logo viajar à célebre gafe do Major Valentim Loureiro em 1995: “Uma das primeiras visitas que [Guterres] vai fazer é aqui a Gondomar. Por isso vamos todos gritar: Guterr…Gondomar, Gondomar, Gondomar!”. A frase tornara-se não apenas num ícone da política autárquica nacional mas também num marco cultural identitário do norte do país.

Valentim Loureiro: um Presidente de Câmara que se confunde com uma cidade. Ao seu leme esteve 20 anos seguidos – de 1993 a 2013. Os primeiros três mandatos foram pelo PSD, já os últimos dois pelo seu movimento independente “Gondomar no Coração”. Em 2005, devido aos escândalos do Apito Dourado, o PSD decidiu retirar-lhe o apoio. Não obstante, este – através de uma candidatura independente – foi reeleito com uma vitória larga sobre o PS. Uma febre da qual beneficiou até 2013, ano em que, devido à lei de limitação de mandatos e a uma nega do Tribunal Constitucional à sua lista, nem Loureiro nem o seu movimento se apresentaram a sufrágio. Aí, começou outra dinastia: a atual, a de Marco Martins.

Dinastia Martins Em 2013, com Valentim Loureiro fora-de-jogo, o PS aproveitou para apostar as suas fichas num conhecido jovem bombeiro da cidade: Marco Martins. Marco – cujo Facebook pessoal é um fenómeno (quase 30 000 seguidores) – ganhou, em 2013, as eleições com uma pesada vitória sobre a direita coligada. Em 2017, apesar de um regresso de Loureiro estilo Fénix, Marco segurou solidamente o seu número de eleitores (à volta dos 45-46%) e manteve-se como Presidente de Câmara. Chegados a 2021, lança-se agora ao seu terceiro e último mandato, através de uma candidatura cujo lema é “Juntos por Gondomar”. Tem, contudo, oposição – e de peso.

O candidato de peso É sem pudor que Rafael Corte Real, jovem advogado gondomarense, se exibe, voluptuoso, num cartaz acompanhado com a descrição “Oposição de Peso”. Mais uma vez, dada a exposição que o cartaz teve no Twitter, a aposta do Iniciativa Liberal num marketing disruptivo pareceu ter surtido efeito mediático. Mas não só de disrupção em cartazes se faz a campanha: ainda em maio, o candidato teve direito a todo um artigo na Visão que denunciava antigos comentários seus – em que falava de “Putinhas” e “feminazis” – no Facebook. Tal, pelos visto, não foi suficiente para abalar o apoio do IL ao candidato – uma postura coerente com a que teve nos escândalos internautas que envolveram Fernando Figueiredo, o candidato liberal a Viseu.

Ainda na oposição está uma coligação PSD/CDS, que, através de Jorge Ascenção – presidente do conselho executivo da Confap –, pretende voltar a pintar de cor de laranja uma câmara que, nas mãos de quem já sabemos, assim o foi por doze anos. A Gondomar concorrem ainda Nuno Santos, pelo PAN; Isabel Mendes, pelo Chega; Cristina Coelho, pela CDU e Bruno Maia, pelo BE.

Propostas

Parque urbano de gondomar

Marco Martins, candidato do PS à Câmara de Gondomar, quer construir o Parque Urbano de Gondomar. Tal, diz, trará “qualidade de vida” e será a “diferença entre a cidade verde e a cidade de betão; a diferença entre ter mais prédios na entrada da cidade ou ampla zona de lazer”.

Redefinir o conceito de obra feita

Rafael Corte Real, candidato liberal, quer “redefinir o conceito de obra feita”. Para tal, quer “atrair o investimento”, “aumentar o rendimento disponível das famílias”, “moderar a carga fiscal”,”gerar oportunidades para os mais jovens”, “promover a coesão territorial” e “assegurar uma melhor prestação dos serviços públicos”.

Dinamizar a cultura

Jorge Ascenção, candidato da coligação PSD-CDS, quer ter “famílias a assistir a espetáculos”. Para tal, propõe “dinamizar a cultura”, com associações, bandas, grupos de espetáculos e “todos aqueles gondomarenses que têm talento”.

Alargar a STCP a todo o concelho

Cristina Coelho, candidata da CDU, notando a inexistência de “uma política de transportes públicos”, quer que a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto se alargue a todo o concelho.

Expandir Gondomar

Nuno Santos, candidato pelo PAN, pretende criar uma provedoria municipal do animal e parques caninos.

Baixar tarifa da água

Bruno Maia, candidato do BE, quer baixar as tarifas que os gondomarenses pagam pela água. Para isso, propõe a automatização da tarifa social.