Desafios para os Novos Tempos em Lisboa

O que sucedeu em Lisboa confirma que não há vitórias garantidas e que os cidadãos escolhem mesmo contra todas as expectativas

A vitória de Carlos Moedas, em Lisboa, foi a grande notícia da noite das eleições autárquicas. O resultado obtido significa, passada a satisfação do momento, um enorme desafio. O primeiro desafio é o da governabilidade do município. Depois terá os desafios de mudar Lisboa com as propostas que apresentou e mudar um sistema que foi moldado ao longo de anos, libertando-o, modernizando-o e tornando-o eficaz para operar a concretização do seu programa. Mas havia um outro desafio que já começou a ser cumprido: demonstrar que a atitude próxima, atenta, dialogante e humilde de fazer política pode ter sucesso.

Esta vitória teve como alicerce uma mudança de atitude na forma de fazer política e na relação com as pessoas, cujo sucesso foi confirmado pelo resultado. O que sucedeu em Lisboa confirma que não há vitórias garantidas e que os cidadãos escolhem mesmo contra todas as expectativas (dos adversários, das sondagens e dos comentadores).
O resultado verificado em Lisboa constitui um desafio à governabilidade do município. Na Câmara, a coligação liderada por Carlos Moedas tem 7 eleitos, os mesmos que o PS, num universo de 17, sendo que o PCP conta com dois vereadores e o Bloco de Esquerda com um eleito. Na Assembleia Municipal – de que depende a viabilização de propostas determinantes para o governo da cidade –, o panorama é igualmente de minoria entre os eleitos diretos: a coligação Novos Tempos elegeu 17 deputados municipais, os mesmos que a coligação PS-Livre, seguindo-se o PCP-PEV com 6, o BE com 4, Iniciativa Liberal e Chega com 3 cada e o PAN com 1. Acresce que este órgão conta ainda com os presidentes das juntas de freguesia, sendo 10 do PSD e CDS, 13 do PS e 1 do PCP.

Este cenário minoritário para Carlos Moedas coloca um desafio na capacidade de viabilizar propostas das quais depende a concretização dos compromissos assumidos no seu programa eleitoral. O diálogo construtivo e a capacidade de demonstrar a bondade das suas propostas perante os seus adversários, a par com o exercício de responsabilidade destes, serão determinantes.

Foram os lisboetas que votaram maioritariamente na mudança e nas propostas apresentadas por Carlos Moedas. A constatação desta realidade e o exercício de humildade democrática e de respeito pela vontade manifestada pelos lisboetas deverão contribuir para a governabilidade do município.

No curto prazo, os lisboetas e os portugueses em geral não entenderiam razoável qualquer tentativa de bloqueio da governação da cidade. Creio até que esse erro seria severamente penalizado na primeira oportunidade. Ninguém ganha com uma atitude de obstaculização.

A abordagem construtiva de Carlos Moedas teve também a sintonia de Fernando Medina na atitude digna do seu empenho no processo de transição e no gesto significativo de convidar o presidente eleito para participar na cerimónia evocativa do 5 de Outubro. Esta atitude deve ser exemplo de maturidade democrática a ser seguida nos próximos tempos em Lisboa e no país.

Ultrapassado o desafio da governabilidade – que depende de Carlos Moedas mas também do bom senso das oposições –, Lisboa espera Novos Tempos na relação com os lisboetas e na concretização das propostas que mudem a cidade para melhor. Este será o desafio central – aquele que vale a pena.