Os mil dias de Bolsonaro

O orçamento está muito apertado para o próximo ano, muitas dificuldades para fechar contas. 

Por Aristóteles Drummond

Os mil dias do Governo Bolsonaro ensejaram uma série de eventos. No geral, o balanço é positivo, em obras, alguma coisa em reformas na legislação, no baixo nível de corrupção, na normalidade social e económica durante a pandemia.

O orçamento está muito apertado para o próximo ano, muitas dificuldades para fechar contas. O Presidente pensando na reeleição quer aumentar os gastos com políticas sociais, quer subsidiar de alguma forma o gás de cozinha e tenta levar os demais governos a diminuírem o imposto sobre combustíveis. Ocorre que os estados pagam suas contas com o que arrecadam com energia, combustíveis e gás, inclusive, telecomunicações, que são os principais e sendo poucos, mais fácil de cobrar. 

No mais, os saldos em divisas e o superávit na balança comercial são robustos. Peca pelo atraso nas reformas indispensáveis para a retomada do crescimento. Situação agravada pelos atritos provocados pelo presidente, que continua numa fase bem-comportada, não se sabe até quando. Foi publicado que o presidente confidenciou na intimidade que sua política de agressões só o prejudicou. Precisa melhorar agora a qualidade de seu círculo mais íntimo no Palácio do Planalto, de conselheiros despreparados, inexperientes e equivocados.

A pandemia é um caso à parte. O Presidente insiste em não usar máscaras, a colocar em dúvida a eficácia de vacinas, a justificar a injustificável demora na compra de vacinas e até hoje o suprimento ao Brasil não ser suficiente para acelerar a imunização, que nas duas doses é menor do que 45% da população. O que é muito pouco. A capacidade do sistema público de saúde é de aplicar mais de dois milhões de doses por dia.

As esquerdas, entretanto, não se beneficiam do desgaste do Presidente em função da já irritante campanha das mídias e da oposição, em exageros menores no combate ao Governo. E na memória popular do que foram os anos PT.

Este mês será importante para a agenda do país: possibilidade de chuvas para conter a grave crise hídrica, o relatório da CPI, leilões da 5G e de aeroportos relevantes como o Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e avanço na vacinação.

Variedades

• O senador pelo Rio de Janeiro Carlos Portinho estará em Lisboa, participando do encontro global sobre os clubes-empresas, no futebol mundial. O senador foi o autor da legislação brasileira recém-aprovada e é advogado especializado no tema.

• O Presidente Bolsonaro parece que quer mesmo nomear o presidente do tribunal de Contas da União, Raimundo Carreiro, embaixador do Brasil em Portugal. A informação causou mal-estar entre os diplomatas de carreira.

• A paz social, sem greves e reivindicações salariais, é considerada pelos agentes económicos como um trunfo do Brasil. O dinheiro que anda sobrando no mundo, em busca de oportunidades, foge não apenas dos altos impostos, mas de greves e do chamado sindicalismo selvagem que perturbam o planejamento das empresas. Outro item que vai entrar na pauta das análises conjunturais é a questão do número de funcionários públicos por cem mil habitantes. A alta dos impostos em muitos países é para atender ao número cada vez maior e mais bem remunerados de servidores públicos.

• Os jornais publicaram as empresas offshore do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ocorre que tudo está declarado às finanças brasileiras e, portanto, foi uma violação do sigilo bancário criminoso. A lista divulgada contém nomes do mundo inteiro. Logo, deve-se primeiro separar o joio do trigo. A divulgação a nível mundial faz parte da campanha contra o capitalismo.

• O Brasil vai criar mais três consulados. Um na China, outro na França, em Marselha, e outro nos EUA, em Portland. E deve fechar algumas embaixadas na África, tornando-as cumulativas como era praxe até os anos PT.

• Em meio a tantos aborrecimentos, o Presidente Bolsonaro ficou feliz com o fracasso das manifestações contra seu Governo nas principais cidades. É que as esquerdas levaram suas bandeiras vermelhas e o povo não participou. O que não implica em apoio a ele, mas mostra o tamanho do desgaste das esquerdas na sociedade.

Rio de Janeiro, outubro de 2021