Costa dá ordem para renovação da bancada

Com eleições legislativas à vista, prepara-se um ar ‘fresco’ na bancada socialista e até na presidência do Parlamento. Carlos César é o nome apontado à sucessão de Ferro Rodrigues.

Costa dá ordem para renovação da bancada

Há meses que se discute, se comenta e se questiona quem, no Governo de António Costa, acabará excluído numa eventual ‘renovação’ do Executivo. Agora, com eleições legislativas à vista, há quem diga que finalmente se percebeu por que razão o primeiro-ministro foi sempre adiando uma remodelação governamental – uma vez que já anteciparia a probabilidade de PCP e BE chumbarem o Orçamento para 2022 e de, consequentemente, o Presidente Marcelo dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas. Ora, com este cenário em perspectiva, a remodelação governamental não faria sentido, porque, esperando ganhar as eleições, então António Costa poderia renovar o seu Executivo como bem melhor entender.

O certo é que, segundo todas as fontes ouvidas pelo Nascer do SOL, quer de estruturas nacionais e locais do partido quer da bancada socialista, a ordem de António Costa é mesmo para a ‘renovação’ e começará, desde já, na elaboração das listas de candidatos a deputados.

Com o objectivo publicamente assumido de conquistar a 30 de janeiro uma «maioria reforçada» que dê condições ao PS para governar em estabilidade – ou seja, com maioria absoluta ou com maioria no Parlamento através de acordo com o PAN, por exemplo, mas não ficando refém de PCP e BE, António Costa aproveita a oportunidade para ‘renovar’ e ‘refrescar’ a bancada socialista, procurando incluir novas caras, num esforço por recuperar a imagem de um partido que está já no poder há 6 anos. Fala-se, até, da inclusão de alguns independentes nas listas socialistas, numa mostra de abrangência. 

A necessidade de o PS procurar ‘novos protagonistas’ foi mesmo afirmada publicamente tanto pelo ex-dirigente do Secretariado José Manuel Mesquita, num artigo de opinião publicado no jornal Público, na semana passada, em que falava de um «novo ciclo» político para o PS, que exigia «novos protagonistas», como também pelo histórico Manuel Alegre, ao falar do «virar de página» numa entrevista à TSF esta semana.

Senadores na reforma e César da calha

A renovação passa também pela saída das listas de algumas das figuras também já ‘históricas’ da bancada socialista. Que começará, aliás, pelo próprio presidente da Assembleia da República nos últimos seis anos.

De facto, embora não esteja ainda confirmado oficialmente e pelo próprio, várias fontes socialistas  dão como certa a não recandidatura de Eduardo Ferro Rodrigues nas eleições de janeiro de 2022. Em declarações ao Nascer do SOL, o deputado Ascenso Simões garantiu que Ferro Rodrigues «já anunciou que não volta a candidatar-se».

A confirmar-se, a questão que se colocará imediatamente a seguir é quem na bancada do PS poderá ascender a segunda figura do Estado em caso de vitória do PSe de uma maioria de esquerda no hemiciclo.

Ascenso Simões tem resposta pronta: «Não faltam nomes». E lança as hipótese de Carlos César, presidente do partido, Edite Estrela, atual vice-presidente da Assembleia da República, ou Augusto Santos Silva, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, como possíveis candidatos. «O Parlamento vai precisar de uma outra leitura porque se antecipa uma composição em que os populismos incivilizados serão relevantes», atacou o socialista, que deixou ainda algo claro: o próximo nome indicado para a presidência da Assembleia da República deve ser escolhido com base em critérios como «experiência política, capacidade de integrar, conhecimento profundo do Parlamento, capacidade para defender a imagem da Assembleia e dos seus membros».

Perante estas hipóteses, Carlos César é o nome que reúne mais consenso entre os socialistas ouvidos pelo Nascer do SOL. Desde logo porque é presidente do partido e foi líder parlamentar do PS , não faltando quem recorde o exemplo de Almeida Santos – que foi presidente do partido e Presidente da Assembleia da República. Depois, porque também foi presidente do Governo Regional dos Açores, sucedendo no cargo ao social-democrata Mota Amaral, que também ele foi presidente da Assembleia da República.

Os nomes de Edite Estrela e de Augusto Santos Silva não são liminarmente afastados, mas ambos são apontados como estando na lista dos pretendentes a darem os seus lugares a novos protagonistas. No caso do ministro dos Negócios Estrangeiros foi ele próprio quem, no início do verão passado, quando se fechou a presidência portuguesa do Conselho Europeu, lembrou que gostaria de não terminar a sua carreira na política e manifestou vontade de regressar à vida académica antes de se jubilar como professor: ora, Santos Silva já tem 65 anos e a idade da jubilação obrigatória é aos 70 – o que não lhe dá muito tempo se assumir a presidência da Assembleia da República em janeiro.

Quem mais será ‘refrescado’?

Quem já anunciou publicamente que não voltará a ser candidato a deputado foi o decano Jorge Lacão.

E, além dos já referidos, há mais uma lista de cerca de 12 deputados socialistas a rondar os 70 anos de idade (ou mesmo mais) e a maioria dos quais deverá dar lugar a representantes de gerações mais novas.

José de Magalhães, Capoulas Santos e Bacelar de Vasconcelos  são alguns dos nomes falados nos bastidores como podendo deixar de ter assento no hemiciclo de S. Bento. E há mais, como Jorge Gomes, Santinho Pacheco, Joaquina Matos e Manuel Afonso. 

Mas nem todos deverão passar o testemunho. Neste grupo incluem-se ainda nomes como Maria da Luz Rosinha ou Joaquim Barreto – que continuam com uma forte ligação às estruturas locais e ao aparelho operacional do partido –, bem como Alexandre Quintanilha, que representa o lóbi da ciência e da investigação.

A renovação da bancada pretendida por António Costa não passa, porém, apenas pelo afastamento de alguns dos senadores da bancada rosa, mas também por um ‘refrescamento’ por forma a permitir a emergência dos tais ‘novos protagonistas’ de quem tanto falam os estrategas das cúpulas socialistas.

E Fernando Medina? 

Uma das incógnitas que se mantém é se, por exemplo, Fernando Medina, fará ou não parte das listas de candidatos a deputados do PS e se a sua eventual inclusão será proposta pela quota nacional do líder ou por proposta das estruturas locais, nomeadamente da concelhia ou da federação distrital de Lisboa.

E outra das interrogações é o número de ministros e secretários de Estado do atual Governo que poderão fazer parte dessas mesmas listas socialistas.

A convicção das fontes consultadas pelo Nascer do SOL é que António Costa não faz questão de que a esmagadora maioria dos membros do seu numeroso Governo faça parte da futura bancada. Antes pelo contrário, serão raros os que deverão ser incluídos nas listas pela quota do líder, como consequência do desgate da sua imagem e da opção por ‘novos protagonistas’ para um ‘novo ciclo’.

Pedro Nuno Santos ‘focado’

Finalmente, resta ainda a questão da repartição de lugares pelas tendências ou facções do aparelho do partido.
Aí, claramente deverá sair reforçada a tendência liderada por Pedro Nuno Santos, que é claramente dominante nas estruturas distritais e concelhias.

Ainda que, como fez questão de sublinhar esta semana aos jornalistas o ainda ministro das Infraestruturas, não queira falar sobre a hipótese de estar a apontar miras à liderança do partido. Quando questionado se estaria a ponderar um ‘assalto’ à cadeira mais alta do PS, caso as eleições legislativas não corram da melhor forma a António Costa, Pedro Nuno Santos limitou-se a responder: «Não há nenhuma razão para que nós antecipemos um mau resultado» para o partido. E rematou: «É somente nisso [em ter bons resultados nas eleições legislativas] que todos os socialistas estão concentrados».

Pedro Nuno Santos não deixou, aliás, de demonstrar até alguma incomodidade com a insistência dos jornalistas. «Eu ouvi a sua pergunta das duas últimas vezes. Neste momento, o Partido Socialista, ao contrário de muitos outros, está unido, com um único objetivo: ter o melhor resultado possível para continuar a governar Portugal», voltou a repetir o ministro.