Uma erupção sem fim à vista

Desde o passado domingo que o Cumbre Vieja, em La Palma, está em erupção. Segundo especialistas, poderá continuar assim durante os próximos 55 dias ou mais.

Uma erupção sem fim à vista

As devastadoras erupções do vulcão Cumbre Vieja, em La Palma, nas Ilhas Canárias, que começaram no último domingo, produziram lava suficiente para cobrir mais de 166 hectares e destruíram 350 edifícios. Segundo cálculos do Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias (Involcan), a erupção vulcânica pode durar cerca de 55 dias.

A Involcan explicou que a duração pode ser calculada utilizando os dados conhecidos sobre a duração das erupções históricas que ocorreram na ilha de La Palma, afirmaram através das suas redes sociais.

O instituto citou várias erupções vulcânica na ilha, como os casos mais recentes de Teneguía em 1971, que durou 24 dias; a de San Juan em 1949, 47 dias; mas também casos com vários séculos de idade como é o caso de Charco em 1712, que durou 56 dias, a erupção do vulcão San Antonio, datada entre 1667 e 1678, que durou 66 dias; a do Tigalate em 1646 durou 82 dias e a de Tehuya em 1585, 84 dias.

Através destes dados, a Involcan estima que a erupção atual poderia durar uma média de 55 dias, com um máximo de 84 dias e um mínimo de 24.

 

Gases tóxicos

Apesar de ainda não ter sido registada nenhuma vítima mortal, alguns especialistas temem os efeitos negativos que possam ser provocados pelo contacto da lava do vulcão com a água do Oceano Atlântico, uma vez que estes podem gerar ainda mais gases venenosos, dado que uma mistura com o sal pode criar uma nuvem tóxica de grandes dimensões.

A erupção vulcânica em La Palma, por si só, já está a emitir para a atmosfera uma elevada quantidade de dióxido de enxofre: segundo o Invocan, a erupção vulcânica em La Palma emitiu diariamente entre 6.140 e 11500 toneladas de dióxido de enxofre (SO2) para a atmosfera, um gás incolor, denso, não inflamável, considerado tóxico e prejudicial tanto para a saúde humana como para o meio ambiente.

As autoridades alertaram que estes gases devem atingir sexta-feira boa parte do território de Espanha, bem como a costa mediterrânica. «Além do fluxo de lava, o vulcão está a emitir uma grande quantidade de dióxido de enxofre na nossa atmosfera», lê-se na mensagem do Copérnico no Twitter.

O vice-reitor do Instituto Geomineiro da Espanha (IGME), Luis Somoza, citado pela agência noticiosa EFE, sublinhou que a entrada da lava no mar vai provocar uma nuvem vertical «densa e espetacular» de vapor de água, garantindo que, apesar de não ser tóxica, vai obrigar a aumentar o perímetro de segurança, evacuar as zonas mais afetadas e proibir a navegação.

A lava do vulcão Cumbre Vieja, que se arrasta a uma velocidade de quatro metros por hora, continua a devastar tudo o que encontra pelo caminho.

A erupção já causou a retirada de 6100 pessoas, incluindo 400 turistas «que foram afastados das zonas de risco» e instalados em Tenerife, a maior das ilhas do arquipélago, de acordo com uma declaração do governo regional das Ilhas Canárias feita na terça-feira ao final do dia.

Apesar da situação nesta ilha de 85 mil habitantes, não houve mortos ou feridos a lamentar, mas os danos são enormes, acima de 400 milhões de euros, segundo o presidente da comunidade autónoma das Canárias, Angel Victor Torres.

«Para muitos, isto deve ser um grande show», disse o morador de La Palma, Juan Vicente Rodríguez, à BBC, «mas para nós é difícil e desolador. Estamos em choque. Não é fácil assimilar», confessou Rodríguez.

A área mais afetada pela lava situa-se na parte sudoeste da ilha, onde já fez prejuízos no valor dos milhões. «Os prejuízos ultrapassam os 400 milhões de euros», disse o chefe do governo das Canárias, Ángel Víctor Torres Pérez, esta terça-feira, referindo ainda que a União Europeia irá destinar um fundo de recuperação para toda a região atingida.

Erupções que se tornam espetáculos turísticos

Enquanto o Cumbre Vieja impressiona todos os espectadores pela sua impressionante violência natural, alguns até consideram que este fenómeno natural poderia tornar-se uma «atração turística».

Esta afirmação partiu da ministra da Indústria, Comércio e Turismo de Espanha, Reyes Maroto, que afirmou que o vulcão «é uma atração que podemos aproveitar» na oferta turística da ilha de La Palma, é «algo sem precedentes para se poder ver em primeira mão», defendeu na segunda-feira.

As considerações da ministra não foram bem recebidas pela população das de La Palma e levaram Reyes Maroto a pedir desculpas. «É preciso saber retificar quando se comete um erro», afirmou, acrescentando que aceita «todas as críticas» e que «agora é tempo de apoiar» a ilha e os seus habitantes.

«Compreendo a situação dramática que existe na ilha», disse, sublinhando que «haverá tempo para falar de turismo e de como recuperar o reposicionamento» de La Palma.

Mas esta posição também é defendida noutros pontos do mundo onde também estão a ser registadas impressionantes erupções.

O monte Fagradalsfjall, perto de Reiquiavique, capital da Islândia, expele lentamente lava de uma fissura há seis meses, tornando-se a mais longa erupção na Islândia desde há meio século que já é atração turística neste país.

«É a erupção turística perfeita», assegurou Thorvaldur Thordarson, professor de Vulcanologia na Universidade da Islândia, à Sky News. «Garantindo que, contudo, não te chegas demasiado perto».

Já em Itália, devido às sucessivas erupções do vulcão Etna, que voltou a despertar, um mês depois da sua última erupção, estremecendo com sucessivos sismos, esta terça-feira de madrugada, lançando fumo, emitindo cinzas e um fluxo de lava, existe menos vontade de admirar a força da natureza, mas um sentimento de receio que este é um prenúncio de mais atividade vulcânica.

Esta é a décima sétima vez que o vulcão entra em erupção desde fevereiro e levou ao encerramento momentâneo do espaço aéreo da região e alguns voos foram desviados para o aeroporto de Palermo, na Sicília, no sul de Itália, anunciaram na quinta-feira as autoridades italianas.