As maiorias silenciosas

Quem se move nas estruturas dos partidos tem de compreender que as melhores oposições não são aquelas que gritam mais alto, as que escolhem fazer valer os seus argumentos pelo tom exacerbado que utilizam…

Por Alexandre Faria 
Escritor, advogado e presidente do Estoril Praia

A credito que o fenómeno mais complexo de estudar reside nas maiorias silenciosas, aquelas que decidem eleições e que não se sujeitam aos arbítrios dos viciados aparelhos partidários, cada vez mais condicionados pelas suas visões interesseiras pessoais, desfasados pela sua natureza das preocupações que os transcendem. Nem sempre se manifestam, mas quando o fazem, surpreendem pela sua visão clarificadora.

São estas maiorias, de militantes ou de cidadãos em geral, que elegem candidatos ou governos nacionais e locais, não se revelando à primeira vista, alheias aos olhares atentos dos alegados fazedores de opinião ou dos supostos especialistas que tudo preveem.

Na realidade, apesar de alguns insistirem, de modo a esconderem as suas debilidades, estes especialistas não existem. Nada conseguem adivinhar, porque os movimentos subterrâneos das maiorias silenciosas são imprevisíveis. Não são reféns de concelhias, de distritais ou de orientações nacionais dos partidos. Ficam apenas por ali com a sua opinião já formada, à espera do momento do seu voto, a sua arma no subterfúgio, e sorriem complacentes às investidas dos caciques. De nada lhes serve, porque a sua decisão não será alterada.

O caminho para essa tomada de decisão foi pessoal e íntimo. Privilegiam cada vez mais a educação nos candidatos, a sua formação pessoal, respeitam a elevação dos cargos a que se propõem e reconhecem a boa educação no discurso e nas suas atitudes. Ao contrário do que muitos pensam, optam pela tolerância, pela defesa da agenda comum e repudiam os séquitos acéfalos que se recusam a pensar por si próprios.

É esta a enorme dificuldade dos aparelhos partidários. A imprevisibilidade das maiorias que não transparecem nas sondagens, aquelas que rejeitam orientações sectárias impostas. E que se mantêm errantes, inconstantes e indomáveis. Ou seja, tudo aquilo que os controladores abominam.

Quem se move nas estruturas dos partidos também tem de compreender que as melhores oposições não são aquelas que gritam mais alto, as que escolhem fazer valer os seus argumentos pelo tom exacerbado que utilizam. Na inteligência, na sapiência e na coerência numa aposta consolidada ao longo dos tempos, devidamente apoiada, escondem-se as melhores ferramentas para o reconhecimento junto das maiorias silenciosas. As que decidem tudo e que surgem quando é necessário.

Nas noites eleitorais, estas maiorias não celebram em êxtase. Afinal, não estão habituadas a agitar bandeiras e apenas fizeram o que lhes competia. Escolheram livremente a sua opção, imbuídas do espírito democrático no qual se reveem, valorizando o que consideram mais relevante para as suas vidas, a escolha da melhor solução de governabilidade e a garantia de estabilidade.