Moody’s. Incerteza e impasse político é negativo para o crédito

É a primeira agência de rating a reagir à situação política em Portugal. Mas especialistas admitem que impactos vão ser ainda maiores.

As agências de notação já estão atentas à situação económica do país e também à sua instabilidade política. A Moody’s foi a primeira a reagir ao considerar que a rejeição do Orçamento do Estado para 2022 deverá levar, “muito provavelmente”, a eleições antecipadas, sem saber qual será o desfecho, o que no entender da agência de notação, poderá dificultar soluções de governo estáveis. “Esta incerteza é negativa para o crédito português já que um impasse político poderá impedir o Governo de conseguir executar as metas necessárias para que os fundos do Next Generation possam ser libertados”, defende a agência de rating.

E lembra que o Orçamento chumbado “não era particularmente austero”, dando como exemplo, o aumento do salário mínimo, os gastos com a saúde, as pensões e os salários na Função Pública, chamando ainda atenção para o facto de o desentendimento entre o Governo e os partidos de esquerda não se deveu especificamente ao Orçamento, mas à recusa de António Costa em reverter algumas alterações à lei laboral.“Na ausência de um novo orçamento, o Orçamento de 2021 continuará em vigor. Como as medidas de combate à pandemia têm sido retiradas de forma faseada, este orçamento [em duodécimos] não significará um risco particular para a meta do défice”, garante a Moody’s.

Impacto já se faz sentir

Ainda esta sexta-feira, as taxas a dez anos registaram a maior subida desde o início da pandemia ao disparem mais de 30%. Também os juros das obrigações a cinco anos estão em alta em 11 pontos base, embora se mantenham em terreno negativo: -0,146%. Mas os especialistas contactados pelo Nascer do SOL reconheceram que os impactos não vão ficar por aqui. “O chumbo do Orçamento e as dificuldades governativas não serão certamente neutras para os mercados. Provavelmente, nestes próximos meses, haverá ainda expectativa e poucas mudanças, mas a situação não é de todo favorável a um país tão endividado e, por isso, tão dependente dos mercados”, garante João César das Neves.

Também Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, afirma que “as agências de rating, bem como os investidores, não gostam de instabilidade política”. De acordo com o responsável, os efeitos já se refletiram nos últimos dias com o prémio de risco de Portugal a subir. Uma opinião partilhada por Henrique Tomé, analista da XTB. “O mercado obrigacionista tem reagido ao chumbo do Orçamento do Estado e à instabilidade política que se vive no nosso país, embora o mercado bolsista continue dependente do que se passa nos mercados internacionais”. E apesar de garantir que a curto prazo não existe risco das agências de notação olharem para Portugal de lado, reconhece que “se esta situação se prolongar por demasiado tempo as agências de notação, bem como os investidores poderão começar a olhar para Portugal com outros olhos”.

Já Mário Martins, analista da ActivTrades, apesar de admitir que ainda é cedo para alterações no rating atribuído acredita que “é de esperar o posicionamento do outlook para negativo, enquanto não existir uma definição sobre a situação política nacional”. E lembra que, sendo o Orçamento a principal montra de credibilidade para os investidores, “é inevitável uma ligeira penalização, mas que será em grande parte compensada com a intervenção do Banco de Portugal na aquisição de dívida, como tem acontecido”.