Em direção a sarilhos

Virar à esquerda», «Virar à direita», «Faça inversão de marcha», «Siga para a rota indicada». Quando até num beco a aplicação do telemóvel é capaz de garantir que há mais saídas além da única que nos fez chegar lá, é aí, nesse preciso momento, que sabemos que estamos no mau caminho. Literalmente. Mas ainda mais…

Virar à esquerda», «Virar à direita», «Faça inversão de marcha», «Siga para a rota indicada». Quando até num beco a aplicação do telemóvel é capaz de garantir que há mais saídas além da única que nos fez chegar lá, é aí, nesse preciso momento, que sabemos que estamos no mau caminho. Literalmente. Mas ainda mais frustrante se consegue tornar quando acha por bem repetir três vezes a mesma sugestão de direção, acreditando que o condutor tirou o dia para contrariar ou que não está a ‘obedecer’ apenas por desafio. Para quem está ao volante, nestas alturas a tática utilizada é quase sempre a mesma. Depois de um carrossel inútil na maioria das vezes, lá se começa uma nova viagem: sair da aplicação – respirar fundo – abrir novamente o quadradinho no fundo do ecrã que conhece todos os caminhos à face da Terra – respirar fundo nunca é demais – e colocar novamente o destino. Depois da primeira tentativa falhada, já se sabe que o resultado é sobretudo visível no tempo estimado da viagem, que alterou entretanto para mais 15 minutos do que era inicialmente previsto, com hipótese de a hora de chegada piorar caso se opte pelo segundo caminho apresentado. Depois, lá está, opções de caminhos nunca faltam, mas invariavelmente somos surpreendidos com novo puxão de orelhas: «Siga para a rota indicada». Nesta fase, a voz do/a co-piloto que chega através dos telemóveis já costuma estar silenciada. 

Cada rotunda passa a ser uma armadilha e as estradas que em 150 metros apresentam três hipóteses de virar para aqui ou para acolá podem ditar o desespero final.

Chegados aqui – ou a lado nenhum, que tenha sido desejado pelo menos – já só pensamos que dava jeito apanhar o famoso gato preto a atravessar de relance, nem que fosse para fingir ter um motivo para tanta desorientação.
 Por aquela hora os únicos destinos com sentido eram só dois: Sarilhos Pequenos ou Sarilhos Grandes. Mas esses, já se sabe, normalmente não precisam de direções para lá se chegar.