OE 2022 chumbado, bipolarização à vista

Agora, tudo depende de Marcelo. Irá convocar eleições como sempre o afirmou ou irá dar 90 dias ao Governo para apresentar novo OE? Acredito que será coerente e iremos para eleições

A realidade sobrepôs-se à racionalidade e o OE 2022 chumbou! Ao contrário do que sempre escrevi, o PCP recusou-se a continuar a caucionar as políticas ditas ‘de direita’ do PS e, assim como em 2015 lhe ‘deu a mão’ para formar o Governo (nunca esquecer que, na altura, Jerónimo afirmou: «O PS só não forma Governo se não quiser»), em 27 de outubro deixou Costa de ‘mão estendida’.

Caiu o Governo, a vida continua, como o demonstrou Marcelo que, fiel aos seus princípios de cidadania, foi pagar contas ao multibanco. Todos os dias as pessoas que têm a sorte de estar empregadas continuam a ir para os seus locais de trabalho, com mais ou menos trânsito ou greves nos transportes. Todos os dias os eleitores em nome de quem todos falam, continuam a fazer as suas vidas, cada vez com maior indiferença aos jogos de poder que cegam e inebriam os partidos e os afastam dos eleitores, como se vê pelas elevadas taxas de abstenção.

A maior prova de que os partidos só pensam em eleições foi dada nestes últimos dias de discussão parlamentar. Ainda o OE não tinha sido votado, já todos os partidos estavam um passo à frente. Sobretudo Costa, claramente a dar o mote eleitoral, ao acentuar as perdas de uma grande faixa dos eleitores porque a esquerda radical iria preferir juntar-se ‘à direita’, qual malfadada oposição e fonte de todos os problemas nacionais, como se viu no tempo da troika. 

Costa não foi de modas e elaborou um discurso profundamente populista, acentuando implacavelmente o resultado que um chumbo do OE teria, impedindo os eleitores de terem acesso às melhorias salariais e de pensões bem como aos benefícios fiscais às famílias que o PS propunha. Sabendo que a Saúde passa por uma crise sem precedentes no SNS, com vários hospitais públicos em rotura, relembrou o esforço orçamental que iria dotar mais 700 milhões para o setor. Frisando que era o OE mais à esquerda de sempre, o objetivo ficou claro: roubar votos à sua esquerda para conseguir a maioria no Parlamento.

Agora, tudo depende de Marcelo. Irá convocar eleições como sempre o afirmou ou irá dar 90 dias ao Governo para apresentar novo OE? Acredito que será coerente e iremos para eleições, mesmo com PSD e CDS em lutas internas e intensas de liderança. Caberá a estes resolver os seus problemas e certamente o irão fazer, em nome dos seus próprios interesses e, sobretudo, dos eleitores que neles votam. 

Se vamos para eleições, dissertemos um pouco sobre estratégias eleitorais. Do PS de Costa já se percebeu qual vai ser. Sobre o PCP, percebemos agora claramente que é um partido antissistema – ou seja não sabe conviver com eleições, mas apenas com revoluções. Não se importando minimamente com a realidade de estar em perda eleitoral acentuada, explicou ao país atónito que é coerente com o seu ideal revolucionário e antieuropeu. O Bloco e o PAN vêm agora o PS como principal opositor, sobretudo com Costa a arvorar-se o defensor da esquerda e suas ideias, «onde nasceu e sempre viveu».

Então como irá a direita do PS reagir? Para mim, o ideal a prosseguir é muito simples – repetir Lisboa, desta vez integrando a Iniciativa Liberal. Só uma nova Aliança Democrática reformulada terá hipóteses, perante um PS com uma máquina eleitoral poderosa e que inclui muita da comunicação social que domina com os seus ‘boys’, como se tem visto nas capas de jornais e alinhamentos editoriais de algumas televisões que seguem já o mote dado por Costa. 

No meio disto tudo estão os eleitores e a economia. Aqueles, serão chamados a votar e terão de sentir que vale a pena lá ir – ou para termos um país diferente, com atração de investimento estrangeiro e respeito pelos benefícios da economia privada que crie emprego e melhore as condições de vida dos portugueses ou para dizerem que estão de acordo com estas políticas de esquerda que trazendo ganhos conjunturais nos rendimentos individuais, sobretudo naqueles que dependem do Estado, mas que nos tem colocado na cauda da Europa. A economia, essa, vai ficar parada até às eleições, em estado de subsistência, adiando investimentos e vivendo em duodécimos.

Marcelo tem a palavra e todos esperamos que a saiba usar. Ao longo deste processo tentou por todos os meios evitar a ida para eleições, convencido que os inconvenientes suplantariam as vantagens. Desdobrou-se em contactos, tentou influenciar este e aquele, sem quaisquer resultados. Aqui chegados, temos de confiar em alguém e se não for Marcelo, quem poderá ser?

P.S. – No meio deste salsifré, Albuquerque veio admitir que o PSD-Madeira pudesse viabilizar o OE 2022, quiçá contagiado pelas práticas de Rio que, durante estes anos, esteve várias vezes ao lado do PS. Estou em crer que não é apenas o PSD nacional a precisar de mudar de liderança…