Os longos caminhos de sucesso

Já chega de Rio e Rangel se guerrearem, está na altura de serem claros e iniciarem a campanha eleitoral, explanando ideias concretas do que propõem para Portugal, se forem vencedores das eleições de 30 de janeiro

1. Já não falta muito para dia 27, data em que Rio e Rangel ficarão a saber qual dos dois será o futuro líder do PSD. Registaram-se nesta disputa demasiadas peripécias, como a de Rio arguir que devem votar todos os militantes ativos em vez do sufrágio ser restrito a quem tem as quotas em dia (como impõem os estatutos), e produziram-se afirmações reveladoras de uma oposição feroz entre ambos (no caso de Rio, bem mais feroz do que a que fez a Costa). Em suma, ambos confirmaram o ditado popular que ‘pior que inimigos, são irmãos’.

Existem, de facto, dois projetos alternativos para o PSD. Rio, a admitir alianças com o PS nem que seja durante dois anos (a ver o que dá), Rangel a querer liderar uma alternativa democrática ao PS. Costa sorri, no centro das atenções, mas torcendo para que Rio saia vencedor dado que iria pulverizar os votos da direita, com o reforço da IL e Chega, emergindo o PS como o grande partido do regime. A vitória de Rangel iria gerar um novo élan no PSD que poderá captar os votos úteis da direita, sobretudo se suportada numa coligação com CDS e IL. A consequência parece óbvia: um reforço da bipolarização que obrigaria Costa a reforçar a estratégia da obtenção de uma maioria absoluta, agitando o ‘papão da direita’ e o risco da dispersão de votos à esquerda.

E, afinal, como pensa essa ‘direita’? Ventura, almeja uma vitória de Rio para se afirmar como a verdadeira alternativa ao PS e crescer num eleitorado que não seria o seu. Cotrim, depois de em Lisboa ter estado com Medina, será que agora estará com Rangel para almejarem a maioria absoluta? Quanto ao CDS, seja quem for que lidere o que resta de um grande partido de outrora, sabe-se que Rodrigues dos Santos se quer aliar ao PSD, mas ninguém sabe o que Nuno Melo pensa.

Em suma, esta eleição terá um alcance nacional muito maior do que as pessoas supõem. Já chega de Rio e Rangel se guerrearem, está na altura de serem claros e iniciarem a campanha eleitoral, explanando ideias concretas do que propõem para Portugal, se forem vencedores das eleições de 30 de janeiro. Porque, ganhe quem ganhar, deveriam fazer campanha juntos depois de 27 novembro. 

Só assim, o PSD poderá ter sucesso e ser alternativa ao PS, trazendo a Portugal uma visão de ‘menos Estado, melhor Estado’, inserida numa economia mais eficiente, em que a economia privada não seja tão vilipendiada como nestes seis anos de ‘geringonça’, da qual resultou uma estagnação de Portugal na Europa, sendo ultrapassado em vários indicadores económicos por diversos países do antigo leste europeu.

2. Entretanto, pelos Açores, a frágil coligação liderada por Bolieiro irá ter uma prova de fogo com a votação do Orçamento Regional 2022, sobretudo depois dos anúncios de que o Chega se poderia retirar da mesma. 
Inicialmente com dois deputados, o Chega viu o seu líder regional abandonar o partido em conflito com Ventura. Agora, José Pacheco vem referir estar a maturar o seu voto, alegadamente descontente com alguns temas regionais, nomeadamente o nível dos apoios sociais (RSI), o endividamento da SATA e a excessiva dimensão do Governo Regional,.

A questão até é bem simples: ou os dois deputados eleitos pelo Chega votam a favor, assegurando 29 votos em 57 deputados, ou a Assembleia Regional poderá ser dissolvida. Neste caso, vale uma aposta que, em novas eleições, o Chega não irá eleger nenhum deputado depois destes arrufos e irá contribuir para o sucesso eleitoral do PSD?

3. O jogo contra a Sérvia terminou numa desilusão, apesar do apoio de um público entusiasmado a ‘empurrar’ a equipa para ir ao Mundial do Catar, mas faltou a competência no campo. A sempre nossa Seleção fez mais um jogo triste, sem ambição visível, confirmando exibições recentes deploráveis para a categoria individual dos jogadores. 

As equipas espelham muito a imagem dos seus treinadores. Quando temeratos, atrofiam as equipas, retiram-lhes audácia e as derrotas ficam mais perto. Se ambiciosos e transmitem crença, as equipas potenciam essa confiança e a probabilidade de ganhar aumenta, principalmente quando lideram jogadores de categoria, como no caso português.
Vamos agora ao play-off. Mas ou lá vamos com crença e ambição, colocando os melhores em cada posição em coerência com uma estratégia de equipa, ou estaremos, daqui por uns meses, a carpir mais uma derrota, sem ter percebido o que hoje está à vista de todos – Fernando Santos está ultrapassado. Estamos gratos – todos – pelo Euro 2016 e pela Liga das Nações (2019), mas essa gratidão não pode ser passaporte vitalício para o selecionador.

Se Gomes não tiver a coragem de substituir Santos para o play-off, uma certeza teremos: a Seleção que entrar em campo para jogar essas finais terá sempre um público fantástico a apoiá-la, com esperança inabalável no sucesso ansiado, mas a confiança na vitória terá de provir do coletivo dos jogadores.

4. Finalmente, começa a predominar o bom senso na Câmara Municipal de Lisboa. Em simultâneo com a aprovação unânime sobre a necessidade de expandir o Metro «a Alcântara e à Zona Ocidental de Lisboa; a ligação a Loures, através da Linha Amarela e a ligação a Benfica através da Linha verde, via Telheiras», foi aprovada uma moção do PCP visando a suspensão da linha circular do Metro (tal como em março de 2020 já tinha sido aprovada no Parlamento uma deliberação nesse sentido, sem quaisquer resultados práticos).

Esta aprovação contou com o apoio do PSD e CDS (Coligação ‘Novos Tempos’) bem como do Bloco e, sem surpresa, com a oposição do PS e Livre, em coerência com posições anteriores. Vamos ver como evolui esta celeuma da linha circular cujo fecho tem merecido forte contestação dos especialistas, mas parece indiscutível que esta nova gestão está a começar com ‘o pé direito’.