Negacionistas e colheres de pau

As autoridades portuguesas há muito que sabiam do que eram acusados Yasser e o irmão. Mas nem isso impediu o Presidente da República de lá ir almoçar com os embaixadores na União Europeia. Se o suposto terrorista tivesse decidido em vez de tirar uma selfie fazer explodir um colete com bombas, tinha levado consigo o…

Portugal assistiu nas últimas semanas – apesar de já se ter mandado o assunto para o baú das recordações – à discussão sobre quem teve responsabilidades de o Presidente da República, o primeiro-ministro e o agora frenético presidente da Câmara de Lisboa terem almoçado, em alturas diferentes, no restaurante Mezze, onde trabalhava um suspeito de terrorismo, acusado de ter pertencido ao Estado Islâmico e que é procurado pelas autoridades iraquianas. O restaurante em causa teve o apoio da Fundação EDP, do Alto Comissariado para as Migrações, do Grupo Jerónimo Martins, da Embaixada dos Estados Unidos e, claro, da CML. Tudo porque procura dar emprego a refugiados do Médio Oriente.

As autoridades portuguesas há muito que sabiam do que eram acusados Yasser e o irmão. Mas nem isso impediu o Presidente da República de lá ir almoçar com os embaixadores na União Europeia. Se o suposto terrorista tivesse decidido em vez de tirar uma selfie fazer explodir um colete com bombas, tinha levado consigo o representante máximo de Portugal e um número considerável de embaixadores.

Estamos em Portugal, e há registos de que os dois irmãos estariam vagamente a ser vigiados, pois não acredito que tenham sido destacados agentes em permanência para o trabalho e residência dos dois irmãos. Pois bem, na semana passada, um grupo caricato de negacionistas das vacinas passou-se dos carretos e enquanto esperava pela hora da manifestação descobriu o presidente da Assembleia da_República a almoçar e chamou-lhe tudo o que possamos imaginar. Uma senhora mais exaltada ainda ameaçava os atuais e futuros clientes do restaurante. Uma cena lamentável e que muitas vezes acaba numa multa, que pode ir até aos 2500 euros ou um pouco mais.

Claro que alguns elementos do grupo já tinham feito outros disparates, nomeadamente com o líder da task force da vacinação, o que levou o SIS a pedir um elemento do Corpo de Segurança Pessoal da PSP para proteger Gouveia e Melo, à semelhança do que já tinha pedido para a ministra e a diretora-geral da Saúde.

Mas os ataques a Ferro Rodrigues alteraram tudo e agora esses negacionistas têm elementos do SIS, agentes da PSP e até pessoal da Polícia Judiciária a vasculhar a sua vida. É mesmo caso para se dizer: quem se mete com o PS, leva. Não gostaria de estar na pele desses manifestantes, pois podem ter a certeza que não vão ser esquecidos e que as suas vidas nunca mais serão as mesmas, pelo menos nos próximos tempos. Onde quer que vão, podem acreditar que terão alguém a olhar por eles.

Não está em causa a alarvidade do que fizeram e do que diz a lei portuguesa para esses casos. Acho que devem ser condenados como os outros que praticaram crimes semelhantes, mas agora terem quase a elite das forças de segurança a espiolharem as suas vidas parece-me um pouco excessivo.

Já agora, até parece que aqueles que não acreditam na vacinação são enviados do demónio. Estou à vontade pois já tomei as duas doses, embora um pouco contrariado, mas gostava de saber os efeitos secundários no futuro. Como não consigo viajar no tempo e não bebi nada antes da vacinação, aguardo pelos próximos anos. Isto tudo para dizer uma coisa muito simples: as pessoas têm o direito de não quererem ser vacinadas, o que acho que deve ser discutido é se forem para o hospital quem é que paga a conta – aplicando-se a mesma teoria sobre os casos de pessoas que possam ter sido infetadas por aqueles que recusam a vacinação.

E o que dizer da afirmação de António Nunes ao Expresso – o homem que há uns anos perseguia colheres de paus como os fanáticos muçulmanos procuram infiéis, agora na pele de presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo – de que «estaremos muito atentos às próximas manifestações. E a avaliar e a preparar um conjunto de reações mais duras contra os negacionistas». Estará António Nunes a insinuar que os manifestantes vão levar umas valentes bastonadas? Este país é mesmo uma diversão…

vitor.rainho@sol.pt