Um liberalismo sustentável (III)

Metade dos idiotas que se candidatam às nossas universidades e se divertem nas barbaridades das praxes nazis, pensariam duas vezes antes de ‘iniciar os estudos’.

Quanto ao segundo  princípio de Rawls – «justa igualdade de oportunidades» –, Claude Gamel propõe reformulá-lo no que chama «capacidades enriquecidas».  Para isso recorre  ao economista Amartya Sen.  

Para os jovens, há necessidade de uma educação financiada com fundos públicos… descentralizada e pedagogicamente autónoma, com professores recrutados por cada escola de acordo com os contratos normais no privado.  Para os jovens adultos, propõe uma revisão completa do sistema de ensino superior (urgentíssimo entre nós, sublinho eu).  

Os diplomas desvalorizaram muito. Em Portugal nem se fala. Um diploma era um sinal que reduzia a incerteza da empresa empregadora, pois havia a experiência da fiabilidade dos diplomas nas  gerações anteriores; hoje não garantem nada. Com raras excepções, como os de Medicina, nomeadamente. Que o BE e o ministro do Ensino Superior agora também querem degradar. 

Gamel não quer reduzir o acesso à universidade. O que pensa – como também penso há muito –  é  que as universidades devem ser privadas ou públicas, selectivas e competitivas. De onde vem, ou vinha, e nasce a criatividade e a riqueza americana? De Harvard, MIT, Princeton, Cornel… 

Para aceder a esse ensino, os candidatos teriam de fazer provas rigorosas (em Cornell, nos cursos a sério, Ciências e Matemáticas,  só entravam  5% dos candidatos, com 75% numa prova de inglês que é a mesma para nacionais e estrangeiros). 

E a não ser que provem não ter recursos (tive essa experiência com o meu filho, que ali se licenciou em Física) terão de pedir um empréstimo, num dos vários sistemas existentes, como no  australiano, onde os alunos os obtêm a juros zero, ou no sistema do Oregon, onde a educação é gratuita e subsequentemente reembolsada de acordo com os recursos. 

Assim, metade dos idiotas que se candidatam às nossas universidades, muitos dos quais vão em bons carros para as aulas e se divertem com as   barbaridades das praxes nazis,  pensariam duas vezes antes de ‘iniciar os estudos’.  Hoje, em Portugal especialmente, as entradas são uma  formalidade e as propinas ridículas. E os medíocres  recebem o seu diploma de doutores.  Ora, ter um diploma em Arqueologia não faz necessariamente um Indiana Jones…

O modelo de Gamel não reduziria necessariamente o número de alunos, mas ofereceria uma gama de opções o mais adequada possível às capacidades, interesses  e vocações individuais.  Em vez de se tentarem reduzir as desigualdades de rendimento por meio da redistribuição ex post, é melhor apostar o máximo possível no capital humano ex ante – insiste Gamel.

Portugal nunca se desenvolverá sem, nomeadamente, sine qua non, uma mutação na educação. Terá a Iniciativa Liberal, se vier a ser parte no poder, lucidez e coragem para pressionar, também, nesse sentido?