Governo quer que concorrentes façam “uma parte” dos comboios da CP em Portugal

Em causa está o concurso para a CP – Comboios de Portugal comprar 117 unidades automotoras elétricas, das quais 62 para serviços urbanos e 55 para serviços regionais.

No discurso de apresentação do Centro de Competências Ferroviário (CCF), em Guifões, Matosinhos, Pedro Nuno Santos começou por criticar a “legislação europeia muito desafiante”, que considera servir “para garantir a divisão do trabalho que existe se mantenha”, com Portugal a dar cartas no turismo, têxtil e calçado, enquanto “comboios e aviões são os alemães e franceses”.

“Qualquer coisa que possamos colocar no caderno de encargos pode ser usado para o impugnar”, considerou, indicando que as regras “são muito difíceis” nesta matéria.

“O que estivemos a fazer foi, dentro da lei europeia, explorar todas as possibilidades para que quem queira vender a Portugal saiba que tem de fazer alguma coisa cá. Não podemos garantir que isso vá acontecer, mas sim que as condições estão criadas para que os concorrentes percebam que, para poder vender a Portugal, têm de fazer cá” uma parte desses trabalhos, reforçou.

Em cima da mesa está o concurso para a CP – Comboios de Portugal comprar 117 unidades automotoras elétricas, das quais 62 para serviços urbanos e 55 para serviços regionais.

Em Conselho de Ministros, foi autorizado um gasto até 819 milhões de euros, mais IVA, para a compra dos 117 comboios, mas a CP pode incluir nos documentos de concurso o direito de opção de aquisição de até 36 unidades adicionais para os serviços urbanos.

“Espero que o concurso seja lançado em breve”, disse o Ministro das Infraestruturas e da Habitação, sem adiantar datas concretas. Contudo, fez saber que o objetivo é que “o caderno de encargos garanta, e que [os concorrentes] percebam que para vender comboios a Portugal vão ter que fazer uma grande parte cá e com empresas portuguesas”.

“Temos o direito, ambição e a capacidade de produzir cá, temos do melhor que há no mundo”, insistiu.

Na ótica do ministro, estes construtores terão “a capacidade de se estabelecer para fornecer Portugal, mas também usar Portugal como base para exportar para todo o mundo”.

“Se conseguirmos que as nossas empresas ganhem competências na indústria, (…) amanhã vamos ter empresas portuguesas que não fazem um comboio, mas vão ser fornecedores dos construtores de comboios”, garantiu.

O ministro defende que se o país vai “investir na ferrovia, que seja Portugal a beneficiar” do investimento.

O CCF, que vai dar formação, incubar empresas e trabalhar em investigação no setor ferroviário, deverá arrancar em 2022.