Foi uma semana desastrosa para António Costa. As eleições autárquicas não correram como desejava, perdeu a principal câmara do país, que tinha deixado para o seu amigo Fernando Medina, e viu o seu partido perder milhares de votos, apesar do peso da bazuca. Além disso, viu o seu amigo Presidente da_República falar alto em Belém, permitindo que o público ouvisse com nitidez que aposta em Carlos Moedas, até para este provocar eleições antecipadas na autarquia lisboeta se não conseguir as alianças desejadas. É certo que Marcelo tinha apostado em Paulo Rangel para correr com Rui Rio, mas à falta de cão caça com gato, salvo seja – não vá o PAN ouvir…
Mas voltando à semana negra de António Costa, só lhe faltava o ministro da Defesa colocá-lo numa posição incómoda com a demissão que não é demissão do chefe do_Estado-Maior da Armada, com o Presidente da_República a lembrar quem é o Comandante Supremo das Forças Armadas, que é como quem diz, o chefe da tropa.
Com a trapalhada criada, Costa deve ter perdido a vontade de pegar na bazuca para arrasar a concorrência e mais chateado deve ter ficado quando alguém, que podia ter sido André Ventura ou Francisco Louçã, disparou sobre a situação da CP: «Se dependesse de mim o problema estava resolvido. Tínhamos um plano Atividades e Orçamento aprovado em tempo, a empresa não esperava meses para conseguir autorização para fazer as compras que são fundamentais para o seu funcionamento, não tínhamos uma dívida histórica, com a dimensão que ela tem, durante tanto tempo sem a resolver».
Tudo isto a propósito da demissão do presidente da CP, pela boca de Pedro Nuno Santos, que deve querer assumir o papel de líder da oposição. Mas a história não fica por aqui, já que o homem que gosta de falar grosso continuou: «É muito difícil pedirmos a um grande gestor, um homem sério, com capacidade de trabalho e realização, que fique muito tempo numa empresa que não consegue ter um plano de atividades e orçamento aprovado, que tem uma dívida histórica gigante e que não pode ser saneada, retirando capacidade e autonomia de gestão à empresa. E que demora meses para ter uma autorização para comprar umas rodas».
O presidente demissionário não perdeu tempo a entrar no baile: «O ministro resolveu transmitir um recado ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças. Ele que ponha o seu Governo a mudar o quadro legislativo para que a empresa tenha mais autonomia», disse ao Observador Carlos Gomes Nogueira.
Se António Costa não acreditava na lei de Murphy, deve ter mudado de opinião. É que para piorar o humor do primeiro-ministro, que ferve em pouca água em privado, eis que o banqueiro ex-amigo dos ricos decide brincar com a Justiça portuguesa e se põe ao fresco quando estava para ser preso. Cai o Carmo e a Trindade e a pobre ministra da Justiça foi obrigada a reconhecer as lacunas que permitiram a João_Rendeiro pirar-se e pôr-se a banhos nalguma república das bananas. E não estou a dizer que se escondeu em Portugal…
Será que nos estamos a aproximar do pântano e que Costa vai mesmo fugir nos novos comboios de Pedro Nuno Santos para Bruxelas? Afinal, o ministro da geringonça quer muito apostar em abrir caminhos para um rumo mais verde e menos rosa.
vitor.rainho@sol.pt