Freiburgo: O sol da floresta Negra

Instalado no terceiro lugar da Bundesliga é, para já, a surpresa do campeonato alemão. São os novos heróis da Brisgóvia.

Freibug im Breisgau, ou Freiburgo da Brisgóvia, em português, uma pequena cidade do Baden-Württemberg, com pouco mais de 200 mil habitantes, tem estado nos últimos meses de boca em boca por causa da sua equipa de futebol, atual terceira classificada na Bundesliga e teimando em manter-se no topo, semana após semana. O agora denominado Sport Club Freiburg já tem o estatuto de centenário: nasceu em 1904 com o nome de Freiburger Fußballverein 04. Curiosamente, ao mesmo tempo, como se fossem gémeos, a cidade assistiu igualmente à fundação do FC Schwalbe Freiburg. Apenas dois meses faziam do Fußballverein mais velho. Há que convir que nem uns nem outros pareciam muito confortáveis nas suas peles. Só isso justifica a facilidade com que mudaram de nomes: o Schwalbe tornou-se FC Mars em 1905 e, depois, trocou o Mars por Union Freiburg em 1906; por seu lado, o FV 04 Freiburg rebatizou-se como Sportverein Freiburg 04 em 1909. Finalmente, três anos mais tarde, sucedeu o que todos na cidade consideravam inevitável: os clubes fundiram no SCFreiburg, surgindo a ameaçadora cabeça de grifo como emblema da nova organização.

A I Grande Guerra destruiu o clube quase por completo. A única forma que descobriu para sobreviver foi unir-se a outro clube vizinho, o Freiburger FC, de forma a conseguirem ter jogadores suficientes para formarem uma equipa que participasse nas competições regionais. Tornou-se um vício. Nos anos seguintes, as fusões multiplicaram-se: primeiro com o FT 1844 Freiburg, que ficou responsável pelo departamento de futebol, parceria que se manteve até 1928 quando, por necessidade de encontrar um campo, se uniu ao PSV (Polizeisportvereins) Freiburg 1924. Esta associação durou dois anos e PSV SC Freiburg acabou por mergulhar na falência e desaparecer. Ressuscitou como FT 1844 Freiburg em 1938.

Vida difícil, como podem ver, para um clubezinho que procurava apresentar resultados na Bezirksliga Baden (o campeonato regional do Baden-Württemberg e da província de Hohenzollern), tendo atingido a Gauliga (o campeonato geral de toda a Alemanha) por um muito curto período.

Terra do sol
Os freiburgueses orgulham-se do clima ameno que desfrutam durante quase todo o ano. Um fenómeno que lhes vale verões subtropicais, com temperaturas a ultrapassarem os 40 graus centígrados, e invernos bem menos rigorosos do que na maior parte do país.

O advento do nazismo arrasou o caminho do futebol alemão para o profissionalismo. Vários foram os clubes que entraram em hibernação. Com a designação de VFL Freiburg, o clube do grifo desapareceu quase por completo até 1952 quando, após o período de desnazificação, os velhos nomes puderam ser recuperados. E aí, sim, tivemos o Sport Club Freiburg de volta.

Atirado para a III Divisão, o Freiburg passou a ter a fama de ser um oponente que jamais virava a cara a luta. Foi esse espírito que os levou, finalmente, à II Divisão na época de 1978-79. E, teimosamente, batalhou durante década e meia para chegar ao topo, à Bundesliga, e logo na sua segunda época alcandoraram-se ao terceiro lugar final numa prova conquistada pelo Borussia de Dortmund. Jogando a Taça UEFA, não passaram da primeira eliminatória, face ao Slavia de Praga (1-2 e 0-0). Nas outras três qualificações europeias que balizam a sua história, os freiburgueses chegaram a enfrentar um clube português, o Estoril, na fase de grupos da Liga Europa de 2013-14 (1-1 e 0-0).

Estes são também tempos felizes para jogadores, técnicos, dirigentes e adeptos do Freiburg porque podem receber os adversários no seu novo estádio, o Europa-Park, que veio substituir o velhinho Schwarzwald-Stadion, situado na margem do rio Dreisam, que já durava desde 1954. Com capacidade para cerca de 35 mil pessoas, o Europa-Park fica no bairro de Brühl, não longe do aeroporto e levou a que as ambições do clube crescessem exponencialmente. Jochen Saier, o diretor executivo do clube, não tem medo de assumir uma possível presença na Liga dos Campeões num futuro próximo. «Todos os jogadores podem e devem sonhar, todos os adeptos podem e devem sonhar, eu sou o único que preciso de manter os pés no chão. É verdade que o campeonato nos tem corrido bem até agora», continuou num documentário feito pela Sky Sports. «Mas também sabemos que os quatro primeiros lugares costumam ser ocupados pelas equipas do costume, algo que nos obrigaria a atingir níveis nunca antes atingidos neste clube até hoje».
Quem já teve a oportunidade de ver jogar o Freiburg nesta época sabe que é um conjunto sem estrelas mas que se agarra à sua velha filosofia de dar em cada jogo um litro e um quartilho. Ermedin Demirovic, Lukas Kübler, Christian Günter, Nils Pettersen, Vicenzo Grifo, Nicolas Höfler ou Nishan Burkart podem não ser nomes que excitem por aí além os adeptos portugueses e que os levem a correr para pegarem nos comandos das televisões e irem à procura das mais recentes exibições dos comandados do treinador Christian Streich que se mantém no cargo há dez anos. Hoje, pelas duas e meia da tarde em Portugal, o Freiburg avança para a 13.ª jornada da Bundesliga visitando o Bochum, depois de ter sofrido as suas duas primeiras derrotas nas duas derradeiras jornadas, a primeira em Munique, frente ao Bayern (1-2) e a segunda no Europa-Park, face ao Eintracht Frakfurt (0-2), algo que deixou em dúvida os seguidores do clube, receando um colapso que desmanche o otimismo que lhes trazia os peitos enfunados. Para já parece não haver motivo para isso. E a exigência é nenhuma…