Numa tentativa de perceber a dinâmica do aumento dos diagnósticos de covid-19 nas últimas semanas, os investigadores detetaram um salto nos diagnósticos dos jovens em setembro e início de outubro, que coincidiu com praxes e convívios académicos, e depois surgiu um indicador que até então não se tinha verificado: durante a pandemia tem havido paridade no diagnóstico entre homens e mulheres, mas no recrudescimento deste outono passou a haver, em particular dos 18 aos 29 anos, mais diagnósticos no sexo masculino. A situação está agora mais esbatida e não se verifica da mesma forma noutros grupos etários, mas chegou a haver uma diferença de quase o dobro de casos diagnosticados (+89%) em rapazes face a raparigas, explicou ao i Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que faz a modelação da epidemia com Manuel Carmo Gomes, que integra a comissão técnica de vacinação. Havendo evidência de menor proteção conferida pela vacina da Janssen, a ligação foi estabelecida, já que foi nos homens deste grupo etário que a vacina mais foi utilizada, representando quase um terço das inoculações nos jovens dos 20 aos 29.
Este foi um dos elementos usados na comissão de vacinação para recomendar o reforço da vacina Janssen, a par do que têm vindo a mostrar os resultados serológicos, nacionais e internacionais, que sugerem agora um reforço desta vacina, de toma única, ao fim de três meses. A decisão de avançar com o reforço da vacinação de todas as pessoas com mais de 18 anos que receberam a vacina da Janssen, três meses após a toma, foi anunciada ontem pela diretora-geral da Saúde, ainda sem calendário, e o ponto de situação mais detalhado sobre a vacinação está previsto para a reunião do Infarmed esta sexta-feira, em que a apresentação estará a cargo do coronel Carlos Penha-Gonçalves, que ficou em funções no núcleo de coordenação da vacinação com a saída de Gouveia e Melo.
A decisão de reforçar a vacina da Janssen surge num altura em que o aumento de casos já é transversal a todos os grupos etários, tendo agora mais força nas crianças até aos 12 anos, em particular no grupo dos 5 aos 9, com uma incidência acima dos 200 casos por 100 mil habitantes. Para Carlos Antunes, poderia considerar-se o reforço nos professores do 1.º e 2.º ciclo atendendo à maior transmissão nesta comunidade, mas em termos de maior risco de complicações a prioridade deve ser assegurar a terceira dose a todos os maiores de 65 anos, doentes imunossuprimidos, profissionais de saúde e pessoas que trabalharam diretamente com idosos, os mais vulneráveis. Os maiores de 80, que começaram mais cedo a receber o reforço, são por agora o grupo etário em que os diagnósticos, que dispararam 48% na última semana e mantêm uma tendência crescente, registam um aumento mais ligeiro. No caso das crianças até aos 10 anos, as infeções subiram 77% na última semana.
Reforço de staff de lares a partir de segunda-feira O auto agendamento da 3.ª dose para maiores de 65 anos arrancou esta quinta-feira, os profissionais de saúde estão a receber o reforço nas suas instituições e a partir de segunda-feira está previsto arrancar o reforço da vacinação para profissionais do setor social e bombeiros envolvidos no transporte de doentes. Em função das suas situações epidemiológicas, os países têm vindo a adotar diferentes estratégias. Ontem a Alemanha, a viver uma situação de rutura nas unidades de cuidados intensivos e com recordes diários de casos, tornou-se o primeiro país da UE a recomendar o reforço da vacinação a todos os maiores de 18 anos, com prioridade a pessoas imunocomprometidas, maiores de 70, residentes e cuidadores de lares e profissionais de saúde.
No Reino Unido, a terceira dose está a ser agora oferecida a maiores de 40 anos e em França a maiores de 50. Em Espanha, o programa foi alargado a maiores de 60. Nos Estados Unidos, o reforço da vacinação também vai ser estendido a todos os adultos a partir do próximo fim de semana. Portugal mantém das situações mais controladas, embora com tendência crescente, aproximando-se agora de uma incidência de 240 casos por 100 mil habitantes, definida como limiar de risco. Na reunião do Infarmed desta sexta-feira serão apresentados dados sobre a evolução da pandemia do país, vacinação e cenários futuros. A proposta de medidas a aplicar será apresentada pela pneumologista Raquel Duarte, sendo que várias já têm sido antecipadas, do regresso ao teletrabalho à máscara obrigatória na rua e regresso da testagem nos aeroportos. Medidas com que a Madeira avançou ontem, sem esperar pela avaliação do continente. As medidas para o continente só deverão ser tomadas pelo Governo na próxima semana. O primeiro-ministro convocou os partidos para uma reunião na terça-feira, antes das decisões, que só deverão assim ter efeito a partir do último fim de semana de novembro.