O que é e não é o liberalismo (III)

É o liberalismo que permitirá às democracias liberais superarem a crise que resultou do seu próprio êxito.

Nos meus dois breves artigos sobre o tema não falei dos desvios filosóficos e das aplicações erróneas ou perversas do liberalismo. Quis referir as ideias geralmente ignoradas ou ofendidas. Sugerir o que é o verdadeiro liberalismo – se o formos beber a Adam Smith (que não se esgota na caricatura da ‘mão invisível’) ou ainda mais a Stuart Mill. Juntando o que é muito relevante: o contexto histórico.

E relativamente ao equilíbrio entre o liberal e o social (não o socialismo), à conjugação da autonomia individual criadora com a preocupação agregadora do comunitário, que está na essência do liberalismo, são inspiradores os textos dos italianos Carlo Rosselli (morto em França por agentes de Mussolini) e do seu discípulo mais novo (também já desaparecido) Norberto Bobbio.

Ou ainda outros mal lidos ou vilipendiados, como Milton Friedman, para quem a liberdade é o valor mais importante de todos: «Liberais, consideramos a liberdade do indivíduo, ou talvez da família, como objetivo último quando temos de julgar os regimes sociais».

No que se refere à prática, entre Roosevelt (o da política interna) e Reagan, entre Beveridge e a senhora Thatcher, não estamos a falar exatamente do mesmo liberalismo.

A propósito desta reflexão sobre o liberalismo, sugiro ainda que superemos o nosso eurocentrismo e leiamos, por exemplo, John Dewey, que não é só o filósofo do ‘pragmatismo’ mas também o teorizador do ‘liberalismo radical’ (expressão que, para ser entendida na Europa, deverá traduzir-se por ‘democracia radical). Que não tem nada a ver com o ultraliberalismo, antes pelo contrário.

Nos antípodas do liberalismo, o socialismo é a miséria e a opressão. «No socialismo, ninguém se mexe sem autorização». Foram as democracias liberais que trouxeram a prosperidade ao Ocidente e ao mundo. É o liberalismo que permitirá às democracias-liberais superarem a crise que resultou precisamente do seu próprio êxito, das expectativas de progresso que criaram em cada vez mais largas camadas de população por todo o mundo. Expectativas estas goradas – e hoje esquecidas no Ocidente – pelo deslizamento dos partidos e dos políticos que deviam ser liberais, e das elites sociais bem instaladas, para os delírios regressivos e fragmentadores, anti-humanistas e relativistas, de que a extrema-esquerda é a ponta de lança. O liberalismo é o ideal político exaltante que as novas gerações esperam.*

*Se o Iniciativa Liberal compreender e cultivar o ideal liberal, e afinar uma intervenção política firme, o crescimento deste partido poderá trazer a oportunidade de prosperidade, desenvolvimento e independência que Portugal nunca teve em muitos séculos.