Secretas e polícia investigam negacionistas

O presidente da Assembleia da República passou a ter mais três polícias a zelar pela sua segurança. A decisão foi tomada depois do SIS e da PSP entenderem que os ‘negacionistas’ podem radicalizar os seus protestos.

A Polícia de Segurança Pública (PSP) e os Serviços de Informação e Segurança (SIS) já passaram a pente fino os cadastros e as atividades públicas – designadamente nas redes sociais – dos principais ativistas do grupo de negacionistas que tem acompanhado o controverso juiz Rui Fonseca e Castro e que insultou Ferro Rodrigues no passado domingo, junto ao Parlamento, apurou o Nascer do SOL, junto de fontes ligadas ao processo de investigação em curso.

Na quinta-feira à noite a TVI adiantava que também a Polícia Judiciária tinha destacado vários elementos para ‘radiografarem’ os ativistas que se manifestaram contra Ferro Rodrigues e que têm participado em manifestações anti-vacinação.

As fontes do Nascer do SOL confirmaram também que os insultos dirigidos a Ferro Rodrigues não resultaram de uma ação concertada ou premeditada, mas de uma manifestação espontânea de uma dezena de membros daquele grupo, que chegaram mais cedo para a manifestação convocada pelo movimento contra as vacinas em frente às escadarias da Assembleia da República.

«Foi um acaso. Essas pessoas descobriram que Ferro Rodrigues estava a almoçar com a mulher num restaurante ali mesmo em frente e os protestos e insultos começaram», explicou a mesma fonte, frisando que o presidente do Parlamento é cliente habitual daquele espaço de restauração e estava virado para uma das janelas, sendo perfeitamente visível do exterior.

A segunda maior figura do Estado almoçou sob gritos de «assassino», «ordinário» e «não se toca na Constituição». «Olha que não são esses dois capangas que te protegem, podes ter a certeza!», gritou a certa altura uma das manifestantes.

Na sequência daqueles protestos – que levaram a PSP_a participar à Procuradoria-Geral da República e, consequentemente, o Ministério Público a abrir inquérito –, o Corpo de Segurança Pessoal da PSP_reforçou o número de efetivos que acompanham Ferro Rodrigues («foram destacados mais três elementos», segundo fonte policial ouvida pelo Nascer do SOL) encontrando-se em avaliação a necessidade de reforço também da segurança da sua mulher.

 

Polícia evita responder a juiz

Segundo as mesmas fontes policiais, a forma de atuar daquele grupo associado ao juiz Fonseca e Castro já está mais do que referenciada pelas autoridades policiais.

«Daí que a PSP_já estivesse preparada para reagir, ou melhor, não reagir, às provocações do juiz» antes da sua audição no Conselho Superior da Magistratura, acrescentou a mesma fonte policial, chamando a atenção para a ação provocatória de Fonseca e Castro: «O senhor magistrado provocou os agentes ao máximo na tentativa de que lhe dessem ordem de prisão, o que obrigaria muito provavelmente a uma imobilização, porventura no chão, e depois teriam de o algemar e eventualmente afastar os seus apoiantes, distribuir umas bastonadas. Isto tudo com as câmaras a filmar e a gravar. Imagine-se o espetáculo».

Na manifestação que se realizou no domingo à tarde, após os incidentes que envolveram o presidente da Assembleia da República e sua mulher, o orador principal foi o antigo candidato à Presidência da República e presidente da AMI – Assistência Médica Internacional, Fernando Nobre.

Que voltou a insistir na inexistência de uma verdadeira pandemia e em relativizar os seus riscos, dando o seu próprio exemplo e apelando à não vacinação contra a covid-19 particularmente de jovens e crianças: «Qualquer dia só falta quererem inoculações intrauterinas».

Fernando Nobre é, aliás, referenciado pelas autoridades de segurança como um dos principais ideólogos do movimento negacionista em Portugal, sendo mesmo considerado por muitos dos seus seguidores como ‘o verdadeiro guru’.

Em cima de um palco em frente à AR, o presidente e fundador da AMI proclamou-se contra o uso de máscaras e contra a administração de vacinas contra a covid-19. «Garanto aqui que os meus filhos e a minha neta nunca serão injetados», disse, perante um coro de apoio de dezenas de negacionistas.

Sem apresentar qualquer fundamento, Nobre também referiu que 93% a 97% dos testes PCR são falsos positivos e que, quando ficou doente com o novo coronavírus, curou-se com fármacos cuja eficácia foi rejeitada pela comunidade científica.

«Isso não se trata com paracetamol, ou doliprane, ou ben-u-ron. Isso trata-se como eu me tratei, tratei a minha mulher, tratei a minha filha: com azitromicina, hidroxicloroquina, ivermectina. Numa semana, estávamos todos curados», assegurou.

*Com Joana Mourão Carvalho