Visita guiada

Por Nélson Mateus e Alice Vieira Querida avó, Nem imaginas a quantidade de gente que me ligou por não acreditar que fosses tu a autora da letra da música Orgulho em ser uma vaca da Rua Sésamo. Para terminar a minha visita à Terceira decidi, no último dia, fazer uma visita guiada à Ilha. Não…

Por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,

Nem imaginas a quantidade de gente que me ligou por não acreditar que fosses tu a autora da letra da música Orgulho em ser uma vaca da Rua Sésamo.

Para terminar a minha visita à Terceira decidi, no último dia, fazer uma visita guiada à Ilha.

Não vais acreditar, o Guilherme Manaças, o guia que me levou a conhecer a ilha, é bisneto do fundador da Casa do Preto, a famosa casa de queijadas de Sintra. Sabes como gosto de histórias de avós e netos.

O Guilherme Manaças (guia da Angratravel), levou-me ao Monte Brasil, ao Algar do Carvão, à Gruta do Natal, às Furnas de Enxofre, aos Biscoitos e muito mais. O Miradouro da Serra do Cume é dos locais mais belos (e ventosos) onde estive até hoje. Do cimo deste miradouro, quando o tempo permite, obtém-se uma vista espetacular para a belíssima “manta de retalhos”, que é a divisão dos campos agrícolas. Realmente não podia terminar a minha visita de forma mais espetacular.

Tu, que já andaste pela Terceira várias vezes, visitaste tudo isto?

Certamente ouviste falar do D. António Prior do Crato, da lenda de Brianda Pereira, da Batalha da Salga e muito mais. As vacas (e os bois) açorianos já fazem história há muitos séculos.

Aposto que não sabes é o que é a Roupa de Alma. Aprendi por lá que era uma tradição fúnebre, que praticamente já ninguém conhece.

Não imaginas as vezes que também ouvi falar da Maria Vieira (não estou a falar da “Parrachita”). Uma história macabra de uma menina que hoje tem uma ermida, e, segundo o que me disseram, aguardam que seja santificada pelo Vaticano.

Falando de coisas alegres! Tenho que voltar à Terceira no próximo ano. Não imaginas a quantidade de pessoas que solicitaram tertúlias sobre o nosso “Diário da avó e do neto”.

Quero explorar melhor a Praia da Vitória. Estive em frente à linda Casa das Tias de Vitorino Nemésio, mas já estava fechada.

É hoje que me vais contar tudo sobre a Violante do Canto?  

Bjs

Querido neto,                                                                                  

Tens razão, Angra é uma cidade cheia de histórias.       

Para mim, a mais importante de todas é a de D. Violante do Canto.

Nos teus passeios pela cidade deves ter visto edifícios, lápides que assinalam lugares por onde andou. De certeza que ainda por lá se encontra a placa que a classifica como «exemplo sublime de virtudes patrióticas na defesa do rei português D.António I». E aí deves ter possivelmente pensado que estavas num país estrangeiro. D. António I?? Mas qual D.António I??

Já lá vamos.

Em 2008 o Governo Regional dos Açores convidou vários autores a escreverem obras sobre heróis ou figuras importantes da região. Olhei para a lista que me deram e nenhum me dizia nada ou, os que me diziam, já tinham sido “tomados” por outros escritores.

Então – e, confesso, mais por ser uma mulher – escolhi Violante do Canto, de quem eu não sabia absolutamente nada.

Fui para Angra fazer investigações e fiquei fascinada. Claro que não vou aqui contar a história toda.

Violante do Canto nasceu em 1556 e pertencia a uma família rica da cidade de Angra. Desde sempre o pai a ensinou a amar a pátria acima de tudo. A menina ouvia falar do rei D.Sebastião, quase uma criança (mais velho que ela apenas dois anos) e que não parecia muto interessado em arranjar sucessor. Quando o rei morre e o rei de Espanha se perfila para invadir Portugal, Violante acha que é tempo de intervir. Entre os pretendentes ao trono havia um português, D. António, Prior do Crato. E ela pensou que ele era a única salvação do reino. Juntou-se a ele, pôs toda a sua fortuna nas suas mãos e, durante dois anos, em Angra, D. António foi rei de Portugal. Deliberou, fez leis, cunhou moeda. 

 Até que os castelhanos invadem a cidade, D.Violante é presa e enviada para Castela onde – para que o castigo ainda fosse maior, foi obrigada a casar com um português traidor à pátria.     

Isto é apenas um ligeiro resumo da sua vida, mas se quiseres um dia conto-te os pormenores

Fica bem.          

Bjs