Ministro Eduardo Cabrita apresenta demissão

Após ser conhecido que o motorista que conduzia o carro que matou um homem na A6 foi acusado pelo MP de homicídio por negligência, Cabrita lembra a “lealdade” e “solidariedade” do primeiro-ministro, António Costa, e, por isso, não pode permitir “que este aproveitamento absolutamente intolerável seja usado para penalizar a ação do governo contra o…

O ministro da Administração Interna (MAI), Eduarda Cabrita, apresentou o pedido de demissão, depois de ser conhecido, esta sexta-feira, que o motorista que conduzia o carro onde seguia e que atropelou mortalmente um trabalhador na A6 foi acusado de homicídio por negligência pelo Ministério Público (MP). O anúncio foi feito através de uma conferência de imprensa.

O ministro abordou o acidente em que esteve envolvido e afirmou que “mais do que ninguém”, lamenta “essa perda irreparável” e que a sua “solidariedade está com a família da vítima”.

“Desde então, foi com grande sacrifício pessoal que verifiquei, com estupefação, o aproveitamento político que foi feito de uma tragédia pessoal”, frisou, acrescentando que “não seria legítimo, admissível para um membro do Governo fazer qualquer comentário”.

Após ser conhecido que o motorista que conduzia o carro foi acusado pelo MP de homicídio por negligência, Cabrita lembra a “lealdade” e “solidariedade” do primeiro-ministro (PM), António Costa, e, por isso, não pode permitir “que este aproveitamento absolutamente intolerável seja usado para penalizar a ação do governo contra o PM ou mesmo contra o PS”.

“Entendi solicitar hoje a minha exoneração de MAI. Agradeço profundamente ao PM a oportunidade de partilhar estes seis anos de dedicação intensa à causa pública e, sobretudo, estes quatro anos que me tornaram um ministro com o mais longo mandato em democracia. É um ministério particularmente difícil, exigente e sujeito diariamente à incerteza e ao imprevisto. E, por isso, agradeço a solidariedade e o apoio pleno do PM, o trabalho intenso e profícuo com todos os colegas de governo, mas permitam-me uma palavra especial aos meus secretários de Estado que foram os meus colaboradores mais diretos ao longo destes seis anos”, anunciou.

Antes do anúncio, Eduardo Cabrita começou a conferência de imprensa lembrando que é ministro da Administração Interna desde 2017 e que assumiu tais funções “num contexto particularmente difícil”.

“Sou ministro da Administração desde outubro de 2017, assumi estas funções num contexto particularmente difícil para o país em verdadeira situação de trauma nacional na sequência dos incêndios que provocaram a morte a mais de uma centena de PTS. Desde então tenho trabalhado intensamente para assegurar que Portugal é um país seguro nas suas várias dimensões”, começou por afirmar Eduardo Cabrita.

O governante demissionário prosseguiu falando do seu trabalho no “sistema de proteção civil”, sublinhando que nenhum civil perdeu a vida em contexto de incêndio rural. Cabrita destacou ainda o facto de Portugal ser dos “países mais seguros do mundo” e que, desde 1999, “jamais tínhamos tido quatro anos de indicadores tão baixos quer de criminalidade geral quer de criminalidade violenta e grave”, além de o país ser “dos poucos que participou em todas as operações de acolhimento de migrantes a partir de navios do mediterrâneo”.

“Recebemos, até hoje, cerca de cinco centenas de afegãos em busca de liberdade e segurança”, frisou.

No seu discurso, Eduardo Cabrita lembrou a “presidência europeia travada em condições particularmente difíceis, devido à pandemia”, mas que “temos como marca da nossa presidência a aprovação da agência europeia de asilo” e as condições que o MAI teve de enfrentar no contexto pandémico.

“Ainda nos últimos dias, tivemos oportunidade de coordenar as novas medidas com impacto significativo e bem-sucedido na fronteira aérea dos três aeroportos do continente e nas fronteiras terrestres”, afirmou ainda.

Recorde-se que o MP anunciou hoje que o motorista do carro onde seguia Cabrita foi acusado de homicídio por negligência, além de duas contraordenações.

“O Ministério Público deduziu acusação, requerendo o julgamento por tribunal singular, contra um arguido, o condutor do veículo automóvel interveniente num acidente de viação ocorrido na A6, no dia 18 de junho de 2021, imputando-lhe a prática, em concurso, de um crime de homicídio por negligência e de duas contraordenações”, lê-se num comunicado do DIAP de Évora, divulgado esta sexta-feira.

O carro seguia a 163 quilómetros por hora, quando ocorreu o atropelamento ao quilómetro 77 da A6.

Notícia atualizada às 18h18.