“O racismo ainda permeia a vida quotidiana”

Guterres disse que a xenofobia, misoginia, conspirações odiosas, supremacia branca e ideologias neonazis estão em crescimento.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, realçaram ontem que o racismo e a desigualdade de género têm sobreposições e cruzamentos que denigrem a luta pela igualdade. “São inconfundíveis as ligações entre racismo e desigualdade de género”, afirmou António Guterres, na reunião em que se assinalou a comemoração do 20.º aniversário da Declaração de Durban e Programa de Ação Contra o Racismo, na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.

O antigo Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados adicionou que “alguns dos piores impactos” são particularmente percetíveis “nas sobreposições e cruzamentos da discriminação sofrida por mulheres de comunidades racializadas e grupos minoritários”.

“Quem usa este processo”, o das discriminações, preconceitos, racismo e discurso de ódio, salientou Guterres, “só denigre a nossa luta essencial” contra o racismo e pelos direitos humanos.

No âmbito da pandemia de covid-19, o secretário-geral da ONU frisou ainda que a taxa de mortalidade pode ser três vezes maior para os grupos marginalizados e que “mulheres de grupos minoritários costumam ser as que estão em pior situação”, pois “enfrentam uma escalada da violência baseada em género, perdem empregos e oportunidades educacionais em maior número do que qualquer outra pessoa e são as que menos beneficiam de estímulos fiscais”.

“De violações flagrantes a transgressões crescentes, os direitos humanos estão sob ataque”, declarou depois de ter indicado que a xenofobia, misoginia, conspirações odiosas, supremacia branca e ideologias neonazis estão em crescimento. “O racismo e a discriminação racial ainda permeiam instituições, estruturas sociais e a vida quotidiana em cada sociedade”, disse.

Por outro lado, “nenhum país pode reivindicar estar livre disso”, porque ainda existem “desequilíbrios de poder enraizados em domínio colonial, escravidão e exploração” e é essencial que todos reconheçam “a ressonância contemporânea de crimes passados que continuam a assombrar” o presente, “os traumas persistentes e o sofrimento transgeracional”, defendeu.

A Declaração de Durban e Programa de Ação Contra o Racismo, adotados há 20 anos em Durban, cidade da África do Sul, são considerados planos da ONU para combater o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância.