Centros comerciais. Vendas surpreendem

No entanto, Rodrigo Moita de Deus alertou que “a retoma não se fez ao mesmo ritmo em todos os setores”, em que uns “são mais afetados do que outros”.

As vendas dos centros comerciais situaram-se nos primeiros nove meses do ano 4,8% abaixo de 2019 e, em outubro/novembro, deverão já ter equiparado os níveis pré-pandemia, segundo dados avançados pela associação setorial APCC.

No entanto, Rodrigo Moita de Deus alertou que “a retoma não se fez ao mesmo ritmo em todos os setores”, em que uns “são mais afetados do que outros”, avançou à Lusa.

"O caso dos cinemas é, talvez, o mais ilustrativo. Os cinemas tiveram grandes quebras — continuam, ainda, com grandes quebras, em setembro com menos 32% face a 2019 — pelo que este foi um dos setores que nós mais tivemos de apoiar dentro dos centros comerciais", disse.

"Mas há outros", acrescentou: "As agências de viagens, por exemplo, foram outro dos setores mais afetados e a moda também o foi".

Precisamente "para proteger" estes setores, a associação recorda ter lançado em maio um "plano de retoma do retalho" que prevê um conjunto de apoios, entre os quais um desconto nas rendas a pagar pelos lojistas e que abrange, nomeadamente, os cinemas e os pequenos operadores.

No caso dos cinemas, está contemplado um desconto mínimo na renda de 50% até ao final do ano e, aos pequenos operadores, é aplicado um desconto percentual proporcional à perda da faturação em relação a 2019.

"Isto é válido até o final do ano e já discutimos a possibilidade de prolongar as medidas de apoio para 2022, o que, provavelmente, será necessário em alguns casos, como os cinemas, embora dependendo das situações", disse Rodrigo Moita de Deus.

De acordo com o diretor executivo da APCC, até final de setembro registaram-se 344 encerramentos, num universo de 8.600 lojas nos centros comerciais, o que representa uma média de 3,6 encerramentos por centro comercial.

"Mas o que é notável é que neste ano, que é muito complicado, até setembro já tinham aberto 317 novas lojas", salientou, precisando que o total de encerramentos "está mais ou menos dentro da média, um bocadinho acima", enquanto "o número de aberturas é acima da média".

Relativamente ao período de maior movimento que se avizinha, com a proximidade do Natal, a associação salienta que "os centros comerciais nunca baixaram a guarda": "Continuamos com vigilância apertada, com a utilização de máscara, portanto os centros comerciais são dos locais mais seguros onde podemos ir. É um ambiente absolutamente controlado", sustentou o diretor executivo da APCC.

Defendendo que, ao longo do último ano, o setor "demonstrou que tem todas as condições de segurança para responder mesmo a um aumento de risco", o responsável salienta a importância de se "manter o nível de confiança e a responsabilização individual dos cidadãos", num contexto que considera já ser de "endemia".

"A questão mais importante que devíamos estar a discutir é se a pandemia já não é uma endemia. E, se é uma endemia, não há não há razão para termos medidas excecionais. Temos é de ter medidas permanentes. Esse é que é o ponto", afirma Rodrigo Moita de Deus.

Assim, a APCC critica medidas como a limitação da lotação nos estabelecimentos comerciais, que considera ter sido "completamente contraproducente", já que acabou por se revelar "um incentivo à formação de filas e ajuntamentos".

"Só não foi um caos porque se reforçou bastante a vigilância, mas é algo absolutamente desnecessário e que só vem aumentar o risco", considera.

A este propósito, o diretor executivo da APCC destaca a importância de se "quantificar a eficácia e o efeito prático de cada uma das medidas" implementadas para controlo da pandemia.

"Parece-me um pouco estranho que, ao fim deste tempo todo, não consigamos discutir quantificadamente, com números, qual é o efeito de cada uma destas medidas, para saber o que é que vale a pena fazer. Estamos todos a pedir um esforço adicional, mas, depois, não sabemos quanto é que isso vale na prática no combate à pandemia", rematou.