Haiti. Missionários americanos raptados por gangue

Não se sabe qual dos muitos gangues haitianos, alguns dos quais se dizia responderem diretamente ao Presidente Moisë, será responsável pelo crime.

No meio do caos que se vive no Haiti, ninguém está a salvo da brutalidade dos gangues, num país que vive uma epidemia de raptos a que não escapam ricos ou pobres. Desta vez foram levados missionários americanos e as suas famílias, um grupo que incluía pelo menos 14 adultos e três menores, avançou a CNN.

Os missionário seguiam de autocarro, vindos de Titanyen, a norte de Porto Príncipe, e foram apanhados quando iam visitar um orfanato na região de Croix des Bouquets, a noroeste da capital haitiana. Faziam parte da Christian Aid Ministries, uma organização de caridade sediada no Ohio. “Rezem para que os membros do gangue cheguem ao arrependimento e à fé em cristo”, apelou um comunicado da Christian Aid Ministries, citado pelo Washington Post. 

Ainda não é claro qual dos gangues da capital – estima-se que haja uns trinta, com nomes como G9, 5 Seconds ou 400 Mawozo, que mantêm sob o seu total controlo cerca de metade de Porto Príncipe – é responsável pelo sequestro dos missionários americanos. Mas, mesmo num país tão inseguro, o atrevimento de raptar um grupo tão grande de americanos, sabendo que haveria uma retaliação, deixou os analistas perplexos.  

O certo é que estes grupos criminosos há muito que mantêm o Haiti na sua mão, sendo apoiados e financiados por empresários e políticos poderosos. Cada fação tem o seu próprio gangue, mas o assassinato do Presidente Jovenel Moïse – que era acusado de ele próprio manter um dos principais gangues do país às suas ordens, lançando-os contra os seus opositores – parece ter deixado a situação até fora do controlo destas elites.

Só esta semana foi desviado um outro autocarro em Porto Príncipe, tendo outro sido alvo de disparos, que fizeram pelo menos cinco feridos, incluindo estudantes a caminho da escola, segundo o New York Times.

Ao medo dos gangues e à instabilidade causada pelo assassinato do Presidente, em julho, somou-se a miséria causada pelo terramoto 7.2 que abalou o país, no mês seguinte. Deixou para trás um rasto de destruição, com um custo avaliado em mil milhões de dólares, mais de dois mil mortos e 12 mil feridos, num momento em pelo menos um milhão de haitianos dependem de ajuda humanitária para sobreviver. 

  

Predar os mais vulneráveis Os gangues haitianos desalojaram milhares, matam com impunidade, extorquem pequenos negócios, roubam armazéns de bens essenciais e raptam gente pobre por quantias tão baixas quanto umas míseras centenas de dólares. 

“Estamos só a aquecer”, assegurou Jimmy Cherizier, mais conhecido como “Barbecue”, um antigo polícia que lidera o G9, um gangue que se dizia ser uma espécie de milícia do Presidente Moïse. 

Cherizier, que jurou vingar o Presidente, é suspeito do pior massacre das últimas décadas no Haiti, matando 59 homens, mulheres e crianças no bairro de Las Salinas, um reduto da oposição. Mas diz que prefere ver-se como um líder comunitário. 

“Isto é só miséria”, explicou “Barbecue” à Associated Press, apontando para um grupo de crianças entusiasmadas à sua volta, que o saudavam com admiração. “Nenhum destes miúdos tem um futuro. Daqui a dez anos, terão armas nas mãos”.