Uma aliança que incomoda

O acordo entre EUA, Reino Unido e Austrália está a gerar inúmeras críticas, nomeadamente por permitir que a Austrália possa construir submarinos movidos a energia nuclear.

A China acusou-a de ser «extremamente irresponsável». A França considerou ser «um duro golpe» e uma decisão «ao estilo de Trump». A União Europeia revelou que «não foi informada» sobre o projeto e «vai analisar as repercussões».

Mas que aliança é esta que está a gerar tantas críticas? O seu nome é AUKUS e é constituída pelos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália que celebraram esta parceria «histórica» de segurança e partilha de tecnologia e informação de forma a defender os seus interesses na região Indo-Pacífico.

Apesar de nenhum dos países ter afirmado diretamente, analistas afirmam que o grande objetivo não declarado desta aliança é travar o «expansionismo» da China.

«Todos nós reconhecemos que é imperativo garantir a paz e estabilidade da região Indo-Pacifica no longo prazo», explicou o Presidente dos EUA, Joe Biden, numa conferência de imprensa feita através da Casa Branca, com o primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, e australiano, Scott Morrison, a juntarem-se por via virtual.

«Temos que conseguir lidar com as atuais estratégias ambientais da região e perceber como é que elas podem evoluir porque o futuro de cada uma das nossas nações – e do mundo – depende de uma zona livre e aberta no Indo-Pacifico, que resista e prospere nas próximas décadas», disse o Presidente.

Os submarinos da discórdia 

Uma das principais razões para as críticas desta aliança é o facto de permitir pela primeira vez que a Austrália construa submarinos movidos a energia nuclear.

O primeiro-ministro australiano afirmou que esta nova parceria irá «garantir uma região mais segura e protegida», beneficiando todos os envolvidos, e garantiu que a Austrália não está à procura de «adquirir armas nucleares», disse Morrison.

Com este acordo, a Austrália vai tornar-se a sétima nação do mundo a operar submarinos com propulsão nuclear, juntamente com os Estados Unidos, Reino Unido, França, China, Índia e Rússia.

«Isso muda o equilíbrio de poder na região. Se a China enfrentar uma situação militar no Mar da China Meridional ou no Estreito de Taiwan, essa nova parceria militar afetará a resposta que a China terá de preparar», disse à BBC a co-diretora do Programa para o Leste Asiático no Stimson Center, sediado em Washington, Yun Sun.

Quem não ficou satisfeito foi a França. O novo tratado conduziu ao cancelamento do contrato de fornecimento de submarinos franceses à Austrália, o que levou o ministro da Europa e dos Negócios Estrangeiros de França, Jean-Yves Le Drian, a comparar esta decisão a «uma facada nas costas».

Os franceses encontravam-se a negociar uma venda de submarinos para a Austrália, num negócio que estava avaliado em cerca de 36,5 mil milhões de dólares (cerca de 31 mil milhões de euros). «Nós estabelecemos uma relação de confiança com a Austrália, e essa confiança foi traída», acusou Le Drian. «Estou muito irritado e amargurado. Isso não é algo que aliados fazem», acrescentou o assessor de Emmanuel Macron.

Quem, obviamente, recebeu a notícia com desagrado foi a China. «A cooperação entre os EUA, o Reino Unido e a Austrália no que diz respeito aos submarinos nucleares prejudica de forma grave a paz e estabilidade regionais, intensifica a corrida ao armamento e compromete os esforços internacionais sobre a não-proliferação nuclear», disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Zhao Lijian.