Klassiker. Equilíbrio mas pouco

Bayern de Munique e Borussia Dortmund protagonizam agora a maior rivalidade da Bundesliga. Defrontam-se esta tarde

Klassiker – nos dias que correm é assim que chamam ao Bayern de Munique-Borussia de Dortmund. A designação nasceu no princípio dos anos 80, o que lhe retira a patina de outros confrontos históricos como o Milan-Inter, o Celtic-Rangers, o Flamengo-Fluminense, Real Madrid-Barcelona ou o Boca Juniors-River Plate. Na verdade, antes deste clássico de tempos mais modernos, o grande jogo da Alemanha, na altura também designado por Klassiker, metia o mesmo Bayern mas outro Borussia, o de Mönchengladbach. 

É curioso entender a idiossincrasia deste jogo entre germânicos que leva, com toda a propriedade, o nome de Clássico mas que diverge por completo de todos os outros. El Clasico, por exemplo, envolve a oposição entre o poder centralizado de Madrid e a revolta catalã dos barceloneses; em Buenos Aires, há sobretudo a proximidade de dois clubes apoiados por massas adeptas de inequívocas contradições sociais, tal como sucede no Rio de Janeiro com o Fla-Flu; Celtic e Rangers estão definitivamente separados por motivos religiosos; Milan e Inter continuam a alimentar a rivalidade de um ter nascido de uma cisão do outro. E, afinal, que opõe tão abertamente Bayern e Dortmund?

A própria Bundesliga resolveu encomendar a um grupo de jornalistas, historiadores e sociólogos, um trabalho que explicasse este novo fenómeno com cerca de 40 anos. Ainda por cima quando Der Klassiker parece um jogo tão desequilibrado como os números o demonstram – 29 títulos de campeão alemão e 20 Taças da Alemanha para os bávaros; 8 campeonatos e sete Taças para os rapazes da Renânia do Norte-Vestefália, além de 6 Taças/Ligas dos Campeões para os primeiros e apenas uma para os segundos. Curiosamente, o Borussia de Dortmund foi o primeiro clube germânico a vencer uma competição europeia, a Taça dos Vencedores de Taças, em 1966, mas o Bayern não quis ficar atrás e venceu a mesma prova – entretanto desaparecida – no ano seguinte.

Ainda o Klassiker era jogado entre Bayern e Mönchegladbach (no espaço de uma década venceram em conjunto 9 títulos de campeão, com vantagem de 5-4 para o Borussia), nos anos 70, os de Munique venceram três Taças dos Campeões Europeus seguidas ao mesmo tempo que os de Dortmund vegetavam três anos consecutivos na II Bundesliga. E foi no seu regresso à I que sofreram a maior derrota registada contra os seus rivais de eleição: 1-11!

Recuperação

A década de 80 marcou a ascensão do Borussia de Dortmund ao topo do futebol alemão. As vitórias sobre o Bayern podem não se ter tornado frequentes mas, pelo menos, entraram no caminho da normalidade. O equilíbrio é mensurável em números: em vinte jogos para a Bundesliga, sete vitórias para o Bayern, quatro para o Dortmund e, principalmente, nove empates reveladores de que a diferença de qualidade entre ambos começara a desvanecer-se, ainda que ligeiramente.

Ninguém pode esquecer, pelo caminho, o episódio marcante entre os dois clubes que é também esclarecedor da forma como os alemães encaram o futebol e a necessidade de terem um campeonato competitivo. À beira da falência, embrulhada em dívidas, a direção do Dortmund não teve pejo em recorrer ao seu rival bem mais rico. Dos cofres do Bayern saíram, então, dois milhões de euros para resolverem o bicudo problema. Algo que permitiu a sobrevivência ao Dortmund e lançar-se com renovado brio na rivalidade que esteve quase, quase, a desaparecer para sempre.

Episódios

O primeiro confronto entre as duas equipas para a Liga dos Campeões, serviu para lançar gasolina para o tal antagonismo crescente da década de 80. A 18 de março de 1998, em Munique, para os quartos-de-final, o empate a zero agradou mais ao Dortmund, que defendia o seu título europeu, do que ao Bayern, como está bem de ver. No Westphalen Stadium, o mesmo zero-zero aguentou-se durante 90 minutos, obrigando a um prolongamento resolvido pelo suíço Chapuisat logo aos 9 minutos. A vingança bávara serviu-se fria no Estádio de Wembley, no dia 25 de maio de 2013. Pela primeira vez duas equipas alemãs jogavam uma final da Liga dos Campeões. Jürgen Klopp conseguira fazer do Borussia de Dortmund um máquina de futebol ofensivo, assente na competência de Gündogan, Marco Reus e Lewandowski. Do outro lado, Jupp Heynckes, que fora um dos grandes rivais do Bayern quando jogava pelo Mönchengladbach, utilizava um quarteto ofensivo composto por Müller (que viera do Dortmund), Robben, Ribéry e Mandzukic. O jogo primou pelo equilíbrio. Mandzukic deu vantagem aos bávaros aos 60 minutos, mas Gündogan empatou, através de uma grande penalidade, nove minutos mais tarde. Aos 89 minutos, a maldição caiu sobre o Borussia de Dortmund graças a um pontapé forte desferido pelo holandês Arjen Robben. Vingança a dobrar já que no ano glorioso de 1997, o Dortmund tinha conquistado a sua única Taça dos Campeões vencendo a Juventus por 3-1 no… Estádio Olímpico de Munique. Hoje, O Bayern entra em campo após seis vitórias consecutivas no Klassiker. O último triunfo do Borussia data de 3 de agosto de 1919 – 2-0 para a Supertaça. Vida difícil para os amarelos…