Luz verde para a “geringonça” do “semáforo alemão”

O novo chanceler, Olaf Scholz, afirmou que o acordo para a aprovação do Governo alemão deve ser aprovado nos próximos dez dias.

Oito semanas depois de ter sido anunciado o resultado das eleições, finalmente, foi apresentado o primeiro acordo para a formação da “geringonça alemã”, composta pelos Sociais Democratas (SPD), partido de centro-esquerda, os Verdes e o Partido Liberal Democrata (FDP), liderado por Olaf Scholz do SPD, que deve ser aprovado nos próximos dez dias.

“Está é a primeira vez que vai haver uma coligação federal desta natureza, que junta o SPD, os Verdes e os Liberais, FDP”, disse ao i a investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais, Patrícia Daehnhardt, que se mostrou surpreendida por este acordo ter sido cumprido antes da data estipulada.

Apesar da coligação ser formada por partidos de espetros políticos distintos, a investigadora acredita que “o propósito e objetivo de cada partido é que este Governo de coligação funcione de forma a indicar uma mudança tanto na política interna e externa da Alemanha”.

As negociações estavam em andamento desde o dia 26 de setembro, quando o SPD foi o partido com mais votos, e, agora, vem substituir a coligação formada pelo SPD e a União Democrata-Cristã liderado por Angela Merkel que irá abandonar o poder depois de 16 anos.

O acordo foi fechado na noite de quarta-feira, quando vinte e um representantes da coligação do “semáforo”, devido às cores de cada partido corresponderem ao instrumento de controlo do tráfego, concordaram que Scholz, apelidado por jornalistas como Scholz-o-mat, pelo seu comportamento robótico, deveria ser o próximo chanceler, substituindo Merkl, que abandona o poder a meros dias de bater o recorde de Helmut Kohl de permanência no poder.

Mas como irá então funcionar esta “geringonça alemã”? Como irão coexistir partidos com ideologias tão diferentes?

“O risco de desentendimento quanto a questões de conteúdo concretas haverá sempre”, disse Daehnhardt, apontando para a “divisão de tarefas” dentro do partido, nomeadamente como o líder do FDP, Christian Lindner, “reivindicou a pasta das Finanças no novo Governo” e Robert Habeck, co-líder de Os Verdes, assumiu o Ministério da Economia e Mudanças Climáticas e tornar-se Vice-Chanceler.

“A divisão de funções não vai evitar que possa haver divergências, mas, parece-me que é importante olhar para aquilo que une os partidos, como o objetivo de modernizar a Alemanha em termos de infraestruturas e de digitalizar a economia e a sociedade deste país e antecipar a transformação em termos climáticos”, explicou a investigadora. “Estes pontos de encontro podem, pelo menos no início, evitar que potenciais divergências não venham determinar problemas a nível da coligação, porque cada um dos partidos, apesar das divergências, tem todo o interesse em fazer com que esta coligação seja bem-sucedida”.

As cedências Como seria de esperar, estas não foram negociações fáceis, com alguns partidos a terem de abdicar de algumas das suas exigências

Os Verdes apresentaram um “ambicioso” plano ecológico, descreve o Politico, mas um dos seus principais pedidos, estabelecer um limite de velocidade na Autobahn, a autoestrada alemã, onde se pode conduzir sem existir um limite máximo de velocidade, foi abandonado uma vez que o FDP era veemente contra esta limitação.

No entanto, foram acordados algumas “dinâmicas”, que satisfazem os pedidos do partido ambientalista, em áreas como os transportes, construção e agricultura, tendo em conta o objetivo de atingir a meta de manter a subida do aquecimento global abaixo dos 1,5ºC, com medidas como o aumento do uso de energias renováveis, como a eólica e a solar e o abandono progressivo da utilização do carvão, tendo como meta abandonar por completo esta energia em 2030, oito anos mais cedo do que o estipulado pelo FDP.

As questões económicas, nomeadamente as taxas e a dívida pública, eram uma das questões mais complexas das negociações, mas os partidos concordaram em não introduzir novos impostos em ativos ou aumentar impostos sobre os rendimentos, sociedades ou o IVA, concordaram em aumentar o salário mínimo em 12€ por hora e reduzir a idade legal para votar dos 18 anos para os 16.

Uma vez que o líder do FDP assumiu o cargo do ministro das Finanças, é esperado que seja este partido a definir as políticas de gastos da Alemanha.

Uma questão que também une os três partidos é a luta contra a covid-19, uma vez que a Alemanha está a viver uma das piores vagas de covid-19, sendo um dos maiores desafios do país aumentar o número de vacinados.

Scholz afirmou que irá formar um gabinete de gestão de crise composto por virologistas, epidemiologistas, psicólogos e sociólogos para tentar lidar da melhor forma possível com esta situação de emergência.