Manifesto socialista em defesa de Rui Rio

“Como é sabido, o nosso PM – como todos os grandes líderes – não tem paciência para quem dele discorda, não tolera perguntas impertinentes, não suporta, enfim, certas regras da Democracia. Jornalistas atrevidos, idosos que perturbaram a sua campanha eleitoral, deputados ignorantes e a GALP já perceberam que sem respeitinho o caldo entorna.”

Por João Cerqueira

Escritor

Nós, os socialistas, manifestamos a nossa solidariedade ao nosso camarada em apuros Rui Rio.

Como nunca abandonamos os nossos feridos em combate – excepto quando vão parar à cadeia ou dizem o que não devem -, levantamo-nos agora em defesa do nosso melhor aliado para nos mantermos no poder. Porque, pela primeira vez na História da Democracia, Rio mostrou como se faz oposição ao PS: não se faz! A oposição aos governos do PS é a oposição a Portugal. O regresso do Fascismo, da Troika e das Entidades Reguladoras independentes; a possibilidade dos portugueses acordarem e perceberem que existe outro rumo; e outras chatices. Com coragem e sentido patriótico, Rio compreendeu-o bem e fez oposição a quem deveria fazer: à Direita e aos seus críticos dentro do PSD.

E a isto chama-se oposição responsável.

Desse modo, Rio percebeu também que se fez o 25 Abril para rumarmos ao Socialismo e, como tal, o lugar da Direita que com magnanimidade a Esquerda lhe esmola é ficar sentada num canto, aplaudir quando lhe mandam e baixar a cabeça para levar uns cachaços quando se porta mal. Responsável e obediente, Rio auxiliou-nos sempre nas horas difíceis e conseguiu ainda dividir e rebaixar a imagem do seu partido como nunca antes se vira.

É obra.

Como é sabido, o nosso PM – como todos os grandes líderes – não tem paciência para quem dele discorda, não tolera perguntas impertinentes, não suporta, enfim, certas regras da Democracia. Jornalistas atrevidos, idosos que perturbaram a sua campanha eleitoral, deputados ignorantes e a GALP já perceberam que sem respeitinho o caldo entorna. E como Rio se identifica com este ideário de reverência, submissão e traulitada, tratou de o livrar daquela maralha do Parlamento que pretendia incomodá-lo quinzenalmente pedindo-lhe contas sobre a governação. Mostrando uma vez mais ser responsável, Rio argumentou que o PM tem mais do que fazer do que aturar deputados e não faltam exemplos na História de governantes e caudilhos que nunca puseram os pés num Parlamento – ou se o fizeram foi para ouvir aplausos.

Logo, Rio não poderia ser mais nosso amigo. A amizade do PCP e do BE esconde uma faca afiada atrás das costas. Mas com Rio não há surpresas – é o nosso homem de confiança. Acaricia a rosa e colhe os espinhos para os espetar nos seus críticos.

O problema é que no PSD há quem lhe queira calçar uns patins e pô-lo a mexer. Ora como sabemos, o PSD é um perigo – volta e meia derrota-nos nas eleições e por vezes conserva o poder durante anos, levando ao desespero os camaradas que nada mais sabem fazer nada vida. Cavaco escreve um artigo e tremem-nos as orelhas; Passos ameaça voltar e dá-nos um chilique. Por isso, não podemos perder este aliado. E, sabendo como a comunicação social e as universidades estão dominadas por liberais que denigrem a nossa doutrina, neste clima adverso ao Socialismo há que cerrar fileiras e envidar todos os esforços para que Rui Rio se torne presidente vitalício do PSD.

Camarada Rio, aguente-se! Rangel não vale um pincel e nós não vamos ficar de braços cruzados.

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