A Joana, a Clara e a Boneca

Por Pedro Ochôa A TVI não se poupou a esforços, nem a dinheiro, para promover, previamente, o seu novo canal de notícias, a que pomposamente baptizou de CNN Portugal. Insistiu, até à exaustão, pretender fazer chegar até junto dos portugueses uma informação credível, isenta e independente. Da isenção e independência, o bom-senso aconselhou-nos logo a…

Por Pedro Ochôa

A TVI não se poupou a esforços, nem a dinheiro, para promover, previamente, o seu novo canal de notícias, a que pomposamente baptizou de CNN Portugal.

Insistiu, até à exaustão, pretender fazer chegar até junto dos portugueses uma informação credível, isenta e independente.

Da isenção e independência, o bom-senso aconselhou-nos logo a desconfiar, atendendo a que a casa-mãe, a sua musa de inspiração, se caracteriza exactamente por nem se preocupar em camuflar a completa subordinação à agenda libertária da esquerda mais radical norte-americana e a sua fidelização aos sinistros propósitos de George Soros, de quem recebe generosos contributos financeiros.

Quanto à credibilidade, ficámos esclarecidos logo no primeiro minuto de emissão!

A CNN Portugal nasce com uma entrevista a um criminoso, condenado a pena de prisão efectiva transitada em julgado, e que fugiu do país para se furtar ao cumprimento da sentença com que foi obsequiado.

Dar tempo de antena, em horário nobre, a um criminoso que se esquivou à justiça e é procurado pelas autoridades, permitindo-lhe gozar livremente com todo o sistema judiciário, não é jornalismo, mas sim cumplicidade com um crime em execução.

A entrevista poderia, eventualmente, ser considerada de interesse público, caso João Rendeiro nos tivesse elucidado de pormenores relacionados com a actividade criminosa a que se dedicou durante largos anos, ou nos tivesse indicado pistas quanto ao seu paradeiro.

Mas não, a criatura limitou-se a promover o seu ego, debitando uma quantidade de disparates sem qualquer relevância para quem se dedicou a ouvi-lo, à excepção do óbvio, de que não tenciona regressar a Portugal, claro está!

Houve, no entanto, um momento enternecedor, quando o antigo banqueiro nos explicou os motivos pelos quais a sua mulher não o quis acompanhar na fuga, preferindo ficar a contas com a justiça a refugiar-se num destino quente junto ao mar e no qual poderia desfrutar de uma vida desafogada e sem problemas.

A Joana, a Clara e a Boneca. Maria de Jesus, assim se chama a mulher abandonada à sorte por quem só pensou em salvar a sua pele, revelou-se incapaz de se separar daquelas três doces personagens, optando por permanecer junto delas, em prejuízo de acompanhar o seu fora-da-lei marido num asilo dourado.

Seria, na verdade, alvo de toda a nossa consideração e comiseração se se tratasse das filhas do casal, mas não, nem consta que as tenham. São, sim, as cadelinhas lá de casa!

A TVI, perdão, CNN Portugal, prestou-se a este triste serviço, o de permitir a quem não aceita viver segundo as regras da sociedade divertir-se à conta dos pategos, que somos todos nós, os que respeitamos as leis vigentes nesta anedota anteriormente reconhecida como uma Nação respeitada e respeitadora.

E não vale a pena vir-se com o argumento de que a imprensa, sendo livre, não é obrigada a divulgar às autoridades judiciais elemento algum que possa levar à descoberta do paradeiro de um criminoso que se furtou ao legítimo cumprimento de uma pena de prisão.

Não é disso que se trata, apesar de também moralmente condenatório, mas sim da qualidade do jornalismo com que se engana o público. Porque, exactamente, não estamos perante jornalismo, mas sim lixo televisivo.

Assistimos não a uma reportagem com interesse público, mas sim a um monólogo de vaidades, que não veio acrescentar nada de pertinente que deva ser levado ao conhecimento dos portugueses no principal boletim noticioso de um novo canal de informação.

Foi a primeira notícia assim que se iniciou a emissão da CNN aqui do burgo. Ficamos, pois, elucidados quanto ao que se segue!

Resta a consolação de termos ficado a conhecer a Joana, a Clara e a Boneca, apesar de apenas de nome.

Muito pouco, no entanto, para a credibilidade de uma estação que arrancou com uma festa de arromba num dos Monumentos mais emblemáticos da nossa História. E à qual não faltaram, como não podia deixar de ser, os mais altos dignitários desta decrépita república!