Uma comissão!

Denunciar um agressor sexual, qualquer que ele seja, é um bem para si, porque, aos poucos, se vai libertando do penso que carregou durante anos, mas também um bem para a sociedade.

Aconferência episcopal portuguesa decidiu apresentar, na última quinta-feira, a equipa que irá coordenar o estudo sobre a ‘real’ dimensão dos problemas de pedofilia em Portugal. 

É uma boa notícia? 

Claro! Em todo o caso, independentemente dos ressoltados, é o princípio do fim, isto é, neste momento quer sejam muitos, quer sejam poucos os casos em Portugal e no mundo, o que importará é dizer, quanto possível, o número de casos. 

Não outra forma de matar a comunicação do que dizer a verdade possível. Digo verdade possível, porque parece que a verdade, neste campo, tem muitas encarnações e sabemos que as vítimas vão demorar muito tempo a ganharem coragem a falar.

Denunciar um agressor sexual, qualquer que ele seja, é um bem para si, porque, aos poucos, se vai libertando do penso que carregou durante anos, mas também um bem para a sociedade. Um bem para a sociedade, porque nós precisamos de nos sentirmos seguros e a denúncia é a única forma de chegarmos a essa segurança.

Jesus diz, a certa altura: «Quem pratica a verdade aproxima-se da luz para as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus» (Jo 3, 19). É curioso que, neste texto, Jesus apresenta a verdade como uma ação, isto é, quem ‘pratica’ a verdade. Quem vive conforme à verdade, isto é, que não tem vida dupla, aproxima-se da luz, porque não teme que as suas obras sejam conhecidas. 

Penso, também, que todos nós temos telhados de vidro e, portanto, muitos de nós vivemos carregados de pecados. No entanto, se praticamos a verdade, mesmo que tenhamos os nossos pecados, não temos medo que estes sejam conhecidos, porque sabemos que o que vem à luz é luz, ou seja, só aquilo que vem à luz é que pode ser curado.

Mas Jesus ainda diz mais: «Quem pratica más ações odeia a luz» (Jo 3, 19). As más ações aqui são contrárias à verdade e, portanto, sabemos que a verdade é uma boa ação e não uma ideia, aquilo que Madre Teresa de Calcutá diria como ‘love in action’, isto é, o amor em ação.

É isto que precisamos de ter todos, um amor imenso à verdade e, sem medo de perdermos a reputação, de nos aproximarmos todos da luz e deixarmos que seja ela a curar.

Qual luz? Jesus diz, também, “a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que luz, porque eram más as suas obras” (Jo 3, 19). Ele próprio tinha dito que «Deus enviou o seu filho ao mundo para que o mundo fosse salvo por meio dele» (Jo 3, 18).

É isto que precisamos de saber! No final de 2022, quando saírem os resultados deste estudo, encomendado pela conferência episcopal portuguesa, teremos uma grande dor na Igreja por ver a dor de tantos homens e mulheres escondida durante décadas. No entanto, virá à luz a real dimensão do problema e, desta forma, salvar quem quer que seja das angústias escondidas e solitárias.

Eu acredito profundamente que este período será para todos, na Igreja e fora dela, um momento em que a luz mostrará o seu poder e a sua força. Conhecer a verdade é praticar a verdade, sem medo.

Haverá muitas vítimas em Portugal? Haverá poucas? 

Não sei!

Lembro-me do que disse uma vez o Papa Bento XVI, quando veio a Portugal: «A misericórdia não dispensa a justiça». Todos merecemos a misericórdia. A justiça, no entanto, é o princípio da cura para agressores e agredidos, mas também para milhares de padres que, em cada dia, continuam a trabalhar para o bem de uma comunidade tão grande como é a comunidade católica, mas que transborda para o serviço de tantos homens e de tantas mulheres que, não tendo fé, recebem as bênçãos e os serviços da própria Igreja.