Montepio. Pedro Corte Real: “Se a opção for de continuidade dificilmente o resultado não será catastrófico”

O candidato da lista B diz que, para os associados, ‘é completamente indiferente votar na lista A ou na lista D’. E lembra que nos últimos três anos perderam-se 14.344 sócios. 

Montepio. Pedro Corte Real: “Se a opção for de continuidade dificilmente o resultado não será catastrófico”

Há três anos integrou uma lista. Agora candidata-se à liderança da Associação Mutualista Montepio Geral. O que o levou a avançar?

Fiz parte da lista B (Fernando Ribeiro Mendes), infelizmente não ganhámos as eleições, mas decidimos não desmobilizar porque achámos que ia ser um período muito importante para a vida da Associação, com o aparecimento dos novos estatutos e do novo regulamento eleitoral. Antecipávamos contas bastante negativas, o que infelizmente se veio a concretizar e decidimos que íamos manter o contacto para trabalhar em prol do Montepio.

Fomos acompanhando a vida da instituição e tentámos contribuir o máximo possível para os novos estatutos e para o regulamento eleitoral. Depois deste esforço, que foi acompanhado por um conjunto de atividades e que se traduziu num conjunto de documentos e de alertas às autoridades, não faria sentido não nos apresentarmos como uma solução credível, idónea, competente e independente aos associados.

Mas houve uma tentativa de unificação de listas, que acabou por não se concretizar…

Há uns quatro ou cinco meses foi feito um conjunto de encontros com a ex-lista B e com a ex-lista C de António Godinho, em que este nunca esteve presente. Juntámos esforços, fizemos um trabalho mais técnico, tentámos fazer um diagnóstico para perceber qual o estado da instituição. Claro que foi sempre um bocadinho incompleto porque nenhuma daquelas pessoas tinha qualquer assento nos órgãos quer executivos, quer de fiscalização. Mas chegou a um momento em que percebemos que algumas das premissas em que assentava uma concordância para haver uma lista única não estavam a ser cumpridas, e acabámos por seguir caminhos diferenciados.

Não seria mais fácil haver menos listas?

Tenho uma resposta dividida. Para a vida da instituição penso que o ideal é haver o maior número de escolhas para os associados, mas também reconheço que isso é uma abordagem um pouco naïf porque olhamos para as escolhas e percebemos o quê? Que existem duas listas – Virgílio Lima e Pedro Gouveia Alves – que são uma continuidade de Tomás Correia.

Para os associados é completamente indiferente votar na lista A ou na lista D. Depois existem outras duas opções: a nossa e quando se olha para a lista percebe-se que há uma preocupação com currículos competentes, idóneos, credíveis, totalmente independentes e completamente capazes de, a partir daqui, agir com total independência. A outra alternativa é a lista de Eugénio Rosa e percebemos que há uma lógica partidária, isso nem é bom nem é mau, mas a lógica está lá e entendemos que não tem a independência necessária para gerir os destinos da instituição. Nós queremos garantir esta independência de qualquer preocupação que não seja dos interesses dos associados, dos trabalhadores e do próprio país.

Tanto a lista A como a D afastam qualquer ligação a Tomás Correia…

Não sei se é verdade ou não, mas na imprensa passa que Tomás Correia tem neste momento uma postura de apoio ativo relativamente à lista de Pedro Alves. Até pode não ter, mas não nos podemos esquecer do passado das pessoas e olhando para a presença de Pedro Alves no Montepio sempre foi um homem que acompanhou Tomás Correia em todas as eleições. Lembro-me da presença dele nas Assembleias sempre a apoiar Tomás Correia. Se olharmos para a carreira dele é um homem que Tomás Correia levou para a administração do banco, que tentou mais tarde transformá-lo num CEO do banco e não conseguiu. Se uma pessoa destas não é um homem que trabalhou para Tomás Correia, então não sei.

Daí defender que é necessário dar um novo rumo à associação?

A Associação Mutualista é a casa mãe de um grupo de várias empresas. Há duas que são mais visíveis – o Banco Montepio e o grupo segurador – e representam 98% do balanço da instituição. Só o Banco Montepio representa 86% do ativo da Associação Mutualista. Porque é que é preciso dar um novo rumo? Porque quando olhamos para os últimos três anos e para perceber o que foi esta gestão bicéfala Tomás Correia e Virgílio Lima vê-se que perdemos 14344 associados.

As inscrições em modalidades que são a vida da instituição contam com menos 25.898 e é esse o objetivo da instituição que é prestar cuidados de saúde, dar apoio na velhice, nas situações de desemprego prolongado. Depois, quando olhamos para as componentes mais financeiras, vimos que o total de capitais próprios consolidados, se excluirmos um ativo virtual que tem o nome de ativo por imposto diferido, passou de 599 milhões negativos, em 2019, para 794 milhões negativos, em 2020. Mesmo que consideremos este ativo virtual como algo tangível que não é, o que é percebemos?

Que esta administração em três anos perdeu mais de 62% dos capitais próprios. Passaram de 260 milhões para 95 milhões. Isto só para falar em números porque houve outras questões que ficaram por implementar, como é o caso do plano de convergência para a supervisão dos seguros. Passados três anos que informação é que os associados tiveram? Nada.

Entretanto foi-se sabendo alguma informação a dizer que as tentativas de entregar um plano credível e que fosse exequível estavam a ser recusadas pelo regulador dos seguros, a ASF. E numa comissão parlamentar, em junho deste ano, assistirmos à presidente da ASF a dizer que houve duas tentativas de planos entregues, os dois foram rejeitados e com a ASF a entender que a instituição não tem condições técnicas para apresentar um plano, remetendo o problema para o regulador de sempre que é o ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

O Ministério pouco ou nada tem intervindo nos vários Governos…

Exato e isso é uma questão que me deixa perplexo. Como é que isso foi transversal a vários Governos? Não é uma questão de cor política, mas permitiu que a Associação Mutualista esteja em total violação da lei ao concentrar 86% do seu balanço num único ativo que é o banco, quando por lei o máximo que poderia ter era 10%. Qual é a justificação para isto?

O Ministério na realidade não tem competências de supervisão para um negócio tão complexo como é a Mutualista, dona de um banco e de uma seguradora. No passado o que acontecia? A instituição, ao longo do tempo, foi sendo gerida por pessoas competentes, idóneas, credíveis e nunca deixariam a instituição chegar a esta fase. Com a entrada de Tomás Correia, o paradigma alterou-se completamente. Entrou-se num conjunto de negócios completamente inexplicáveis à luz de qualquer análise crítica de gestão de risco e o resultado está à vista. 

Com as novas regras há duas entidades de supervisão, beneficiando de um período de transição…

Mas isso não é estranho ao grupo. A Associação é supervisionada pelo Ministério, o banco pelo Banco de Portugal e as seguradoras já tinham a ASF. O que muda é o novo enquadramento regulatório para prevenir a situação dramática a que chegou a instituição. Não estamos a violar a lei por 4 ou 5%, não é algo que se consiga recuperar num prazo muito curto, estamos a falar em reduzir de 86% para 10% num prazo de 12 anos.

Entretanto desapareceram três anos e não sabemos qual é a posição do Ministério relativamente a isto. O que entendo é que o Ministério não tem uma equipa competente e credível com quem se sentar para resolver o problema e está à espera do resultado destas eleições.

Virgílio Lima diz que esteve 22 meses à frente da Associação…

Mas os problemas vêm de trás. E nos 22 meses que Virgílio Lima esteve à frente da instituição o que é que conseguiu? Dois relatórios e contas de um auditor de referência internacional, independente, pago pelos associados, que audita todo o grupo e que diz que as reservas são de tal modo graves que está em causa a continuidade da instituição quase bicentenária. 

Ao ponto de correr o risco de poder desaparecer se o rumo se manter?

Tenho a certeza que se for essa a opção dificilmente o resultado não será catastrófico. Infelizmente, e em particular nos últimos anos, assistimos a um conjunto grande de instituições de referência, quer em Portugal, quer no estrangeiro, que desapareceram por erros de gestão contínuos. Não há nenhuma instituição que seja imune a isso, mas agora os associados do Montepio estão em condições de recuperar a instituição.

Por isso faço esse repto aos associados: pela primeira vez, temos a possibilidade do voto eletrónico e há um universo eleitoral que rondará os 450 mil. Não podemos ter uma participação eleitoral como aconteceu nas últimas eleições, em que votaram menos de 10% do universo eleitoral e são um conjunto de pessoas muito mobilizadas e orientadas para determinadas escolhas, pessoas que muitas vezes se sentem pressionadas pelas atuais direções. 

Mas o voto eletrónico pode não ser fácil para todos os associados…

O modo tradicional de voto por correspondência e a forma como foi comunicado deixou muita gente em dúvida, porque pela primeira vez tiveram de dizer que queriam votar se fosse por correspondência. O voto eletrónico não obriga a reação nenhuma, a única coisa que precisa de fazer é inscrever-se no site mymontepio e receber as credenciais para votar.

Como o perfil da associação também mudou – por exemplo, a mediana de antiguidade neste momento é de 10 anos –, há uma parte interessante de população nova. Temos de fazer o quê? Fazê-los interessarem-se pelos destinos do Montepio. Acho que é um dever patriótico interessarmo-nos pela associação, votarmos em consciência para que não haja uma votação tão diminuta e tão marginal numa instituição com esta relevância.

Mas tendo em conta o elevado nível de abstenção nas outras eleições…

O ideal era termos uma participação de 90%, mas se for de 25 ou 30% relativamente ao que foi no passado já é uma mudança muito grande na vida da instituição. 

Tem falado várias vezes na gestão ruinosa. O que levou a isso?

Há várias razões e há um conjunto de negócios que são conhecidos, como é o caso do Finibanco, que foi um negócio ruinoso e ainda hoje os associados estão a pagar. Também é o caso da Real Seguros, assim como o negócio dos barcos que custou 130 e quantos milhões ao Montepio. Esta é a componente visível que é a financeira, mas depois há a outra questão que são os custos de reputação, que tem prejudicado a instituição.

Por exemplo, durante o período da troika, grande parte da banca nacional usou um conjunto de instrumentos para se capitalizar e para levar a cabo aumentos de capital, sem fazer exigências aos seus acionistas. Foram feitos empréstimos com condições bastante rigorosas, com taxas de juro bastante elevadas, mas os bancos que recorreram a esse tipo de ajudas entretanto já pagaram as ajudas, até anteciparam esses pagamentos porque os juros eram bastante elevados, e voltaram aos lucros.

O que aconteceu ao Banco Montepio? Precisou de capital e a Associação Mutualista em vez de pedir ajuda nesse formato foi buscar o capital aos associados, transformando os associados – que são aforradores dos mais conservador que existe – em capitalistas, no sentido de assumem uma posição de elevadíssimo risco. 

Sem terem noção…

Sem terem a noção do que estava a acontecer e em clara violação da lei. 

Tanto Tomás Correia como Virgílio Lima elogiam essa atitude de não terem recorrido ao dinheiro do Estado…

Dizem isso várias vezes, mas não foi o único banco a fazer isso. O Crédito Agrícola também não pediu, nem o BES. No caso do BES não vale a pena comentar porque o resultado está à vista. No caso da Associação, os custos são incomensuravelmente maiores do que se tivesse seguido aquela linha, mas implicava um escrutínio às contas das instituições. E para mim foi exatamente isso que presidiu à não adoção dessa solução que seria muito mais interessante para os associados.

Acredito que com a competência e a qualidade da gestão do banco estaria exatamente na mesma situação do os outros, ou seja, usaria esse capital para resolver um conjunto de problemas, desde logo o crédito malparado, que foi o que a maior parte dos bancos fez, e depois lançava novas linhas de negócio com uma gestão mais criteriosa do risco. E os resultados estão aí: toda a banca que pediu essa ajuda está recuperada e voltou aos lucros. O Montepio é um banco tão sólido quanto os melhores, cumpre todos os requisitos do Banco de Portugal mas está sem capital para fazer negócio. E a matéria-prima de um banco é o capital e a credibilidade. 

E é o único que apresentou perdas…

Continua a apresentar resultados negativos e tudo o que está relacionado com a produtividade de serviços e de produtos. Infelizmente o Banco Montepio ainda compara muito mal com o resto da banca e não consigo perceber porquê. É inexplicável.

Na apresentação da candidatura defendeu a abertura do capital do banco a um parceiro de longo prazo….

Com a informação que temos só vai ser possível recuperar a instituição e reconstruir o Montepio com todo o tipo de ajudas. Em relação à abertura do capital, o que tentei transmitir, na altura, é que não estamos minimamente fechados a isso e entendemos que dificilmente não passará por aí. E passando por aí, o que dizemos é que se for um parceiro de economia social é perfeito, há um alinhamento muito mais imediato, mas não tem que ser.

Podem aparecer parceiros que não sejam da economia social, mas completamente alinhados com um caderno de encargos, para o qual temos um conjunto de ideias, e se forem condições melhores para a Associação Mutualista, para o banco e para o país – de preferência que não haja custos novos para os contribuintes, porque nós portugueses estamos cansados de custos de gestão incompetentes e assumir despesas de má gestão – é perfeito.

E um parceiro que traga novas ideias, que esteja alinhado com a Associação a longo prazo em termos de cuidados de prestação de saúde, no apoio à velhice em horizontes de 50/60/75 anos. Acredito que haja muitos parceiros nacionais e internacionais que estarão disponíveis, dentro da economia social e fora da economia social. Agora não vamos dizer que ‘só podem vir parceiros da economia social’.

Poderá desvirtuar o conceito?

E o conceito do Montepio já não está desvirtuado? O Banco Montepio durante um século e qualquer coisa esteve a servir a Associação Mutualista e de repente, numa vintena de anos, passou a ser a Associação Mutualista a servir o Banco Montepio e vimos este a competir com a banca de retalho, sem ter em mente que é um banco que devia estar preocupado em servir os associados. O que precisamos é exatamente o contrário: um parceiro que esteja alinhado a longo prazo, que nos ajude a recuperar o banco para a mutualidade.

E em que sentido? Olhar para a oferta que ficou parada no tempo e perguntar aos associados quais são as suas preocupações que são muito diferentes de há 30 ou 40 anos. É isso que precisamos, de um parceiro que olhe para o caderno de encargos e diga ‘estou disponível para ser vosso parceiro’.

Mas a maioria do capital pertenceria a quem?

O Banco Montepio é detido em 99,9% pela Associação Mutualista. Não vamos vender o banco porque há um conjunto de responsabilidades que terão de ser assumidas por todas as partes. A Associação Mutualista terá sempre a maioria do capital e a maioria dos votos. E, como tal, a última palavra na gestão. Mas há uma série de instituições financeiras que têm vários interesses no conselho de administração e que funcionam bem. Isso não é peregrino.

É totalmente exequível, o que é preciso é que qualquer parceiro que zele pela sua reputação olhe para o outro lado e veja um equipa idónea, competente, credível e independente. É completamente impossível nos dias de hoje com as exigências do compliance de qualquer entidade de referência internacional sentar-se à mesa com a atual administração ou com Pedro Alves.

Um parceiro para injetar dinheiro?

Tem havido um grande empenho das últimas administrações em recuperar todos aqueles créditos e financiamentos com análises de risco difíceis de explicar e os rácios de capital estão perfeitamente enquadrados com as exigências do Banco de Portugal. Só que agora falta o dinheiro para trabalhar.

O que é que precisamos? Há duas componentes absolutamente importantes: temos 2,4 mil milhões de euros de capitais dos associados no Banco Montepio, precisamos de recuperar esses capitais e as mais-valias que foram prometidas aos associados e depois os 900 milhões de euros de crédito malparado também têm de ser resolvidos e qualquer que seja a solução implica capital.

Então o que precisamos é de um parceiro que olhe para nós e que veja que existe um banco, com uma rede de balcões, com um conjunto de clientes – dos quais, muitos são associados da Associação Mutualista – com o nome Montepio. Sem pressões externas e com as entidades públicas a fazerem parte da solução tenho a certeza que com o tempo adequado teremos um leque de parceiros para escolher. 

O banco será atrativo?

Se olharmos apenas para a componente financeira percebo que isso possa parecer estranho. Mas para quem olha para o grupo percebe que não é estranho porque o Banco Montepio é uma marca fortíssima e é por isso que ainda nos mantemos no mercado, muito credível, mas toda a elasticidade tem o seu limite.

A situação é dramática e temos de inverter, mas um parceiro de longo prazo não olha para o valor de mercado porque o banco não está cotado em bolsa, olha para o potencial de transformar ideias em negócios e ter à partida uma rede de balcões, uma marca que é bicentenária e ter um conjunto de clientes. 

A instabilidade em torno da Associação levou à fuga de produtos mutualistas?

Quando vimos a perda de associados que reportei sabemos que a perda só não é maior porque o banco tem sempre uma campanha de crédito à habitação e o número de associados aumenta. 

Mas esses produtos têm maior risco do que os depósitos a prazo…

Todos os investimentos são de risco, mas temos de perceber porque é que muitas pessoas se tornaram associadas e optaram pelo mutualismo e não por outra solução. Isso aconteceu porque são pessoas extremamente conservadoras e avessas ao risco.

O que lhes fizeram nos últimos anos foi uma traição, transformaram-nos não em aforradores conservadores que preferem rentabilidades menores, mas certas e acessíveis a quando chegarem à idade da reforma terem a sua poupança e agora o que é que têm? De todo o seu aforro, uma parte é pensão e a outra parte é este ativo virtual que são os ativos por impostos diferentes.

Mesmo se considerássemos que todo este ativo virtual fosse realizado tínhamos um capital próprio de 94 milhões de euros. Por aqui se vê a fragilidade da instituição. Não consigo conceber como é que Virgílio Lima se volta a candidatar. Perdemos 62% dos capitais próprios em três anos. O que defendemos é criar um ecossistema mutualista, em que uma pessoa que vá a qualquer um dos sites da instituição perceba que entra num ecossistema, em que há um conjunto de ofertas integradas.

Daí falar em situação dramática…

Mas volto a dizer que há uma grande diferença de há três anos para cá. Nas últimas eleições, várias pessoas disseram isso, eu particular enquanto da lista B, só que agora temos os relatórios que são públicos, de um auditor de referência internacional independente que escreve preto no branco que a continuidade da instituição está em causa. Se de hoje para amanhã esta instituição sofrer qualquer trauma que a inviabiliza ninguém pode dizer que ficou surpreendido com esta situação. 

Como vê o fecho de balcões e o despedimento de cerca de 400 trabalhadores?

Com muita tristeza, mas também com muita surpresa porque nas Assembleias-gerais ouvíamos mais uma daquelas promessas de Virgílio Lima de que é o único banco que não pediu ajudas e é o único que não despede. E isto resultou em quê? Em perda de associados, perda de capitais, perda de credibilidade. O que é que tem acontecido aos seguros nos últimos três anos? Foram os melhores anos da indústria seguradora em Portugal. O que aconteceu á banca? Recuperou completamente a questão dos créditos malparados e mesmo com a situação das moratórias voltaram aos lucros. O que é que aconteceu a todo o grupo Montepio? Contraiu. Como é que é possível que áreas de negócios distintas tenham contraído? Leva a que não haja dinheiro para pagar salários e decide-se cortar cabeças, que pode ser muito difícil na perspetiva humana, mas é a solução mais fácil de uma direção incompetente.

Mas acha que é fácil perceber o conceito do mutualismo?

Mudou muito com o tempo, como é evidente. Quando a Associação Mutualista nasce, e durante muitos anos, a grande preocupação é que as pessoas conseguissem aforrar para o seu funeral. Sei que isto hoje pode parecer um pouco estranho, mas durante muitos anos foi assim. Passados quatro anos surge o banco para permitir aos associados que tivessem acesso a serviços de bancos que eram serviços muito caros e muito pouca gente tinha acesso.

Hoje em dia tudo mudou. O Estado veio suprir através de um sistema de providência social muitas das necessidades que fazia com que as pessoas se aproximassem do mutualismo, mas a realidade é que nem o Estado, nem as empresas privadas suprimem todas as necessidades que podem surgir em termos de ciclo de vida. Hoje olhamos para Portugal, um dos países mais envelhecidos do mundo, e percebemos que há novas necessidades que a sociedade não está a ser capaz de responder. E o mutualismo é a resposta para isso. Um dos exemplos que está no nosso programa é que tudo o que tenha a ver com cuidados continuados na velhice e o Montepio está a responder de forma muitíssimo incompleta. 

E de forma cara…

Porque não está a cumprir com a sua função de Associação Mutualista. A missão é mostrar às pessoas que têm agora 20/25/30 anos que podem com muito baixo custo começar a fazer um conjunto de aforros para garantir todas estas situações. Não faz sentido uma Associação Mutualista não ter um produto que é o equivalente no mercado que se chama doenças graves.

Também não faz sentido que os associados que vão ter os seus filhos a estudar em Lisboa, no Porto ou em Coimbra e precisam de uma residência, esta só está acessível a quem tem posses elevadas e que esteja disponível para estar a pagar mais de dois mil euros por mês.

Qual é a solução?

Primeiro perceber quais são as preocupações dos associados e uma das coisas que nos propomos fazer logo de início é um inquérito aos associados e perceber exatamente quais são as suas preocupações. O conceito de família mudou imenso, o conceito de viver a velhice também e há um conjunto de considerações que neste momento a Associação Mutualista não pode ficar alheia.

E ao contrário de outras instituições, temos acesso a essas pessoas, sabemos onde é que elas estão e o estilo de oferta que podemos fazer a essas pessoas. O Montepio Geral tem de voltar a olhar para o ciclo de vida dos seus associados e estes têm de ter acesso a uma solução integrada dentro do Montepio. 

É essa a aposta da lista B?

Primeiro perceber quais são as preocupações dos associados e provavelmente as preocupações passam pela habitação, pela saúde e pela formação. E fazer uma aposta integrada, o Montepio tem condições para resolver todas estas questões ao mesmo tempo. Não precisamos de nos limitar a apenas a uma das áreas. Com a capacidade instalada do Montepio não compreendo porque é que só temos de olhar só para a habitação ou só para a saúde. É pararmos um bocadinho para pensar no que é que os associados querem e perceber onde está a oferta e o que pode faltar. E depois comunicar isso aos associados.

Também já acenou com a realização de uma auditoria forense…

Um dos aspetos absolutamente essenciais antes de chegar a todas estas entidades públicas que têm participado na solução é falar com os auditores independentes e explicar porque é que as contas têm um conjunto de situações menos transparente. Depois de um aviso com esta gravidade queremos perceber com eles como é que se materializa este aviso.

E se chegarmos à conclusão que há um conjunto de situações que merecem outro estilo de atenção não fechamos a porta a uma auditoria forense. Não vamos abdicar disso, se há responsabilidades que estão além de uma má gestão ou de uma gestão danosa como está patente nas contas e se há uma situação que exige outro estilo de abordagem que nos permita recuperar os capitais e acelerar todo este processo não vamos deixar de fazer isso. Votei contra as contas com uma declaração de voto, por isso, tenho toda a liberdade para pôr em causa um conjunto de situações que para mim não estão claras. 

Outra das alterações diz respeito à criação de uma Assembleia de Representes e que vai contar com elementos de várias listas…

Esse é um aspeto que altera bastante a vida da instituição. Ao contrário do conselho fiscal, do conselho de administração e da mesa da Assembleia-geral que são eleitos em bloco – quem ganha elege os órgãos – o único órgão que não é eleito neste formato é a Assembleia de Representantes que é através do método Hondt.

Esta assembleia tem um objetivo completamente diferente do antigo conselho geral que foi extinto há um ano e que tinha uma série de cargos por inerência relativamente à lista que ganhava e dava algum controlo do órgão, mas tinha a função consultiva. Agora a Assembleia de Representantes é um órgão totalmente diferente. É de fiscalização dos atos de gestão, é um órgão de avaliação de prestação do conselho de administração e que vai deliberar sobre as contas. 

Vai dificultar mais? 

Compreendo que pareça desse modo, mas se sairmos um bocadinho deste enquadramento que é a Associação Mutualista e olharmos para outras instituições que têm vários acionistas, quando há as assembleias de acionistas há muitos interesses em disputa e votam de acordo com a sua percentagem e as instituições estão vivas. No nosso caso, as administrações tinham a faca e o queijo na mão, não tinham impedimentos de qualquer espécie, e os resultados estão visíveis. Se formos competentes, se formos credíveis não temos que ter medo do escrutínio e é o melhor que se podia fazer.