António Costa – o reformista do século

Por João Cerqueira, escritor Os colunistas de Direita não percebem nada disto. Dizem que o governo de António Costa, a malfadada Geringonça, detendo um poder quase absoluto recusa-se a fazer as reformas imprescindíveis para o desenvolvimento do país. E não as faz porque entre o país e o poder, Costa prefere o poder. Entre os…

Por João Cerqueira, escritor

Os colunistas de Direita não percebem nada disto.

Dizem que o governo de António Costa, a malfadada Geringonça, detendo um poder quase absoluto recusa-se a fazer as reformas imprescindíveis para o desenvolvimento do país. E não as faz porque entre o país e o poder, Costa prefere o poder. Entre os portugueses e os camaradas, prefere os camaradas. Refém da extrema-esquerda imobilista que o sustenta, adia a resolução dos problemas estruturais de Portugal para calendas gregas. O último a sair – neste caso a entrar no próximo governo – que apague a luz (caso não a tenham ainda cortado). E – prosseguem – teria todas a condições para reformar o país e garantir o seu futuro num mundo cada vez mais competitivo e imprevisível caso fizesse uma aliança com a Direita (mesmo com Rui Rio a atrapalhar).

Nada mais falso, como adiante se verá. Reformas, potentes, das boas, é o que não falta no governo de António Costa.

Eis alguns exemplos.

A Reforma da Intromissão do Estado na Vida do Cidadão.

Desde o PREC que nenhum Governo interferia, controlava e impunha tantas regras à liberdade dos cidadãos e dos meios de comunicação. Há agora uma maneira correta de pensar, falar, escrever e dar o nó na gravata que começa a ser incutida na Escola Primária, aperfeiçoada no Ensino Secundário e – para os que estudam Sociologia e História – aprimorada nas Faculdades. Não pode haver dissidências quanto a assuntos como as minorias sexuais, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, as causas do aquecimento global, os malefícios do chouriço e as maldades do Estado Novo. E, para heréticos como um tal Nuno Palma que demonstrou ser falsa parte da matéria curricular sobre o período salazarista e outros que criticam tradições étnicas como o casamento infantil e a mutilação genital de meninas, já foi preparada uma lei reformista que prevê castigos exemplares para mentiras que até podem ser verdade e apelos ao ódio que até podem tão só querer proteger as crianças.

A Reforma do Aumento dos Impostos, Taxas e Taxinhas.

Embora os contribuintes portugueses já fossem dos europeus que mais entregavam os seus rendimentos ao Estado, o Governo de António Costa introduziu novas e imaginativas reformas na arte do Fisco ir ao bolso dos cidadãos conseguindo em 2017 a mais alta subida em vinte e dois anos[1]. E desde então não parou o seu ímpeto reformista. Cada vez mais dinheiro nos cofres do Estado, cada vez menos no bolso dos portugueses. Queres comprar um carro, meter gasolina, beber uma cerveja e, por vezes, fumar um cigarrito? Toma lá uma taxinha para não te armares em rico. Estas reformas são tão revolucionárias que até na célebre entrevista do jovem extraterrestre que ganhava 2700 Euros por mês, o insuspeito Sousa Tavares confrontou o grande reformador com os 40% que o Estado retirava à sua remuneração – e à dos outros que vivem na Terra.

A Reforma do Aumento Gastos e da Diminuição da Qualidade.

Outra grande reforma foi feita pelo Ministro da Educação. Depois de acabar com os exames nacionais dos alunos do 4º e 6º ano, a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades dos Professores, os contratos de associação com os Colégios Privados e obrigar os alunos a ir comer bolos ao café do lado, o Ministro lançou a mencionada reforma educativa. Com pompa e circunstância, anunciou que nos últimos seis anos houve um aumento de 32% na despesa por aluno na Escola Pública. Se até então cada aluno custava 4700 Euros por ano, passou a custar 6200 Euros. Brutal. Desde a extinção do ensino jesuítico pelo Marquês de Pombal que não se via tal coisa. Porém, parece ter-se esquecido do Verdadeiro Método de Estudar. Como no Ranking das Escolas de 2021 as Privadas, apesar de mais baratas, aumentaram a sua posição dominante em relação às Públicas, como se as primeiras jogassem numa Liga Europa e as segundas o campeonato distrital, estamos perante um caso raro em que quanto mais se investe pior se fica.

A Reforma dos Tachos.

Eis uma reforma muito simples e que se explica em breves palavras. Embora o PSD já tivesse avançado nesta reforma, este governo foi mais longe. No mar do tacho, o PSD chegou ao Cabo Bojador, mas o PS dobrou o Cabo das Tormentas. Fruto desse feito, para praticamente todos os organismos públicos, instituições, observatórios e por vezes até direções de hospitais foi nomeado um militante socialista, um primo, a sogra ou a cunhada. Independentes, profissionais com experiência e provas dadas, especialistas na matéria – arranjem um cartão do partido ou fiquem a ver boys e girls ignaros a ocuparem os lugares que vos pertenciam. E faz todo o sentido porque, como disse a Dra. Elisa Ferreira, o dinheiro do Estado é do PS.

A Reforma do Respeitinho é Muito Bonito.

Enunciada a teoria – «quem se mete com o PS, leva» -, veio a prática. Depois do Ministro da Aeronáutica ter ameaçado o CEO da Ryanair, a TAP, a Groundforce, os banqueiros alemães e toda a gente que o contrarie, António Costa consolidou a Reforma do Respeitinho é Muito Bonito ao puxar as orelhas à GALP acusando-a de disparates, asneiras, insensibilidade e irresponsabilidade, por esta não fazer o que o Governo lhe manda. A GALP, ingenuamente, pensou que vivia num sistema de mercado e, mais cómico ainda, numa democracia liberal. A GALP ficou agora a saber que vive numa república socialista de economia dirigida e que quem se porta mal leva uma lição que sirva de exemplo às restantes empresas. Havia dantes um animal feroz que ameaçava e calava jornalistas, mas era pouco. Contudo, este pequeno passo para o homem prenunciava o grande salto para a humanidade socialista. A Reforma do Respeitinho é Muito Bonito exige que além dos jornalistas também as empresas, os seus gestores – e no fundo toda a gente – fiquem cientes de que manda quem pode e obedece quem deve. E quem não obedece, leva.

A Reforma da Propaganda

António Ferro deve estar a dar voltas no caixão. O seu SPN foi completamente ultrapassado desde que a vaca levantou voo. A partir de então, Portugal passou a bater recordes de desempenho: a melhor recuperação económica, o melhor combate às desigualdades sociais, a melhor estratégia de combate à pandemia, o melhor Almirante das vacinas, os melhores eventos desportivos que mais nenhum país aceitou, os melhores hooligans à solta no Porto, o melhor país a correr com enfermeiros, o melhor país a acolher emigrantes dentro de contentores, os melhores ministros a dar gás na estrada, os melhores anúncios de obras públicas que já tinham sido feitas, a maior ameaça fascista da Europa, etc. A vaca nunca deixou de pastar, é provável que tenha a doença de CreutzfeldtJakob, mas o novo Secretariado da Propaganda Nacional convenceu os portugueses de que o bicho voga loucamente no espaço ao lado das naves de Richard Branson e Elon Musk.

Colunistas de Direita, tomem e embrulhem. Com coragem, determinação e clarividência, Portugal está a ser completamente reformado. O país está irreconhecível. E a prova de que as reformas produziram efeitos é a The Economist ter considerado que Portugal deixou de ser «um país totalmente democrático» para passar a ser «uma democracia com falhas».

João Cerqueira

www.joaocerqueira.com

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

 


[1] https://observador.pt/factchecks/impostos-indiretos-aumentaram-tres-mil-milhoes-de-euros-desde-2015/