Eutanásia. Ânimos exaltados na reta final da discussão na AR

No debate da reapreciação do decreto sobre a eutanásia, foi possível ver pessoas vestidas de preto a assistir desde as galerias

Volvidos oito dias do chumbo do Orçamento de Estado e sete do agendamento da discussão da morte medicamente assistida – ou eutanásia -, o assunto foi debatido esta quinta-feira motivando uma troca de acusações acesa na reta final, na Assembleia da República.

No debate da reapreciação do decreto sobre a eutanásia, foi possível ver pessoas vestidas de preto a assistir desde as galerias, tendo acontecido uma troca de argumentos entre a deputada do PS Isabel Moreira e os líderes parlamentares do PSD e CDS-PP, Adão Silva e Telmo Correia, respetivamente.

“O acórdão tem que ser lido com tempo, com seriedade, olhar para o direito comparado e tenho muita pena ver deputados do PSD e do CDS desprestigiarem o parlamento desta forma. Tenho mesmo muita pena porque os senhores deputados sabem – e ainda a semana passada reapreciaram decretos exatamente da mesma forma – que é assim que se processa estes momentos parlamentares. É assim que se faz”, afirmou a socialista.

Naquilo que diz respeito às queixas da direita, de que se está a “decidir à pressa” e “em segredo”, Isabel Moreira recuou até ao final da legislatura do Governo PSD/CDS-PP. “Enquanto mulher, e todas as mulheres temos medo físico da direita em que vocês se transformaram porque 25.ª hora foi, no último dia da vossa legislatura, transformarem em pó uma lei legitimada por um referendo e atirarem-nos a nós, mulheres, outra vez, para o perigo do aborto clandestino e para o perigo da prisão”, asseverou. 

A primeira reação foi a de Adão Silva, do PSD, que declarou que a sua bancada “não pode aceitar as palavras exasperadas, sem sentido, da senhora deputada Isabel Moreira”. “Senhora deputada Isabel Moreira, mais tolerância e menos arrogância fica-lhe bem”, rematou.

Já Telmo Correia, do CDS-PP, pediu a defesa da honra da bancada, ouvindo-se um sonoro “ohhhhh” vindo das bancadas mais à esquerda. “A razão pelo qual pedi a defesa da honra da bancada, para além das referências do medo físico e outras coisas, tem a ver com o facto de o CDS e a sua bancada desprestigiarem este parlamento”, explicou ao presidente da Assembleia da República, tendo Eduardo Ferro Rodrigues autorizado então que fizesse essa defesa.

Na perspetiva do socialista, Isabel Moreira tem “até alguma obrigação de saber de um pouco da história deste parlamento” e da bancada centrista para “não fazer esse tipo de considerações”. “Pergunte, sem medo, a pessoas que lhe são próximas o que é pensam sobre esta matéria. Defendemos a vida e defendê-lo-emos sempre. Não tenha medo porque nós somos pessoas de bem, democratas e pessoas serenas”, respondeu, acrescentando que o CDS-PP é que tem “medo daquilo que desprestigia este parlamento” que “é o radicalismo e o secretismo com que fizeram este processo”.