Nutricionistas alertam para desigualdades sociais na alimentação provocadas pela pandemia

Um inquérito da DGS sobre a alimentação e atividade física em contexto de contenção social concluiu que “36,8% dos inquiridos mudaram os hábitos alimentares, sendo que 58,2% afirma que alterou para melhor e 41,8% modificou o padrão alimentar para pior”.

A Ordem dos Nutricionistas considerou, este sábado, que o inquérito da Direção-Geral da Saúde sobre a alimentação e atividade física em contexto de contenção social dá “conta que a pandemia veio agravar, ainda mais, as desigualdades sociais na alimentação e portanto, na saúde”.

Segundo o REACT – COVID 2.0, as pessoas mais jovens e desfavorecidas aumentaram o consumo de refeições pré-preparadas, de snacks doces e salgados e refrigerantes, além de terem encomendado mais refeições em takeaway.

Em comunicado, a Ordem dos Nutricionistas refere que o estudo prova que “os erros alimentares seguem uma gradação social”. Na sua ótica, “quanto mais baixa a posição, pior o consumo alimentar” o que potencia “mais doenças relacionadas com a má alimentação, como a diabetes, a obesidade, as doenças cardiovasculares ou o cancro”.

É, por isso, necessária “a intensificação das ações da estratégia nacional de promoção a alimentação saudável com enfoque na literacia na alimentação em particular nas populações mais vulneráveis, no sentido de limitar as desigualdades sociais na alimentação”.

Já a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, salienta que “o acesso a alimentação adequada é um direito humano” e “exige-se uma abordagem multissectorial e essencialmente política, destacando-se a importância de todos os decisores políticos dos diversos setores intensificarem medidas com potencial impacto na melhoria dos hábitos alimentares da população para garantir que todos os portugueses – todos sem exceção –, tenham acesso a uma alimentação justa, equilibrada, sustentável e saudável”.

O inquérito da DGS divulgado este sábado foi realizado entre maio e junho de 2021 e contou com uma amostra de 4.930 indivíduos, com 18 ou mais anos. O estudo concluiu que “36,8% dos inquiridos mudaram os hábitos alimentares, sendo que 58,2% afirma que alterou para melhor e 41,8% modificou o padrão alimentar para pior”.

“Foram encomendadas mais refeições em takeaway (32,2%) e foram consumidos mais snacks doces (26,3%), no entanto, e positivamente, o consumo de água aumentou (22,3%), assim como de hortícolas (18,6%) e de fruta (15,2%)”, explica a Ordem dos Nutricionistas.  
O inquérito “confirmou o impacto do contexto pandémico nas alterações no quotidiano dos portugueses, já confirmadas na primeira fase do estudo que, realizada em maio de 2020, anunciou que metade da população inquirida (45,1%) reportou ter mudado os seus hábitos alimentares durante o primeiro confinamento e 41,8% teve a perceção de que mudou para pior”.

Na sexta-feira foi também conhecido um estudo do Instituto Português de Estatística (INE), intitulado ‘Balança Alimentar 2016 – 2020’, que concluiu que o aporte calórico médio diário aumentou face ao último período em análise (2012 e 2015) e que representa duas vezes o valor recomendado para um adulto com um peso médio saudável.