Um liberalismo sustentável (I)

Um primeiro-ministro supostamente da esquerda liberal tem feito o país deslizar para as causas, o modelo, os objetivos e a verborreia do iliberalismo da extrema-esquerda.

‘A ideia forte do liberalismo é a dispersão do poder’

No mundo contemporâneo, o liberalismo talvez não possa ser poder sozinho. Mas é cada vez mais indispensável à democracia que o liberalismo seja parceiro no poder, condimento que faz toda a diferença num Governo. A diferença entre a tendência estatizante e coletivista, geradora da opressão e da miséria, e a liberdade, o espírito empreendedor dos cidadãos, a prosperidade.

Atente-se no que se passa em Portugal. Um primeiro-ministro supostamente da esquerda liberal – de um partido que foi sempre, como o sistema político precisa, o baluarte da democracia-liberal, com um fundador e uma história que o identificam como tal – mas que tem feito o país deslizar para as causas, o modelo, os objetivos e a verborreia do iliberalismo da extrema-esquerda. E fá-lo, porventura, por incultura filosófica, amnésia histórica, conveniência de manter o poder – ou, afinal, por simples convicção ideológica (que ocultava).

E eis um país estatizado; com a autonomia dos cidadãos e o seu espírito empreendedor diminuídos; com as empresas que geram a riqueza sufocadas por impostos; com o Estado a comer domínios de atividade que deveriam ser produtivos e passam a ser encargos para todos nós.

Uma cegueira estatizante que está a levar, por exemplo, à dramática implosão do SNS, que o fanatismo coletivista não quer reformar, racionalizar, diversificando os seus recursos a montante e a jusante – com os médicos a terem de o abandonar contra vontade.

E os subsídios, cada vez mais viciantes, para não se trabalhar. Há cada vez mais portugueses, que deviam estar na vida ativa, e não trabalham, cujas tarefas são cada vez mais realizadas por imigrantes. Digam-me: o que fazem, por exemplo, milhares de brasileiros, não poderia ser desempenhado por gente nascida em Portugal?

O número de funcionários públicos é outra praga. Como é possível que na era do digital esse número seja o dobro do que era no tempo de Salazar? Com os vícios e a distorção que tal hipertrofia pública provoca no Estado, na vida política e na democracia.

E que dizer da sementeira de irresponsabilidade cívica que começa a dominar todos os setores da sociedade?

E do aumento e impunidade da corrupção, a grande, a que pesa, envolvendo sempre o Estado. E mesmo o Governo. E até – imagine-se – um primeiro-ministro. Sem que nenhum dos ministros suspeitasse…

Coitadinhos!