António Pipocas Costa

O que define um grande génio da política é conseguir agarrar-se ao poder contra tudo e todos, fazendo para tal alianças ditas impossíveis, derrubando muros e dando facadas nas costas de antigos camaradas

Por João Cerqueira

Escritor

Desde que António Costa formou a ‘geringonça’, os jornalistas independentes que se dedicam a louvar o Socialismo, denegrir os seus adversários e mandar para o caixote do lixo notícias sobre a miséria na Venezuela ou a riqueza na Irlanda, decretaram solenemente que o homem era um génio da política. Nem mais! Ora se ele tinha conseguido derrubar o Muro de Berlim português – aquele que separava os partidos democráticos das forças totalitárias que apoiam ditaduras –, convertendo assim estalinistas e trotskistas aos valores e às regras das democracias europeias que tanto abominam, como não podia ser genial? Não vimos esses mesmos partidos – e o seu próprio PS – aceitarem os cortes no investimento público, na Saúde, na Educação e na Cultura que ainda há pouco consideravam ser a marca indelével do Fascismo Neoliberal? Não os vimos votar orçamentos de austeridade, bem ou mal disfarçados? Pôr tanta gente habituada a dar lições de superioridade moral e a enfatizar a sua coerência ideológica a dar cambalhotas e a fazer cabriolas, só está realmente ao alcance de um génio: António Costa.

Ele pegou numa concertina, começou a tocar e pôs comunistas, bloquistas e muitos socialistas a dançar o Vira, aos pulinhos e de braços no ar, todos contentes, ao mesmo tempo que diziam não apreciar aquele folclore político. É certo que quando alguns espetadores da dança lhes fizeram saber que estavam fartos de semelhante pantomina e lhes viraram as costas, os dançarinos perceberam a figura que estavam a fazer, tiraram a concertina ao músico e escaqueiraram-na. Ou seja, como sucede em muitos arraiais que terminam à traulitada, o Vira acabou mal.

Porém, como o que define um grande génio da política é conseguir agarrar-se ao poder contra tudo e todos, fazendo para tal alianças ditas impossíveis, derrubando muros e dando facadas nas costas de antigos camaradas, António Costa saberá certamente resolver este pequeno percalço. Porque, afinal de contas foram as contas que erigiram a ‘geringonça’.

Contas de somar: se temos 107 deputados e precisamos de 116 votos para aprovar orçamentos e leis, então podemos ir buscar os nove votos que faltam ao PCP e ao BE. Ou a outro partido qualquer. Tudo se resume a arranjar uma nova concertina, tocar uma música diferente e pôr a dançar homens e mulheres tão sedentos de poder quanto o próprio génio político. E só têm de imitar os antigos dançarinos comunistas, meneando o corpo e batendo palmas, aos mesmo tempo que juram deplorar o novo arraial político. E como estamos em Portugal e o que as pessoas querem é ir para as esplanadas, passear no Shopping e discutir futebol – ou seja, que ninguém as chateie -, a coisa irá resultar durante algum tempo.

Venha, pois, o PSD, o CDS, a IL, o CHEGA, o PAN, a Joacine ou o Partido das Pipocas e logo o grande génio político conseguirá montar uma nova ‘geringonça’ com maioria de deputados, erguer os braços triunfante e garantir que Portugal venceu a crise e está cada vez mais próspero e desenvolvido. Governe à Esquerda, governe à Direita, governe com Pipocas e será sempre um tremendo sucesso.

Nessa altura, Sua Excelência, o Senhor Presidente da República suspirará de alívio e garantirá que, uma vez mais, irá ser extremamente exigente para com o novo Governo.