A ciclovia e a capela!

É estranho! É estranho, porque eu passo, de carro, todos os dias naquela ciclovia e não se veem sequer duas pessoas a subir ou a descer de bicicleta.

Alguns poderão não imaginar que alguma vez uma ciclovia pudesse ter alguma coisa a ver com uma capela, mas há muitíssimas semelhanças e espero com este pequeno texto poder demonstrá-lo.

Numa das minhas paróquias existe uma capela, muito pequenina, que é governada por uma mulher muito grande e muitíssimo zelosa do seu papel de guardiã do espaço sagrado. 

Pequenina como é a capela, não cabem lá mais de vinte pessoas!

Há uns anos eu tive de tomar a dura decisão de celebrar a eucaristia na capela apenas durante os dias de semana. Comuniquei que deixaria de celebrar a eucaristia aos domingos naquela capela. Afinal, a capela fica a menos de cinquenta metros de distância da Igreja paroquial, onde existe missa todos os domingos.

Duas semanas depois de ter anunciado a minha decisão, recebo um e-mail do vigário-geral a questionar-me sobre o sucedido, porque a Irmandade (dona da referida capela) tem o direito, pelos estatutos, a ter um capelão. E é verdade! Foi nomeado um capelão!

O centro da história ainda não foi dito… o centro da história diz-se em poucas palavras e isso é que é o caricato… imagine-se que foi apresentado um abaixo assinado, com mais de cem assinaturas – género de petição – a pedir para ter missa aos domingos.

Eu fiquei admirado… imagine-se… naquela capela não cabem mais de vinte pessoas e houve cem assinaturas de gente que nunca tinha lá tinha estado e que depois de assinarem a petição também nunca mais lá voltaram.

Não importa!

Sim! Não importa mesmo quem são as pessoas e se querem ou não querem as missas! 

O que importa é que conseguiram o que uma pessoa queria! (talvez mais meia dúzia).

O que eu li nos jornais sobre a ciclovia da Almirante Reis (que fica mesmo ao lado desta capela) deve ter sido inspirado nesta petição.

Eu li que ‘um milhar de pessoas’ (maneira parva de dizer ‘mil pessoas’) se manifestou contra a ideia de se retirar aquela ciclovia…

É estranho! É estranho, porque eu passo, de carro, todos os dias naquela ciclovia e não se veem sequer duas pessoas a subir ou a descer de bicicleta.

Realmente, o que vejo é gente a usar aquela ciclovia para correr para cima e para baixo, para andar de trotinetes e pouco mais. 

Isto faz-me lembrar os que são a favor e acérrimos defensores da escola pública, mas têm os seus filhos na escola privada. O mesmo aconteceu na minha capela, querem missa aos domingos, mas os seus corpos não põem lá os pés. Assim, também, na ciclovia: manifestam-se contra a retirada da ciclovia e, provavelmente, andam de carro.

Se me perguntam se sou a favor das ciclovias? Sou!

Eu acho que devemos todos mudar os nossos hábitos e passarmos todos a andar de bicicleta!

Mas, sinceramente, antes de mudarmos de hábitos e começarmos a pedalar, talvez seja bom mudarmos os ordenados para podermos comprar uma bicicleta de jeito ou, então, fazerem bicicletas sociais, a baixo custo, para podermos ter acesso.

Uma outra coisa que deveria mudar, para além dos nossos maus hábitos automobilísticos, é o pavimento das estradas.

Sim! Eu imagino-me, muitas vezes, subir a estrada que vai da igreja da Madalena, que passa pela Sé e vai ter ao Castelo. Até o meu carro se queixa, quanto mais a bicicleta.

E já imaginaram subir aquilo tudo? Até era capaz de me fazer bem para perder os dez quilos que ganhei nos confinamentos.

Também há quem diga que posso comprar uma bicicleta elétrica… mas não posso! Não posso, porque não tenho dinheiro para a comprar.