Associação ZERO alerta para consequências da utilização de fertilizantes agrícolas

Citando o Instituto Nacional de Estatística (INE) para afirmar que as quantidades de azoto e fósforo que são colocadas nos solos nacionais “são quase o dobro do que é extraído pelas culturas”, explicou que o excedente que fica no solo “poderá continuar a ser uma fonte de contaminação difusa para o solo e para as massas de…

A associação ambientalista Zero alertou, este domingo, para os perigos da utilização dos fertilizantes agrícolas em Portugal, adiantando que metade deles pode originar poluição do solo e da água, situação agravada com a agricultura intensiva. Citando o Instituto Nacional de Estatística (INE) para afirmar que as quantidades de azoto e fósforo que são colocadas nos solos nacionais “são quase o dobro do que é extraído pelas culturas”, explicou que o excedente que fica no solo “poderá continuar a ser uma fonte de contaminação difusa para o solo e para as massas de água superficiais e subterrâneas”.

Num comunicado divulgado no seu site oficial, a Zero – que nasceu no final de 2015 – avançou igualmente que a especialização dos sistemas agrícolas através de um modelo do tipo industrial, “tem levado à intensificação pecuária e à dependência de fertilizantes de síntese”, desligando as produções animal e vegetal do ciclo de nutrientes e gerando dependência de matérias-primas não renováveis, como o fósforo mineral. Mencionando uma análise do INE, a associação declarou ainda que embora em 2019 Portugal tenha registado o menor consumo de fertilizantes minerais (azoto e fósforo) da União Europeia, terá havido ainda assim um aumento de 2,7% nesse ano.

“No período 1995-2019 (INE 2021), a quantidade de azoto incorporado no solo é quase o dobro do que é removido pelas culturas, com uma tendência de aumento deste excedente desde 2008 (+2,9% por ano). Para o fósforo, durante o mesmo período, a situação é semelhante: 48% do fósforo aplicado é excedente, o equivalente a cerca de seis quilos por hectare”, esclareceu, alertando que a elevada mobilidade do azoto no solo leva ao seu fácil arrastamento para a água, superficial ou subterrânea, e assegura que a aplicação excessiva de fertilizantes azotados está associada a emissões de amoníaco e óxido nitroso, um gás com efeito de estufa 298 vezes superior ao dióxido de carbono.

Naquilo que diz respeito ao fósforo mineral, um recurso não renovável que gera poluentes quando é processado e que Portugal tem de importar, a sua perda para as massas de água pode gerar eutrofização. Por conseguinte, essa eutrofização devido ao excesso de nutrientes conduz ao aumento das emissões de metano dessas massas de água, um aumento que pode ser substancial no futuro.

De acordo com dados de 2018 da Agência Portuguesa do Ambiente, em território nacional, “tem-se verificado um agravamento do estado das massas de água, tanto superficiais como subterrâneas, com diminuições de 7% e 8% das massas de água em bom estado, superficiais e subterrâneas respetivamente”, sendo o fósforo o principal parâmetro responsável pela degradação da qualidade. A Zero deu a conhecer igualmente que, segundo dados de 2019, aplicava-se estrume em apenas 5,1% dos terrenos agrícolas, mas que os efluentes das agropecuárias geram “pressões elevadas” sobre essas massas. “Enquanto isso, grande parte dos resíduos orgânicos domésticos acabam em aterro. Em 2017, a Zero estimou que seriam desperdiçados cerca de 100 milhões de euros por ano em nutrientes que poderiam ser devolvidos aos sistemas agrícolas”, referiu.

Deste modo, a associação considera que o país podia fazer uma “modernização sustentável da produção alimentar”, apostando numa política que procurasse a eliminação progressiva dos riscos de excesso de nutrientes e a dependência de fertilizantes minerais, e eliminasse os apoios para a industrialização da agricultura e do espaço rural.