Omicron pode tornar-se dominante na Europa no período de um mês

Cenários do ECDC para a Europa foram publicados ontem.

No cenário mais curto apresentado ontem pela Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, a nova variante Omicron pode tornar-se dominante na região europeia no espaço de um mês, passando a representar nessa altura mais de 50% dos novos casos de covid-19. Perante a incerteza sobre o nível de transmissibilidade da nova variante, o ECDC avançou com algumas projeções, considerando que o risco se mantém elevado e “muito elevado” nos países que com a delta já estão a viver um recrudescimento da epidemia.

Na província sul-africana de Gauteng, onde a variante foi detetada e se tornou dominante no espaço de duas semanas, na última semana houve um aumento de 424% dos casos, o que tem apontado para um cenário de grande transmissibilidade. Uma das dificuldades em perceber até que ponto a variante será mais transmissível, nota a avaliação de risco do organismo europeu, é que o número de casos de covid-19 na África do Sul é baixo, o que significa que se pode estar a ver um efeito “desproporcionado” de eventos de super-disseminação: quando uma pessoa, em condições propícias para isso como espaços fechados, infeta muitas. Mas o crescimento a pique dos diagnósticos na África do Sul e em Gauteng em particular está a fazer soar alarmes: segundo a informação divulgada pelo Centro Nacional de Doenças Infecciosas, o país passou ontem pela primeira vez os 10 mil novos casos no espaço de 24 horas, quando há uma semana rondavam os 2 mil. Um dos problemas é que o país está com uma taxa de positividade de 22%, o que indicia baixa deteção (a recomendação internacional é uma positividade na casa dos 4%).

Ainda assim, África do Sul está com 47 mil casos ativos, o que é menos por exemplo do que 57 638 casos ativos em Portugal, que nem é dos países com maior incidência nas últimas semanas na Europa. Os cenários traçados do ECDC tentam calcular diferentes níveis de transmissibilidade para a nova variante e caso esteja ou não a circular já na Europa – o Reino Unido foi o primeiro país a confirmar casos sem historial de viagem e com base nos testes PCR feitos na última semana no país, em que a partir de uma falha no gene S é possível suspeitar que se trate de Omicron (como acontecia com a variante Alpha), calcula-se já que perto de 0,5% dos casos no país serão de Omicron.

O ECDC projeta assim que se a Omicron tiver uma vantagem de 120% em relação à delta e se 1% dos casos atuais já forem desta variante, será dominante no continente europeu a 1 de janeiro de 2022. Se tiver uma vantagem de 30%, isso acontece a 1 de março. O organismo nota que a maioria dos casos conhecidos na Europa (agora já mais de uma centena) têm sido assintomáticos ou ligeiros. A preocupação prende-se com o facto de as mutações detetadas na variante, a mais diferente até aqui do SARS-Cov-2 identificado na China há dois anos, já terem demonstrado num vírus sintético testado em laboratório escaparem aos anticorpos. Na África do Sul têm sido reportados também mais casos de reinfeção.