Não sou grande frequentador de redes sociais mas dizem-me que nas mesmas a contestação aos aumentos dos combustíveis se está a tornar viral, uma palavra tão querida dos amantes das referidas redes. Também achei curioso receber uma mensagem de um amigo que costuma ter uma visão distanciada das polémicas e que as únicas redes que frequenta são as dos pescadores, que me dizia que este aumento da gasolina e do gasóleo pode estar para António Costa como o bloqueio da Ponte esteve para Cavaco Silva.
Certo é que ontem à tarde o secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, apareceu, de uma forma insólita, a dizer que «o Governo determinou hoje a redução extraordinária e temporária das taxas unitárias de Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos (ISP) aplicáveis à gasolina e ao gasóleo. Face ao contexto extraordinário do preço dos combustíveis, verificou-se um crescimento na receita fiscal de IVA associado ao aumento destes preços, num montante anual de 60 milhões de euros. O que agora se devolve integralmente terá reflexos nas respetivas taxas unitárias de ISP. Assim, este valor é devolvido aos consumidores por via de uma redução temporária, sujeita a monitorização da evolução dos preços dos combustíveis, da taxa de ISP aplicável à gasolina e ao gasóleo, no valor unitário de 2 cêntimos por litro e 1 cêntimo por litro, respetivamente».
Esta decisão amorosa termina ainda com mais uma novidade: «Procedeu-se a um arredondamento do valor da redução da taxa do gasóleo (de 0,6 cêntimos por litro para 1 cêntimo por litro), o qual aumenta a devolução aos consumidores para 90 milhões de euros ao invés dos 60 milhões de receita adicional de IVA».
Confesso que fico estupefacto com a ‘lata’ deste Governo. Em nome de uma transição energética e da redução de combustíveis fósseis, o Executivo de António Costa tinha colocado em todas as bombas de gasolina do país slot machines que só davam prémios ao Governo. Todos os outros só perdem. Como a escandaleira começou a ser tão grande, mandaram um secretário de Estado dizer que o Governo ia deixar de roubar de uma forma tão descarada e que até iam devolver o que ganharam a mais.
É uma vergonha a forma como o Executivo quer ‘sacar’ dinheiro sem ser através do IRS, para que os trabalhadores não deem imediatamente pelo desfalque na carteira. Curiosamente, o Governo aposta muito nas estradas, seja através dos combustíveis, seja nas multas previstas. Tudo serve para depenar o povo e isso pode terminar um dia, quando a rapaziada das redes sociais descobrir que a vida se faz nas ruas e não atrás de ecrãs de computadores ou de telemóveis.
Apesar do povo ser manso – a propósito, a proibição de menores de 16 anos assistirem a touradas é inacreditável, pois podem ver tudo nos telemóveis, menos corridas de touros ao vivo – acho que o Governo não se irá livrar de uma enorme contestação nas ruas. O aumento dos combustíveis afeta a sociedade de uma ponta à outra e é natural que tudo fique mais caro. Além dos camionistas, agricultores, empresários de pedreiras, etc, que vão ficar com menos dinheiro para investiram e viverem o Governo ainda terá de lidar com as greves dos profissionais de saúde e calculo que a contestação não fique por aqui. Os vendedores de sonhos às vezes são descobertos…
P. S. A semana passada um amigo contou-me que no fim de semana à noite o preço dos Ubers estava o dobro dos táxis e que alguns demoravam uma eternidade, acabando por ter desistido das corridas e ter sido obrigado a pagar dois euros e meio por cada desistência. Estaremos perante um regresso aos táxis tradicionais?
vitor.rainho@sol.pt