Panteão dá visto a Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes foi homenageado com honras de Panteão Nacional.

Portugal teve, durante a Segunda Guerra Mundial, uma figura que se destacou pelo humanismo, pela luta pela liberdade e pela salvação dos refugiados que fugiam das garras opressoras do regime nazi. Aristides de Sousa Mendes, que foi cônsul em Bordéus, e que, contam os relatos, ajudou mais de 10 mil pessoas a fugir da guerra e da morte certa, recebeu, na terça-feira, honras de Panteão Nacional.

Várias figuras políticas – entre as quais Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Eduardo Ferro Rodrigues, Durão Barroso, antigo primeiro-ministro português, e Carlos Moedas, que tomou posse na segunda-feira como presidente da Câmara de Lisboa –, junto de historiadores, familiares e estudiosos do percurso de Sousa Mendes, como Margarida de Magalhães Ramalho, estiveram presentes no Panteão Nacional para homenagear o antigo cônsul português, que desafiou as ordens do Estado Novo, e que terá ajudado à fuga de milhares de refugiados para Portugal e, a partir deste país à beira-mar plantado, procurar refúgio.

“Os que estavam em fuga apenas queriam chegar ao sul de França e passar a fronteira. Tarefa nada fácil, pois tinham de ter válidos quatro vistos: saída de França, entrada em Espanha, que pressupunha uma entrada em Portugal, e esta pressupunha um visto definitivo para outro país”, explicou, durante o evento, a investigadora Margarida de Magalhães Ramalho, coautora do Museu Virtual dedicado ao antigo cônsul. “É neste contexto de angústia e desespero generalizados que Aristides Sousa Mendes, que desde o início da guerra vinha emitindo alguns vistos à revelia da circular 14, o que lhe custou várias chamadas de atenção, decide, a 17 de junho, escutar a voz da sua consciência e, ao arrepio das ordens de Lisboa, começa a emitir vistos a toda a gente, ordenando aos consulados dele dependentes que fizessem o mesmo”, continuou a investigadora.

MARCELO ELOGIA DIVERSIDADE No seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, começou por declarar, em seguimento às ações de Aristides de Sousa Mendes, que “não há raças, etnias, religiões, culturas, civilizações que sejam umas mais do que outras”.

“Recordando-nos, nas palavras de Paulo, que não há judeu nem romano nem grego nem outros mais. Isto é, não há raças, etnias, religiões, culturas, civilizações que sejam umas mais do que outras, e que não mereçam todas e todos o mesmo respeito da dignidade da pessoa, da sua indestrutível natureza, da sua inexpugnável diferença”, reforçou o Presidente da República, que fez questão de relembrar aqueles a quem o antigo cônsul português se junta no solene edifício, onde partilhará “a homenagem pátria com tão diferentes escritores como Camões, Almeida Garrett, João de Deus, Guerra Junqueiro e Aquilo Ribeiro, ou tão opostos presidente da República quanto Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona”.

A homenagem a Aristides de Sousa Mendes aconteceu sem a presença do corpo no túmulo, que ficará na sua terra natal, em Cabanas de Viriato, Viseu.

A iniciativa partiu de uma proposta da deputada não inscrita Joacine Katar Moreira (ex-Livre).