Pedro Nuno Santos acredita no futuro da Geringonça depois de ter durado seis anos

O ministro afirmou que a Geringonça não foi um “parêntesis” e que a direita terá que se habituar a isso.

Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e cabeça da ala mais à esquerda do PS, realçou ontem que a Geringonça durou seis anos, não sendo por isso um mero “parêntesis” na democracia portuguesa. Aliás, nas palavras do ministro, a Geringonça “funcionou” – algo a que a direita “tem de se habituar”.

Pedro Nuno Santos falou aos jornalistas em Vila Real de Santo António, à margem da celebração do contrato referente à eletrificação da linha de comboio entre essa cidade e Faro.

O ministro notou ainda que, na democracia portuguesa, com exceção do executivo de Cavaco Silva, este executivo de António Costa foi o que mais durou – seis anos. Além disso, considerou que as “eleições fazem parte da democracia”, razão pela qual é necessário “conviver com naturalidade” com a sua antecipação.

Mostrou-se também nos antípodas de concordar com a direita quanto ao facto de a Geringonça não ter funcionado: “A única coisa que eu sei é que temos ouvido muitas afirmações, normalmente de quem se posiciona à direita – e é importante também referir isso, porque isso tem uma lógica –, de como se o fim desta solução provasse que ela não funciona. E a verdade é que ela durou seis anos”.

Mas mais que isso: “funcionou”, não só “pelo tempo que durou, mas pelos resultados que proporcionou ao país”. E que resultados foram esses? O ministro destaca dois, ambos “antes da pandemia”: “um excedente orçamental” e ter conseguido “reduzir a dívida pública em percentagem do Produto Interno Bruto”. “Extraordinário” – considerou – foi, também, um “Governo apoiado pelo Partido Comunista Português e pelo Bloco de Esquerda” ter conseguido “uma taxa de juro inferior à de Itália e à de Espanha”.

Questionado sobre a possibilidade de uma governação de Geringonça ser repetida, Pedro Nuno Santos foi perentório: “Eu sei que isto incomoda muito a direita portuguesa. Mas vão ter de se habituar porque ela não foi um parêntesis na história da democracia portuguesa”.

Em 2015, António Costa formava um maioria parlamentar com o apoio da esquerda dita extrema: PC, PEV e BE. À época, no Público, Vasco Pulido Valente batizava-a como “Geringonça”, tendo a palavra entrado na casa da democracia pela boca de Paulo Portas: “este Governo parece uma geringonça”.

Todavia, já em 2014, num ‘remake’ das Noites da Má Lingua, na SIC, o escritor Miguel Esteves Cardoso apresentava uma espécie de “primeira maquete” do que se viria a cristalizar como Geringonça.

“A Esquerda ainda não percebeu que se o PS se juntar ao PCP e ao BE isto equivale a governar para sempre Portugal. Sempre. Ininterruptamente. Porque têm uma maioria absoluta. Em vez de se queixarem dos bancos e da direita e não sei quê, porque é que não se juntam, filhos? Façam as contas”, sugeria, divertido. Um ano e meio depois, o PS viria a beneficiar do apoio do BE, PCP e PEV para governar Portugal.